"Levante e brilhe!". É com essa frase que a dedicada, e em determinados momentos insuportável, mãe Amanda Wingfield (Cássia Kiss) acorda diariamente seu filho Tom (Kiko Mascarenhas) no espetáculo "O Zoológico de Vidro". Entretanto, o ar de otimismo do "bom dia" da tagarela e controladora mãe não se encaixa ao clima instaurado na casa dos personagens do texto do norte-americano Tennessee Williams (1911-1983). Ulysses Cruz assina a direção da montagem.
No palco, Tom se apresenta como o narrador. É ele que leva os espectadores ao mundo dessa família que vive em meados dos anos 1930, época em que apontavam os primeiros sinais do fim da depressão econômica.
A mãe, Amanda, foi abandonada pelo marido, que marca presença no espetáculo através de uma foto, e busca agora um parceiro para sua filha, a tímida e insegura Laura (Karen Coelho). Para ajudá-la, dá ao rebelde filho a missão de encontrar um homem decente e que não beba.
Tom é o alicerce da família, mas parece não suportar mais esse peso. Para se distrair, passa todo seu tempo livre em cinemas e escrevendo poemas. Seu trabalho em uma oficina não o interessa e o que ele quer mesmo é ir para longe dali. Talvez pelo desejo de se libertar, ele resolve colaborar com a mãe --que já deixou claro que ele só poderá ficar livre quando resolver a situação da irmã.
Um fator importante são os indícios autobiográficos da peça. A família de Tennessee Williams, principalmente sua irmã, que tinha esquizofrenia, são apontados como inspiração para a obra.
No texto, a origem da retração de Laura está intimamente ligada a um problema em sua perna, que faz com ela manque. Essa condição ainda é responsável pelo abandono da escola e pela falta de contato com o mundo.
Assim, sua grande diversão é um conjunto de pequenos animais feitos de vidro. É essa coleção que dá origem ao nome do espetáculo, "The Glass Menagerie", que nessa versão foi adaptado para "O Zoológico de Vidro". Vale ressaltar que a peça já foi montada no Brasil anteriormente, sob o nome de "À Margem da Vida".
A falta de perspectiva da família e a relação tensa que os une não impede que o riso venha fácil. Boas tiradas, um elenco que convence e um texto capaz de retratar magnificamente a personalidade e os desejos dos personagens são responsáveis pela solidez da montagem.
O espetáculo permanece em cartaz até 1º de março, com apresentações às sextas-feiras, sábados e domingos, no teatro Anchieta, do Sesc Consolação (região central de São Paulo).
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Direção: Ulysses Cruz. Duração: 110 minutos. Não recomendado para menores de 14 anos. | Leia mais no roteiro |
As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações |
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