Grupo Galpão comemora 30 anos com mostra e peças na rua

Talvez uma exceção à regra, o Grupo Galpão mantém, após 30 anos de estrada, um repertório coeso e diverso, que se renova sempre.

Crédito: Guto Muniz/Divulgação Grupo Galpão em cena de seu clássico "Romeu e Julieta" (de 1992), que abre a programação da mostra

Não é simples. "Estamos constantemente no fio da navalha. Temos que ter uma força coletiva e satisfazer também aos projetos individuais dos integrantes", explica Eduardo Moreira, ator e um dos fundadores do grupo.

Um pouco da variedade buscada pela companhia --que não possui um diretor e costuma convidar parceiros para a função-- está na mostra Grupo Galpão - 30 Anos de Teatro e Vida.

"Romeu e Julieta", versão para obra de Shakespeare, dá início neste sábado (28) à programação, com apresentações no parque da Juventude (zona norte de São Paulo) e, nas próximas semanas, no Sesc Belenzinho (zona leste) e no parque da Independência (zona sul).

Dirigida por Gabriel Villela, a peça de 1992 marcou a trajetória da trupe. A obra leva barroquismos da cultura popular à tragédia do jovem casal criado pelo bardo inglês. "Foi uma produção de tanto sucesso que trazê-la de volta chegou a dar um frio na barriga", relata Moreira.

Na sequência, o coletivo mostra "Tio Vânia (aos que Vierem Depois de Nós)", "Till, a Saga de um Herói Torto" e a estreia "Eclipse" (leia mais abaixo). São espetáculos com linguagens e formatos variados -de montagens festivas de rua a obras intimistas no palco tradicional.


ROMEU, JULIETA E A VERANEIO
A perua Veraneio 1974 que compõe o cenário de "Romeu e Julieta" é a mesma usada desde a primeira montagem da peça. O veículo tem história. Foi adquirido pelo grupo em 1988 e era usado como transporte em turnês. Quando foi convidado a trabalhar com a companhia, o diretor Gabriel Villela viu a perua e decidiu que ela faria parte da nova peça, sem sequer saber qual espetáculo iria montar. A trupe fez, então, experimentações com a Veraneio a partir de cinco textos. Até decidir que a obra de Shakespeare seria a vencedora.

PRÓXIMOS PROJETOS
Para o ano que vem, o grupo prepara uma montagem de "Gigantes da Montanha", de Luigi Pirandello, e repete a parceria com o diretor Gabriel Villela. A peça fala de uma companhia mambembe que aporta em um vilarejo para encenar o texto de um poeta morto, sem saber o que esperar do público. Sim, a trama conversa com a história do próprio Galpão, mas o que atraiu a trupe foi outra característica da obra: a discussão que ela promove sobre o lugar da poesia no mundo.


RAIO-X DO GRUPO

Fundação
Criado em novembro de 1982, em Belo Horizonte, por cinco atores (Teuda Bara, Eduardo Moreira, Wanda Fernandes, Antonio Edison e Fernando Linhares) que participaram de oficinas na cidade ministradas pelo Teatro Livre de Munique (Alemanha)

Pesquisa
A trupe é conhecida pelas montagens de rua, pela pesquisa da cultura popular e pela forte comunicação com o público. Mas o grupo já se aventurou em peças mais intimistas e feitas no palco tradicional, como "Tio Vânia" (2011)

Direção
O grupo não possui um diretor e sempre chama encenadores convidados. Mas, em algumas peças, atores da trupe se arriscam na função

Espetáculos
20 peças no repertório

Internacional
Apresentações em 18 países, inclusive no Shakespeare's Globe (em 2000 e neste ano), em Londres, com "Romeu e Julieta"

Estrutura
Tem quase 20 funcionários, além de seus 13 atores


BAÚ DO GALPÃO


1982
"E a Noiva Não Quer Casar" espetáculo de rua que marca a fundação da trupe

1988
"Corra Enquanto É Tempo" a música ao vivo tocada pelos atores surge nas peças

1990
"Álbum de Família" montagem dá guinada no estilo de trabalho da companhia

1992
"Romeu e Julieta" foi apresentado mais tarde no Shakespeare's Globe, em Londres

1994
"A Rua da Amargura" ganhou prêmios como Shell, Molière e Mambembe e foi adaptada para a TV

2003
"O Inspetor Geral", primeira peça do grupo dirigida por Paulo José, encenador parceiro

2011
"Eclipse" mais recente trabalho, espetáculo encerra as pesquisas da trupe sobre Tchékhov

2012
"Grupo Galpão - 30 Anos de Teatro e Vida" mostra traz quatro peças do repertório do grupo


OUTRAS PEÇAS DA MOSTRA

18 a 22/8
Till, a Saga de um Herói Torto
A peça de 2009 é uma das incursões do Galpão na direção interna -Júlio Maciel, ator do grupo, assume a função. Montagem de rua que traz as marcantes referências populares da trupe, a obra fala de Till, alma que é abandonada no mundo mortal, onde percebe que é preciso ser um enganador para sobreviver.

Tio Vânia (aos que Vierem Depois de Nós)
Dirigida pela também mineira Yara de Novaes, a companhia volta a encenar o texto de Tchékhov, que conta a história de Vânia, um homem cinquentão que se dá conta da passagem do tempo e da irrelevância da sua vida. A encenação, de 2011, tem um tom mais intimista e é calcada na psicologia dos personagens.

Eclipse
Mais recente trabalho do Galpão, apresentado pela primeira vez em Belo Horizonte no fim de 2011.
A montagem é baseada em peças e contos de Tchékhov. A encenação foge do naturalismo e flerta com o absurdo. Jurij Alschitz, diretor russo radicado em Berlim, é o responsável pela direção.

Crédito: Guto Muniz/Divulgação Os atores Antonio Edson, Fernanda Vianna, Arildo de Barros e Mariana Lima Muniz em "Tio Vânia"


O QUE DIZEM OS PARCEIROS DO GALPÃO

"Eles trazem tudo o que fazem para sua aldeia, Minas Gerais. E, assim, conseguem ser universais"
Gabriel Villela, que dirigiu o grupo em "Romeu e Julieta" (1992) e "A Rua da Amargura" (1994)

"O Galpão é único e um bom exemplo não só para o teatro brasileiro, mas para o mundo. Eles criaram um estilo próprio, mas sempre buscam mais"
Jurij Alschitz, diretor de "Eclipse" (2011)

"São desbravadores. Um grupo que ama a arte teatral e que faz do teatro uma profissão de fé"
Yara de Novaes, que dirigiu "Tio Vânia (aos que Vierem Depois de Nós)" (2011)

"O Galpão é um grupo que só faz teatro de aventura. Sua grandeza está na persistência e na procura do frescor todos os dias. Uma escola"
Cacá Carvalho, diretor de "Partido" (1999)

"Os atores do Galpão toparam, às cegas, a aventura de fazer [o filme] "Moscou". O processo foi mágico. Um prazer trabalhar com eles"
Eduardo Coutinho, que dirigiu o documentário "Moscou" (2009)

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