Peça interativa sobre democracia quase termina em 'revolução'

Durante sua passagem por São Paulo, uma produção teatral que simula uma democracia esteve perto de terminar com uma revolução feita pelo público, que usava controles remotos para dar sua opinião.

Na montagem espanhola "Pendente de Voto", os espectadores são convidados a votar sobre diversos temas, como a possibilidade de barrar atrasados ou universalizar o aborto.

A proposta da peça, que funciona como uma espécie de jogo, é fazer a plateia experimentar o funcionamento de um parlamento. A sessão que foi marcada por desentendimentos ocorreu no Sesc Pompeia na sexta (6).

Na segunda parte do espetáculo, circulam microfones para que as pessoas argumentem sobre seus pontos de vista. A pergunta "O Estado brasileiro deveria restituir as terras aos povos amazônicos para que possam declarar sua independência?" exaltou os ânimos.


Alguns participantes defenderam que a palavra "independência" devia ser trocada por "autonomia" e tentaram convencer todos a se abster da votação caso a mudança não fosse feita. Eles se levantaram e foram até o local onde estavam os organizadores pedir a mudança.

Quando a equipe disse que as questões não poderiam ser editadas, várias pessoas se revoltaram e tentaram convencer todos a abandonar a peça, pois se sentiam "manipuladas pelo sistema".

Também foi defendida a ideia de que quem não votasse com a maioria seria banido da sala.

Em seguida, alguns espectadores se sentiram injustiçados por terem de dividir seu voto com outra pessoa, deixaram os assentos e foram protestar no centro do espaço.

Em dado momento, a plateia é dividida em duplas, de acordo com a afinidade que demonstraram ao votar. Cada par recebe apenas um controle, e ambos precisam entrar em consenso sobre cada questão.

O impasse durou mais de 20 minutos. A independência dos índios foi negada pela maioria quando finalmente foi a voto. Depois disso, muitos dos cerca de 70 espectadores deixaram a sessão.

Parte da plateia tinha participado de um debate sobre política antes de ver a montagem, o que pode explicar os ânimos acirrados, avalia Andrea Caruso, curadora do projeto Multitude, que trouxe a peça a São Paulo.

"Essa situação já ocorreu em algumas outras sessões. O propósito da peça é justamente questionar as escolhas feitas com base em sim e não e demonstrar como esse sistema permite manipulações. Isso fica claro ao fim do espetáculo", conta a curadora.

Depois de passar por São Paulo, "Pendente de Voto" será apresentada no Sesc Santos na quarta (14) e no Sesc Rio Preto no sábado (14).

Sem atores em cena, a produção foi criada em 2012 pelo espanhol Roger Bernat e passou por vários países. Ao chegar, o público recebe controles e passa a votar. Os resultados direcionam o fluxo do espetáculo.

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais