Ator que estreou peça contra o PT diz que sofre boicote; leia entrevista

FABIANA SERAGUSA
DE SÃO PAULO

18/06/2013

19h21

O ator Paulo Coronato queria desabafar, falar o que pensa sobre política e compartilhar sua opinião com o maior número possível de pessoas. Por isso criou a peça "PTolerância Zero", que estreou dia 11 de maio e segue em cartaz até 29 de junho no Teatro Renaissance (zona oeste de São Paulo), com sessões aos sábados, às 19h, e ingressos a R$ 60.

Durante cerca de 1 hora, ele fala, sempre em tom de ironia, sobre o mensalão, sobre as acusações contra os petistas, sobre o "não sabia de nada" do ex-presidente e outros escândalos políticos. A história se passa em uma associação chamada APA (Antipetistas Anônimos), fundada por um antipetista convicto que se comove com a paixão de Lula pelo Corinthians e acaba "forçado" a mudar de lado.

Por conta do tema, Coronato diz que está sofrendo "patrulhamento" do partido, inclusive com o cancelamento repentino de entrevistas, e que "sabia que sofreria boicote". "Quem não reza pela cartilha do PT não consegue nada", disse.

Ele também conta que vários amigos chegaram a lhe dizer que "correria risco de vida" com a realização desse espetáculo, que isso "era uma loucura". Se ele tem medo? "Sei dos riscos e procuro estar preparado. Espero qualquer coisa dessa quadrilha que comanda o PT."

Procurada, a assessoria do PT, representada pelo secretário Edmilson Souza, diz que "a Secretaria Nacional de Cultura do PT reafirma o compromisso histórico do Partido dos Trabalhadores em defesa da liberdade de expressão em todas as suas formas. Não existe e nunca existiu nenhuma orientação partidária, em nenhuma das instâncias do PT, que proponha tal prática descrita pelo ator".

Abaixo, leia a entrevista com Paulo Coronato, que fala mais sobre essa acusação de boicote.

Informe-se sobre a peça

LEIA ENTREVISTA COM PAULO CORONATO:

Guia Folha - Você disse que sua peça está sofrendo patrulhamento do PT. Por que acha isso? O que ocorreu?
Paulo Coronato - O patrulhamento é quase sempre branco, velado, ninguém quer perder anúncios do governo, e todos sabem que, se publicarem algo que contrarie os interesses do PT, serão retaliados. Esse é o "modus operandi" petista. Todo mundo sabe, quase todo mundo aceita. Na cultura, o grau de aparelhamento é de praticamente 100%, quem não reza pela cartilha do PT não consegue nada.

E às vezes esse patrulhamento branco se explicita, como no caso de uma grande rádio de São Paulo, que, depois de uma entrevista agendada com a repórter, cancelou [a conversa] por ordem "superior". Tenho mais casos de cancelamentos, este é o mais emblemático, por se tratar de uma grande rádio de São Paulo, supostamente independente. Até órgãos de imprensa, favoráveis, fazem vista grossa.

Você esperava esse tipo de ação?
Quando comentava com amigos sobre "PTolerância Zero" vários me disseram que eu corria risco de vida, que era uma loucura. Com certeza é uma loucura, sabia que sofreria boicote, patrulhamento. Um grande ator amigo meu me disse que adora meus posts no Facebook, mas não tem coragem de curtir, muito menos compartilhar. Várias pessoas já me disseram coisas parecidas. As pessoas têm medo de se colocar em oposição ao PT. Daí a eficácia do patrulhamento.

Sofreu alguma ameaça?
Não. Apenas esse patrulhamento que falei anteriormente. "PTolerância Zero" é uma peça de resistência, feita com recursos próprios e ajuda de alguns parceiros, eles não têm como me pressionar economicamente. Por enquanto apenas patrulham e torcem para que eu saia de cartaz.

Tomou alguma providência?
Como disse o ministro Gilmar Mendes, quando foi achacado por Lula, para adiar o julgamento do mensalão: "O presidente Lula está cercado por 'gângsters'". Sei que estou lidando com bandidos chapa-branca, quem discorda do esquema, como Celso Daniel ou o Toninho de Campinas, morrem. Isso é fato. Sei dos riscos e procuro estar preparado. Espero qualquer coisa dessa quadrilha que comanda o PT.

Você acha que, na peça, é muito duro em suas provocações?
Não. A peça é uma ironia. Não escrevo para todo mundo gostar, não estou dialogando com todos, e a oposição que a peça sofre é reflexo de sua própria vitalidade. Aquilo que o Lula chama de "a elite conservadora" eu chamo de "meu público".