Antonio Fagundes estreia peça sobre surdez universal ao lado do filho Bruno

"Ser preconceituoso é ser surdo", diz Antonio Fagundes, que aborda questões como falta de amor e aceitação em sua nova peça "Tribos", que estreia neste domingo (dia 15) no Tuca (zona oeste de São Paulo).

Ele interpreta Christopher, pai do jovem Billy (vivido por seu filho Bruno Fagundes), que nasceu surdo e luta para se adaptar a um ambiente familiar nada convencional.

Quando o rapaz conhece Sylvia (Arieta Corrêa), uma moça prestes a perder a audição, passa a entender o que é se sentir realmente parte de algum lugar.

"'Tribos' nos faz pensar na surdez universal daqueles que são incapazes de entender uma realidade diferente da sua", afirma Fagundes pai, que divide o palco com o filho pela segunda vez --a primeira foi em "Vermelho".

Crédito: Jairo Goldflus/Divulgação Antonio Fagundes e seu filho Bruno Fagundes (à esq.) estão na peça "Tribos", que estreia neste domingo (dia 15) no Teatro Tuca

Para fazer Billy, Bruno teve que estudar durante meses a linguagem dos sinais e entender a vida silenciosa dessa personagem. "É uma língua complexa, cheia de nuances, e os movimentos exigem uma precisão assustadora", conta o ator, que acha que a peça vai fazer "o público refletir sobre sua maneira de 'ouvir' o mundo".

O texto premiado de Nina Raine, que mostra as limitações do ser humano, ganha tradução de Rachel Ripani e direção de Ulysses Cruz. Completam o elenco mais três atores: Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek.

A peça fica em cartaz de sexta a domingo, e os ingressos custam R$ 50 e R$ 60.

Abaixo, leia um bate-papo com Antonio e Bruno Fagundes.

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BATE-PAPO COM ANTONIO FAGUNDES

Guia Folha - O que a peça mudou em você? O que te fez achar que valia a pena levar essa história pros palcos?
Antonio Fagundes - Acredito que uma boa história sempre pode ser levada para os palcos. O texto de Nina Raine é bastante instigante e atual. Toda peça nos modifica e acaba colocando em xeque questões morais, de ética. O que eu faria se pertencesse a essa família? De que lado ficaria? Essa reflexão traz muito autoconhecimento.

"Vermelho" era uma peça forte que fazia o público pensar e questionar várias coisas. "Tribos" provoca isso da mesma forma?
De uma outra forma. "Tribos" nos faz pensar na surdez universal daqueles que são incapazes de entender uma realidade diferente da sua. A peça aborda a questão do preconceito, da aceitação, da falta de amor e das relações familiares de uma maneira muito rica e bem-humorada. Se você tirar o surdo e colocar qualquer outra pessoa, seja um negro ou um judeu, o texto seria a mesma coisa. Ser preconceituoso é ser surdo. Acredito que essa discussão é extremamente pertinente para o tempo em que vivemos.


ENTREVISTA COM BRUNO FAGUNDES

Guia Folha - O que você acha que essa peça vai causar no público?
Bruno Fagundes - Acredito que "Tribos" tem um poder modificador, mas no mínimo curioso. As discussões e os pontos de vista são apresentados de maneiras tão inéditas e interessantes que vão acabar (espero) fazendo o público refletir sobre sua maneira de "ouvir" o mundo. Estamos fazendo nosso melhor para que a experiência teatral leve-os à diversão plena. Rindo, emocionados, intrigados, sensibilizados. Estou muito curioso para ver qual será a reação.

Você interpreta um rapaz surdo. Foi difícil? O que deu mais trabalho?
Fazer o Billy tem sido um enorme desafio. O primeiro grande obstáculo foi tentar imaginar como é ter a audição prejudicada, já que é um dos nossos sentidos mais poderosos. O segundo grande desafio foi a busca mais apurada, quase técnica, de como a surdez nos modifica. A fala, a visão, a percepção espaço-visual, isso mexe muito com o nosso organismo, com nossa forma de se relacionar e de enxergar os outros. Entender qual é a vida interna silenciosa desse personagem. Mas talvez meu maior desafio foi aprender a língua de sinais. É como aprender mandarim. É uma língua complexa, cheia de nuances, e os movimentos exigem uma precisão assustadora. Estou há alguns meses estudando diariamente.


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