A ditadura militar no Brasil tem sido tema de muitos documentários. Há ao menos uma obra-prima, “Cabra Marcado para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho, e uma série de filmes muito bons, como o recente “Soldados do Araguaia” (2017), de Belisário Franca.
Por outro lado, existem poucas ficções aptas a refletir sobre o impacto do regime autoritário na vida brasileira. “Hoje” (2011), de Tata Amaral, é dos raros casos bem-sucedidos.
"Deslembro” é muito bem-vindo, portanto. O filme, dirigido por Flavia Castro, está entre os mais relevantes da 42ª Mostra pela capacidade de apresentar, sem panfletagens, como a brutalidade política pode afetar a vida de uma garota que começa a descobrir o mundo.
Nascida no Rio de Janeiro, a adolescente Joana (Jeanne Boudier) vive em Paris entre amigas, livros e músicas. Quando a anistia é decretada no Brasil, sua família resolve voltar ao país, o que a deixa indignada. Depois da mudança, Joana toma contato com histórias do seu pai, morto anos antes pelos agentes da ditadura militar.
A cineasta retrata com lucidez os obstáculos habituais da adolescência, que se somam à estranheza do país novo e, principalmente, ao trágico destino familiar.
Depois de se destacar com o documentário “Diário de uma Busca” (2010), Flavia Castro faz uma grande estreia na ficção com “Deslembro”, um filme que recolhe memórias obscuras do nosso passado recente para iluminar o presente.
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