Filmes da Mostra destrincham pluralidade LGBT para além das orientações sexuais

Longas nacionais e estrangeiros trazem à tona inesperados sentidos políticos sob o viés da diversidade

São Paulo

Diversidade é uma palavra tão genérica que pode abranger muito mais do que as sexualidades, afetos e imagens geralmente identificados pela sigla LGBT. Os filmes que representam múltiplas formas de gozar não se resumem apenas às orientações sexuais, pois também carregam dramas sociais e políticos comuns a qualquer indivíduo.

Os percursos de rapazes que transam com rapazes, de garotas que amam garotas e as histórias de vida de pessoas trans nos levam da Guatemala a Taiwan, do Brasil profundo ao Quênia, da zona rural peruana à periferia urbana espanhola.

A pluralização de horizontes geográficos e culturais não é, porém, o único apelo de uma maratona cinematográfica como a Mostra. Ela permite enxergar nas distâncias o que aproxima e torna comum, inoculando em cada filme um inesperado sentido político.

José”, filmado na Guatemala pelo chinês Li Cheng, acompanha o cotidiano de um jovem criado pela avó numa grande cidade igual às nossas. Seus movimentos em busca de sexo e de afeto são também registros da precariedade, do trabalho avulso e da pobreza material.

Rafiki”, primeiro filme da queniana Wanuri Kahiu, e “Carmen & Lola”, da espanhola Arantxa Echevarria, coincidem no tema da irrupção de um desejo que transgride as regras do grupo. Apesar da vitalidade do trabalho de suas jovens atrizes, a preferência das diretoras por formas narrativas muito convencionais amortece o resultado.

O peruano “Retablo”, por sua vez, alcança um belo equilíbrio entre questão e representação com a história de um garoto que surpreende o pai em uma situação sexual com outro homem. A partir daí, ele passa a viver o conflito dos próprios desejos com o ambiente rural moralista.

Os corpos são o epicentro de “Tinta Bruta”, segundo longa dos gaúchos Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, e de “Não me Toque”, da romena Adina Pintilie, premiado com o Urso de Ouro em Berlim. Em ambos, o sexo mostra-se como um esforço sofrido de encontrar o outro, tentativas de perfurar a bolha e escapar do nada.

Na contramão do pessimismo, os documentários “Fabiana” e “Cassandro el Exotico!” acompanham uma caminhoneira trans e um lutador crossdresser que convivem em espaços sociais considerados machistas. Suas vivências e seus modos de amar são potentes afirmações de que a intolerância pode destruir quase tudo, menos a resistência.

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