Lee Chang-dong, nome da emergência do cinema sul-coreano nos anos 1990, tornou-se um cineasta raro. Após a estreia tardia aos 43 anos, ele reduziu o ritmo quando assumiu de 2003 a 2004 o cargo de ministro da Cultura de seu país. “Em Chamas”, postulante sul-coreano ao Oscar, quebra um jejum de oito anos e traz de volta seu olhar ao mesmo tempo afetuoso e duro sobre nosso mal-estar.
Na narrativa, adaptada de um conto do escritor japonês Haruki Murakami, o diretor usa um fiapo de intriga de triângulo amoroso entre três jovens para tecer uma formidável indagação sobre a realidade e a ilusão, a frustração e o ressentimento, e constrói junto uma alegoria sobre o fantasma da Coreia dividida em duas, prontas para se destruir.
A tensão latente ganha corpo na ambientação em Panju, cidade próxima da região desmilitarizada entre o Sul e o Norte, enquanto os lapsos narrativos nos impõem dúvidas cada vez maiores. Nesse terreno movediço, o cinema de Lee traduz o sentimento tão contemporâneo de estar onipresente e ausente, assim como a expectativa por um acontecimento em que quase mais ninguém acredita.
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