Lenda do tênis, paratleta e craque bobão estão entre os destaques esportivos da Mostra

Documentários mostram vida dos atletas para além das competições

São Paulo

Oito anos são dois ciclos olímpicos. Também é o tempo estimado de vida para quem é diagnosticado com atrofia de múltiplos sistemas, uma doença neurológica degenerativa, que paralisa os músculos à medida em que evolui. Para a nadadora Susana Schnarndorf Ribeiro, que chegou a participar do Iron Man antes de ser acometida pela doença, os oito anos já ficaram para trás.

Um Dia para Susana” mostra a luta da paratleta para competir e, quem sabe, ganhar uma medalha na Paraolimpíada do Rio-2016. O documentário de Giovanna Giovanini e Rodrigo Boecker equilibra a rotina de treinos de Susana com sua vida familiar —seus três filhos moram com o pai desde que ela foi diagnosticada com a doença—, sem apelar para o quadro clínico, que poderia tornar o filme muito mais piegas. O drama de Susana é justamente conseguir uma reclassificação dos organizadores dos Jogos para competir com igualdade, já que a cada ano sua capacidade de mobilidade diminui. O filme acompanha três anos da trajetória da protagonista —também retratada em “Paratodos”.

A 42ª Mostra revela em outro documentário a rotina de um atleta no auge de sua forma física, o genioso tenista americano John McEnroe —interpretado por Shia LaBeouf no recente “Borg vs. McEnroe”. No entanto, ao contrário da ficção, focada no épico duelo final de Wimbledom, em 1980, em “John McEnroe: No Império da Perfeição”, o diretor francês Julien Faraut relembra a temporada quase perfeita de 1984, a melhor de um tenista na proporção vitória/derrota (82 a 3) —feito não alcançado nem por Federer ou Nadal. Aqui, o principal destaque é a campanha em Roland Garros, que culmina com a batalha na final contra Ivan Lendl. Claro, não faltam os pitis clássicos, marca registrada de McEnroe.

Em vibe menos competitiva, o documentário “Futebol Infinito”, do romeno Corneliu Porumboiu, parece não levar muito a sério seu protagonista, Laurențiu, que sofreu algumas contusões na juventude e defende ideias revolucionárias para mudar o esporte bretão.

Não é a primeira incursão nesta chave do premiado diretor de “12:08 A Leste de Bucareste”. Em “The Second Game” (2008), ele documentou uma conversa com o próprio pai, que lembra de um jogo disputado sob neve no qual ele foi o árbitro.

Para completar o quarteto ofensivo da Mostra, uma ficção: “Diamantino”. Coprodução luso-brasileira, o filme de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt acompanha o melhor jogador do mundo, um português que adora o próprio corpo (como um Cris Ronaldo raiz), não se relaciona com mulheres e tem uma inteligência limitada —não sabe se os refugiados vêm da África ou do Canadá, só sabe que quer adotar um. Entre o lúdico, o brega e o surreal, esse ingênuo craque é explorado pelas irmãs, usado pelo governo como peça de propaganda e ainda participa de perigosos experimentos hormonais. São 92 minutos —dois de acréscimo, Arnaldo?— divertidos que valem o ingresso, mais do que muito jogo.

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