CRÍTICA: Filme recria vida de Van Gogh com animações que simulam quadros do artista

Cena da animação 'Com Amor, Van Gogh'
Cena da animação 'Com Amor, Van Gogh' - Divulgação


COM AMOR, VAN GOGH (bom)
(Loving Vincent) 
DIREÇÃO Dorota Kobiela e Hugh Welchman
PRODUÇÃO Polônia/Reino Unido, 2017. 95 min. 12 anos
Veja salas e horários de exibição.


A ideia de recriar momentos da vida de Van Gogh (1853-1890) por meio de animações que simulam quadros do artista holandês é um daqueles projetos que geram dois tipos mistos de reação.

A primeira vem na pergunta: por que ninguém pensou nisso antes? A segunda é: será que isso pode dar certo?

"Com Amor, Van Gogh", projeto que reúne as habilidades como animadores da polonesa Dorota Kobiela e do britânico Hugh Welchman, regentes de um batalhão de 150 artistas, tem tudo para atrair o público que se satisfaz com banquetes visuais.

Durante 95 minutos, o longa põe em movimento o estilo nervoso das pinceladas de Van Gogh em imagens que reconstituem a obra arquiconhecida do pintor.

O efeito, tecnicamente impactante, intensifica o prazer imediato de reconhecer dezenas de telas transformadas em cenários e ações e de ver personagens e temas de Van Gogh ganharem "vida" por meio do movimento cinemático que caracteriza o próprio cinema.

Esse tipo de satisfação sensorial, porém, costuma se esgotar rapidamente, perdendo-se no acúmulo e pedindo outros modos capazes de manter nossa atenção.

A ideia dos realizadores e também roteiristas foi sustentar o fluxo visual com uma trama que mistura informações factuais da biografia do artista e uma investigação acerca da tentativa de suicídio que culminou na morte dele, em 1890, aos 37 anos.

O passado traumático de Van Gogh, anterior a seu trabalho como artista, ressurge em flashbacks em preto e branco, assim como a evocação de fatos feita por personagens que ele retratou, como o dr. Paul Gachet e o comerciante de tintas Julien Tanguy.

Já a exuberância cromática dos quadros reaparece ao longo de toda a investigação que o jovem Armand Roulin faz para decifrar o fim trágico do artista.

O artifício narrativo, no entanto, acaba se revelando como nada mais que uma muleta, pois o roteiro não decide se segue o rumo da cinebiografia tradicional ou se investe na reinvenção dos fatos.

Essa fragilidade, contudo, não deve incomodar os que vão se embriagar com a intensidade sensorial do filme e não se preocupar se, além disso, ele oferece alguma consistência.

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