Crítica: Com receitas familiares, casa se inspira na cozinha imigrante

Aberto no final de novembro passado, o Hospedaria foi uma boa surpresa para a Mooca –e também para os paulistanos. Ocupa um galpão rústico e charmoso em diálogo com a comida que é servida ali – farta, de traços familiares, bonita aos olhos, ainda que bruta, sem fru-frus.

Para montar o cardápio, Fellipe Zanuto (d'A Pizza da Mooca) buscou referências na cozinha que se desenvolveu na antiga São Paulo pelos imigrantes –conversou com avós, remexeu livros velhos de receita em parceria com o Museu da Imigração, trouxe receitas de sua casa (e da casa de outros membros da equipe).

Na partida, vale provar a linguiça grelhada na brasa (R$ 28), delicada e com bom teor de gordura, servida com pão de milho, picles de pepino (este, quase neutro, traria mais equilíbrio ao prato se fosse mais ácido) e mostarda –a geleia de cebola prometida no cardápio não deu as caras. Os bolinhos de arroz, apesar da fritura caprichada (sequinha e crocante), precisam ser mergulhados na maionese picante para ganhar graça –o arroz tem cremosidade, mas falta pujança no sabor (R$ 24).

Pappardelle à bolonhesa do Hospedaria
Pappardelle à bolonhesa do Hospedaria - Wellington Nemeth/Divulgação

Duas preciosidades: o risoto de imigrante (R$ 42), inspirado no arroz de forno, e o pappardelle –à bolonhesa (R$ 38) ambos servidos fumegantes. No primeiro, o arroz-agulhinha ganha umidade na presença de nacos suculentos de frango e porco. Legumes viçosos, firmes e deliciosamente tostados, e ovo mole, que reforça a cremosidade do prato, incrementam o conjunto –o queijo meia cura, porém, derretido e pedaçudo, fica borrachudo e incômodo de mastigar.

A massa, feita na casa, larga e achatada, vem embalada em um molho denso, respeitável, com carne suína e bovina. Sua finalização no forno a lenha gera o clímax: beiradas crocantes, quase queimadas.

Ambiente do Hospedaria, na Mooca
Ambiente do Hospedaria, na Mooca - Divulgação

Parecem deslocadas as sobremesas, a exemplo da musse de chocolate sobre bolo de chocolate (R$ 24), que não conversa com a proposta da casa e nem fala ao coração.

É muito simpática a ideia de trazer uma carta só de vinhos brasileiros –e há bons exemplares. Mas a garrafa mais cara da carta, um delicado e suave pinot  noir de Santa Catarina (R$ 146), cresceria se chegasse à mesa ligeiramente refrescado.

Fiquemos atentos: deve haver mudanças no cardápio –em pratos e preços. O milho, por exemplo, símbolo da cozinha caipira, deve surgir entre as novidades, na espiga, besuntado em emulsão de manteiga. Esperemos, torcendo para que haja mais representantes também dessa cozinha paulista esquecida, que remonta à história dos tropeiros e dos bandeirantes.

Avaliação: bom

R. Borges de Figueiredo, 82, Mooca, região leste, tel. 2291-5629. 72 lugares. Ter. a sex.: 12h às 15h. Sáb. e dom.: 12h às 17h.

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