É nítido o duplo sentido no nome do novo bar Cordial, casa de coquetéis recém-inaugurada na rua Epitácio Pessoa, na região da República. Para além do adjetivo, cordial também é um tipo de xarope de frutas com sabor cítrico, podendo ou não ter álcool, que ali é feito pelo próprio barman e serve de base para todos os drinques oferecidos na carta.
"No cordial de carambola, por exemplo, vamos intercalando camadas de açúcar e fruta, como se fosse uma lasanha. Depois de dois dias descansando, o suco é extraído e usamos para fazer o coquetel", conta Gabriel Santana, sócio do novo estabelecimento e nome por trás do Santana, outro ótimo lugar de coquetéis, no bairro de Pinheiros, na capital paulista.
O cordial de carambola se junta a uma dose de rum infusionado com manga tommy, outra dose de limão-taiti e pimenta-da-jamaica, para compor o Hora Bolas (R$ 29), uma versão bem refrescante e aromática de daiquiri, que é um dos mais vendidos pela casa.
O Spicy Tommy´s Melancia (R$ 37), uma variação da margarita, leva tequila com um xarope de melancia, pimenta biquinho, coentro e as bordas da taça enfeitadas com sal. Os sabores da pimenta e do coentro podem ser notados no coquetel e complementam o dulçor da fruta com a tequila, um dos melhores drinques do cardápio. A casa também oferece opções de mocktails com rum e gim sem álcool feitos no próprio bar.
A inovação, no entanto, não fica só na coquetelaria. O Cordial oferece um cardápio interessante de petiscos. No menu elaborado pelo chef Fabio Moon, o pão de queijo com kimchi (R$ 9), com massa e recheio preparados na cozinha, e os pastéis de picadinho (R$ 22), com patinho em pedaços e ovo cozido, são os principais destaques.
Quase tudo é excelente. Um porém é o Manhattan em SP (R$ 42), releitura do clássico Manhattan, feito com bourbon, cachaça envelhecida, vermute de abacaxi e bitter de cacau, que seria um excelente coquetel, não fosse o fato de ser servido em copo baixo com gelo em cubos pequenos —o drinque fica aguado depois do terceiro gole.
O mesmo problema aparece no Amargo do Bando (R$ 42), à base de gim, amaro, jerez fino e Frangelico, que, além de ficar insosso por causa do gelo, precisa ter as proporções dos componentes readequadas, visto que só se sente o forte sabor de avelãs do licor.
Não só pela qualidade de quase todos os coquetéis, o Cordial chama a atenção também pelo visual. O projeto de reforma transformou um antigo boteco pé sujo do centro num espaço que reverencia a arquitetura dos edifícios clássicos na vizinhança. As paredes e o balcão, por exemplo, usam o mesmo tom e corte de madeira do saguão do Copan, do outro lado da rua, e as pedras portuguesas do lado de fora se estendem para o interior, fazendo do piso do bar uma extensão da calçada.
"Queríamos trazer o clássico de São Paulo", afirma Santana, um dos sócios do bar, acrescentando que fez questão de manter os azulejos e fez uma iluminação semelhante à do antigo boteco que ficava ali. "A nossa proposta era respeitar o que já existia para criar um bar e uma carta de coquetéis mais acessível."
No futuro, Santana pretende facilitar a operação do bar com tonéis de drinques previamente ou parcialmente feitos. Segundo ele, isso agilizaria o serviço, além de diminuir o preço dos coquetéis para o cliente, nos mesmos moldes de uma cervejaria ou de um bar de vinhos.
Na mesma rua do bar Regô e a poucas quadras da Casa do Porco, juntando um ambiente agradável a ótimos coquetéis, o Cordial surge como uma boa opção no centro de São Paulo.
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