Escrevi aqui recentemente do meu tédio em visitar restaurantes japoneses moderninhos nos quais, já ao entrar, sentimos a atmosfera tomada pelos odores dos gases liberados pelos maçaricos e dos “azeites trufados”.
A primeira impressão positiva transmitida pelo pequenino Kuro é a ausência destes odores —que para os padrões de hoje até combinariam com o lugar, que é chique (fica no coração dos Jardins) e tem bela decoração moderna.
São apenas 22 lugares entre o balcão no térreo e o andar superior. Embora entre os sushimen predominem descendentes de orientais, curiosamente não há japoneses na cúpula da casa. O proprietário é Davide Bernacca, o mesmo dos italianos Bottega Bernacca (mas também do Geiko-San); e o responsável pela comida é o chef-executivo de todo o grupo, o espanhol Gerard Barberan.
Ainda assim o resultado revela preocupação com a autenticidade e é de grande qualidade.
No lugar de salmão no sushi, a opção é por peixes de pesca de bons fornecedores e atum bluefin importado de origem sustentável. Para tostar levemente alguns peixes gordos, em vez de maçarico, o endereço usa carvão japonês em brasa, que fica charmosamente crepitando no balcão.
Existe um pequeno cardápio à la carte, com sushis (como beijupirá ao curry, R$ 12) e opções quentes, como guioza de peito de pato (R$ 32, três unidades).
Mas a experiência mais interessante é o omakassê, o menu-degustação. Há três, dois de 13 etapas e a outro de 21, com preços que variam com o número de pratos e os ingredientes —R$ 260, R$ 300 e R$ 350.
Na opção mais ambiciosa há de tudo o melhor. Os sushis têm arroz às vezes pouco ligado, comprometendo sua montagem, mas não o sabor. O tempura sem glúten, com farinha de milho e arroz, fica longe da leve trama da receita original.
Mas são parte de um desfile que apresenta iguarias como carpaccio de wagyu, ovo caipira, flor de sal, molho ponzu e broto de agrião; tartar de camarão com caviar; barriga de porco cozida com molho agridoce; sashimi de olhete com gergelim e de bluefin; sushis de tainha com umebochi, de serra com gengibre e ciboulette, de magret de pato com molho tarê, e de toro de bluefin marcado pelo carvão. Está de muito bom tamanho.
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