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No Borgo Mooca, hype não se converte em boa comida

Quando a melhor coisa do jantar são os brócolis que acompanham um dos pratos, algo está errado

São Paulo

"Sua escolha de horário, das 19h ou 19h30, permitirá uma permanência até as 21h30."

O "aviso importante" foi enviado por WhatsApp pelo Borgo Mooca, após a confirmação da reserva. Soa rude e o impulso é desmarcar. Mas aí você reconsidera. Quem sabe a comida seja tão boa a ponto de dar vontade de invadir a cozinha, lamber a panela de demi-glace e morar ali para sempre.

Essa ideia ganha força quando você lê o cardápio. O panteão dos ingredientes nobres está quase todo lá: trufas, foie gras, vieiras, carne wagyu. Altas expectativas se instalam.

Aí chega o primeiro pedido: carne cruda & vol-au-vent (R$ 88). Uma linda gema curada coroa essa entrada de filé-mignon cru cortado em cubinhos sobre queijo cremoso e pó de cogumelo porcini.

Um prato gourmet apresenta uma fatia de pão coberta com carne crua picada, um ovo de gema em cima e um creme branco. O prato é decorado com ervas picadas e um pó marrom ao redor. Ao fundo, há copos de bebida e uma mesa com uma toalha de cor clara.
Carne cruda do restaurante Borgo Mooca - Priscila Pastre/Folhapress

Altas expectativas se multiplicam. Mas aí você começa a mastigar. E tudo parece ter a mesma textura. A massa folhada é quase tão fria quanto o restante, e falta crocância. O resultado é enjoativo. E as expectativas murcham. Mas pode ter sido uma falha pontual. Então, aos pratos!

O bife à Wellington (R$ 158) soa como uma escolha necessária. Primeiro, porque é um paradigma do esmero gastronômico, geralmente feito por chefs que podem provar que são capazes.

Os principais desafios no preparo deste prato estão em não encharcar a massa folhada que envolve a carne, e acertar o ponto de cocção —com o interior vermelho e suculento.

Durante a visita, a receita também se destacava no menu com duas outras opções —uma preparada com foie gras (R$ 228) e outra com foie gras e trufas (R$ 280). A primeira versão, que foi a escolhida, chega à mesa com boa apresentação. No interior, o ponto está correto e a carne não encharca a massa folhada. Mas as qualidades terminam aí.

A proteína chega fria e falta-lhe suculência. A textura é borrachenta, difícil de mastigar. A presumida umidade do pobre filé-mignon parece ter sido sugada, e as expectativas se convertem em decepção.

No setor das massas, a experiência é parecida. O raviolo de bacalhau (R$ 98) tem massa fresca, feita na casa. A gema escorre graciosamente no primeiro corte. Mas o recheio de lascas de bacalhau descrito no menu parece ficar só na promessa.

Figura como um creme que pode ter sido feito com um bacalhau desfiado qualquer. O destaque do prato, ironicamente, fica por conta dos dois brócolis chamuscados que o acompanham. Saborosos e crocantes.

No fim da refeição, a cozinha faz lembrar a mensagem enviada no momento da reserva. Não que essa seja prática incomum, só foi feita de forma deseducada, que soa pretensiosa —um clima que destoa dos comentários e posts descolados nas redes sociais.

Quanto ao horário limite para deixar a casa? Ele não foi mencionado pelo serviço, aliás, simpático e atento. Às 21h30, a casa tinha apenas 6 das 15 mesas ocupadas.

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