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Restaurantes

Lemon, na região norte, se arrisca em cozinha inventiva no Limão sem dominar o básico

Releituras equivocadas de receitas consagradas e erros básicos de execução minam potencial de restaurante de bairro da região norte

São Paulo

Nas redes sociais, o Lemon conta que seu objetivo é levar uma boa gastronomia ao bairro do Limão, na região norte de São Paulo. Nesse contexto, o que se esperava encontrar era um restaurante local com comida bem feita.

De antemão, o menu já indica uma certa crise de identidade. Lista, ao mesmo tempo, preparos como taco, ceviche, sassaki, risoto, hambúrguer e pizza.

Um prato de risoto laranja, decorado com cubos brancos de queijo e pedaços de tomate, com um centro de pesto verde. O risoto está servido em um prato preto, com uma borda larga, sobre uma mesa de madeira.
Risoto de tomate no restaurante Lemon - Priscila Pastre/Folhapress

Em uma das visitas ao restaurante, provar o menu executivo (R$ 68) parecia uma boa alternativa para entender melhor seu funcionamento. A entrada foi croqueta de costela, que tinha muito recheio e pouco sabor. E o prato principal escolhido foi o risoto de tomate.

Antes que o prato chegasse, a atendente avisou que o ponto do arroz era al dente —muito melhor, aliás, do que receber uma papa. Mas ele estava mal cozido mesmo e, como consequência, o risoto não tinha a gostosa cremosidade característica. Os grãos pareciam pedrinhas, difíceis de mastigar e que grudavam nos dentes. Um prato difícil de engolir.

Em outra visita ao endereço, estava difícil montar uma refeição completa que fizesse sentido.

O garçom indicou começar pelo cannoli de salmão (R$ 38), seguido do arroz caldoso de camarão (R$ 85), o prato mais pedido da casa. Para encerrar, a sobremesa chamada lemon fruit (R$ 40).

Pedir uma entrada batizada com o nome da especialidade siciliana —que, originalmente, é uma massa tubular frita e recheada com uma ricota doce e macia— soou quase como uma heresia. E acabou sendo mesmo.

Pequenos tubos de uma massa fina e lisa chegaram recheados de um creme gelado e sem gosto. Segundo o menu, era uma mistura de salmão, coalhada seca e limão-siciliano. No fim, a referência ao doce não ajuda a vida de quem pede o prato a saber o que esperar.

O principal veio na sequência. Em cima do arroz e dos camarões, grandes bolotas brancas que, segundo o atendente, seriam de mascarpone, queijo italiano cremoso e suave. Ao lado, um pedaço de limão-siciliano grelhado. A ideia é espremê-lo, misturar tudo e, aí, sim, dar a primeira garfada.

O resultado é desastroso. O queijo é, na verdade, uma espuma que logo se liquefaz, encharcando e esfriando a receita. Os camarões estavam cozidos demais. E o arroz —que provado antes dessa mistura se revelava no ponto correto e envolto por um saboroso molho bisque— jazia em uma papa insípida.

Para encerrar, a sobremesa, em formato de limão, leva chocolate tingido de verde por fora e musse de limão por dentro. A casca grossa demais envolvia um recheio pastoso e, novamente, sem gosto. Depois da refeição, a impressão que fica é estar diante de uma cozinha que quer alçar voos altos demais sem antes oferecer o básico bem feito —que, talvez, mereça ser mais valorizado na cidade.

A sugestão para crianças (R$ 28) era o macarrão com molho vermelho e frango à milanesa, mas foi solicitada a mudança de massa por arroz —atendida sem problemas. Mas a proposta para acompanhar foi uma porção de fritas (R$ 20). Salada ou legumes seriam melhores para escoltar duas camadas grossas de massa com um fino frango espremido no meio. As fritas, porém, estavam boas

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