Cozinheiros abrem suas casas para almoços e jantares intimistas

Com a popularização da gastronomia em sites e programas de TV, cada vez mais pessoas cultivam o hábito de cozinhar e servir refeições elaboradas. Mas ter um restaurante sai caro. A solução para esses chefs amadores é promover jantares coletivos, reunindo amigos e estranhos em suas casas. Para os anfitriãos, é um jeito de transformar o hobby em ganha-pão. Para os clientes, um novo jeito –informal e coletivo– de comer fora.

É o caso das sete casas que o "Guia" apresenta a seguir. Gustavo Rigueiral e Larissa Januário abriram as portas do Jantar Secreto em 2014. O projeto deu tão certo que eles se mudaram para um imóvel maior onde recebem até 14 convidados quatro dias por mês.

Já a chef iraniana Nasrin Haddad Battaglia, do Amigo do Rei, cozinha para desconhecidos para promover a culinária de seu país. Ela e a família recebem convidados com pratos como a sopa de pistache iraniano desde 2012.

A interação entre cozinheiro e comensal é uma das atrações para os participantes. "Tem cliente que vira amigo", diz Gustavo Araújo, da Casa do Araújo. "Um deles vinha toda semana, mas virou um problema porque eu passava a madrugada bebendo com ele [risos]."

O contato entre chef e cliente é quase sempre feito via Facebook. Para preservar o caráter secreto dos jantares, os endereços só são divulgados depois da confirmação da reserva. Os preços variam bastante, de R$ 20, por petiscos, a R$ 200, por um menu completo.

Com a prática, surgiram também sites que promovem o encontro entre cozinheiros e gourmands. Basta selecionar local e data para ver quem são e o que oferecem os anfitriãos.

Isto não é um restaurante 
As regras de etiqueta de um jantar coletivo na casa de estranhos são um pouco diferentes das praticadas em um estabelecimento comum. Os anfitriãos contam o que é legal (e o que não é)

1- Avise com antecedência se houver mudança no número de pessoas

2- Cuidado com altura e tom de voz, principalmente em apartamentos

3- Observe o horário com bom senso: não dá para estender o jantar madrugada adentro

4- Tente cumprir o horário: não se atrase ou se adiante demais

5- Trate o anfitrião com cortesia –lembre-se: ele está abrindo a casa para você

6- Respeite os animais de estimação, quando houver

7- Peça alterações no menu com, no máximo, um dia de antecedência

8- Cumpra com a reserva: você não combina de ir à casa de alguém e deixa de aparecer

9- Respeite os horários de chegada e de saída 

10- Não utilize as áreas íntimas da casa sem a permissão do anfitrião

11- Não se esqueça de verificar a forma de pagamento

12- Esteja de coração aberto à experiência


CASA CHOPPANILDO
Quando morava em Recife (PE), Thiago Beltrão foi sócio de um restaurante e de um café. Em São Paulo desde 2007, o cozinheiro resolveu abraçar de vez a gastronomia e começou a servir refeições em casa há cerca de seis meses, depois de deixar um emprego como gerente de negócios.

Os primeiros clientes foram amigos. Depois, foram surgindo as indicações e, logo, desconhecidos podiam explorar o seu menu no site da Casa Choppanildo, na região central. O nome do local vem de seu coelho de estimação, que está sempre na sala, recebendo os comensais, enquanto Thiago prepara a refeição à vista de todos, na cozinha americana.

A qualquer dia da semana ele está disponível para abrir as portas de seu apartamento, para almoço ou jantar, para grupos de até seis pessoas –neste fim de ano, só não abre nos dias 24, 25, 30, 31 e 1º/1. Dá para escolher, antecipadamente, entre sete opções de menu, em três etapas, que custam entre R$ 57 e R$ 75.

Há massas (preparadas por Thiago), frango, peixe e, claro, pratos com tempero nordestino, como o baião de dois ou o arrumadinho de fraldinha. Para adoçar, dá para escolher entre musse de cupuaçu, suflê de chocolate ou cartola –sobremesa pernambucana que combina banana frita a queijo, manteiga e canela polvilhada.

O cozinheiro pede que os grupos escolham o mesmo prato principal –sobremesa e entrada podem variar.

Menu e reservas em casachoppanildo.com.

AMIGO DO REI 
A idílica Pasárgada, eternizada no poema de Manuel Bandeira, existiu. Foi capital da antiga Pérsia, atual Irã. É daí que vem o nome do Amigo do Rei, comandado pela "cadbanou" (equivalente a "chef" em farsi) Nasrin Haddad Battaglia. Iraniana e vivendo no Brasil desde 1990, ela comandou um restaurante de mesmo nome, e nos moldes tradicionais, em Paraty (RJ) e em Belo Horizonte (MG).

Ao chegar a São Paulo, em 2012, decidiu abrir as portas de sua casa, na zona sul, para os interessados em conhecer a culinária tradicional persa, sua especialidade. O jantar é servido de quarta a domingo, para até oito pessoas, na pequena e aconchegante sala do imóvel. Toda a família participa do ritual, comandado por Nasrin: o marido, Claudio, faz as vezes de anfitrião e a filha, Iramaya, apresenta o menu e serve os convidados. Há sempre algum dos moradores à mesa para conversar com os comensais. Um livreto explica os diferentes hábitos à mesa –corta-se com a colher, por exemplo– e um pouco da cultura iraniana.

Servido em três etapas, o menu (R$ 93) tem apenas um prato fixo –o fessenjam, esferas de carne servidas com molho de romã e nozes. Um arroz branco, bem soltinho, com toque de açafrão iraniano acompanha. Os outros pratos mudam todo mês. Entre os doces, a sobremesa oficial é a tâmara recheada com nozes, coberta com farinha de pistache e um toque de canela.

A casa funciona normalmente neste fim de ano –só não abre nos dias 24, 25, 31 e 1º/1.

Menu e reservas via facebook.com/amigodorei; contato@amigodorei.com.br ou WhatsApp: 98194-8190

CASA DO ARAÚJO 
Músico e publicitário de formação, o santista Gustavo Araújo começou a abrir a casa para amigos "pelo prazer de receber" em 2011. Não demorou para que a Casa do Araújo ganhasse o formato que tem hoje: os convidados se acomodam em mesinhas no quintal, à luz de velas, e beliscam os petiscos preparados pelo anfitrião. "A ideia é compartilhar tudo", diz.

A casa fica escondida em uma simpática e tranquila vila, na região sul. O clima ali é de reunião de amigos, com capacidade para até 25 pessoas. Araújo recebe os convidados, mas fica na cozinha. Quem faz as vezes de garçonete é sua amiga, Dani.

O menu, escrito nas paredes da casa, lista pratos com valores entre R$ 20 e R$ 60. O foco são os petiscos, com destaque para a fraldinha de sol, acompanhada de mandioca na manteiga de garrafa. Mas também aparecem dadinhos de tapioca, alheira e vinagrete de lula. O pão que acompanha os beliscos também é preparado pelo anfitrião, assim como uma das cervejas, a Benê, uma hoppy wheat, refrescante e de sabor frutado. Há ainda vinhos em garrafa e doses de uísque, cachaça ou rum. Na sobremesa, fique com o mil-folhas de doce de leite.

Gustavo abre as portas toda sexta e sábado. Ainda há vagas para este sábado (16). Depois, a casa entra em recesso e volta em 12/1.

Menu e reservas via facebook.com/casadoaraujo, gustavo@casadoaraujo.com ou WhatsApp 99492-7960

CENA COZINHA 
Em 2014, o peruano Victor López veio morar em São Paulo para trabalhar em uma empresa de tecnologia. Depois de algum tempo, o então publicitário, além de fotógrafo freelancer e cozinheiro de mão cheia, largou o emprego formal.

A vontade de ter um negócio em que pudesse cozinhar para os amigos o levou a criar, em 2015, o Cena, um serviço de "personal  chef" que inclui encomendas, workshops e jantares promovidos em sua casa.

Lá, oferece pratos típicos de seu país, como causas (purê de batata servido em bolinhas com recheios como frango com maionese e azeitonas), lomo saltado (filé-mignon flambado com cebola, alho, tomate, gengibre e shoyu) e, claro, ceviche. Entre os doces, há cheesecake com frutas amarelas.

Nos vários bairros onde morou, como Perdizes e Santa Cecília, Victor sempre abre as portas para o público. E mantém a rotina em sua nova casa, na região oeste. Os jantares, para grupos de seis a oito pessoas, acontecem sem data fixa, "pelo menos uma ou duas vezes por mês".

Os menus costumam ter três etapas –entrada, principal e sobremesa ou duas entradas e um principal. "A única coisa que não pode faltar é ceviche", diz.

O último jantar do ano está agendado para quinta (21).

Menu e reservas por facebook.com/cenacozinha, e-mail cenacozinha@gmail.com ou WhatsApp 97572-5421


OUTRAS PORTAS ABERTAS

Ateliê Culinário Vaca 
Chef da Padoca  Vegan, na Vila Madalena, e do Boteco Vegan, evento gastronômico itinerante, Kamili  Picoli começa a abrir as portas de sua casa, na região oeste, neste Natal e promove uma ceia sem produtos de origem animal no dia 24. Entre os pratos, há arroz negro com castanhas servido na moranga e torta de palmito. A partir de janeiro, os jantares acontecem todo fim de semana, com receitas veganas inspiradas na culinária sul-americana, como o bolinho do mar, feito com batata, algas, jaca e molho chileno pebre. 
Reservas por vacapretavegan@gmail.com ou WhatsApp 97169-9156

Casa do Nenê 
O professor de matemática aposentado Nenê Martins promove jantares temáticos em seu sobrado, na região central. Os principais frequentadores são amigos e amigos de amigos. As receitas variam de acordo com o tema escolhido pelo anfitrião: podem ser tailandesas, mexicanas, árabes e até nhoque da fortuna. Os pratos são servidos como menu-degustação e as etapas variam de acordo com a especialidade da noite. Os próximos eventos serão em janeiro. Para saber a programação, confira a página da casa no Facebook. 
Datas e reservas via goo.gl/i1RJCA ou WhatsApp 97545-0440

Jantar Secreto
O casal Larissa Januário, jornalista, e Gustavo Rigueiral, chef, deu início ao Jantar Secreto em 2014, como maneira de exercitar a veia criativa dele na cozinha. A proposta é oferecer menus fechados e variados –as receitas e local do jantar só são revelados no dia. "Já fizemos eventos em ateliês e estúdios fotográficos, mas recebemos muito em nossa casa também", diz Larissa. Os jantares têm data certa: sempre ocorrem na última semana de cada mês. Em dezembro, excepcionalmente, encerraram as atividades antes. Mas voltam em janeiro. As refeições saem, em média, a R$ 210 (o preço varia de acordo com o cardápio da noite). 
Datas, reservas e mais informações em jantarsecreto.com.


O que é legal

1- clima intimista

2- conhecer gente nova

3- possibilidade de provar sabores diferentes

4- experiência diferente da de um restaurante convencional

O que não é legal

1- não dá para mudar os planos em cima da hora –nem a reserva nem o menu

2- não costuma haver variedade de bebidas

3- os jantares podem sair mais caros do que refeições em restaurantes normais

4- nem todo anfitrião aceita cartão


SITES

DINNEER 
dinneer.com 
O site brasileiro com alcance mundial tem a proposta de ser uma espécie de Airbnb de comida, unindo anfitriãos e convidados em diversas cidades do mundo –só em São Paulo são mais de 3.000 anfitriãos. O público é formado por imigrantes atrás de sabores familiares, turistas e locais. Em janeiro, a plataforma organiza o evento Global Food Week (globalfoodweek.com), um festival com cozinheiros de vários países promovendo jantares fechados em São Paulo

EAT WITH 
eatwith.com 
Criada em Israel, a plataforma global tem modelo semelhante ao do Dinneer, unindo anfitriãos e clientes, e funciona em mais de 200 cidades do mundo –São Paulo é uma delas. O site permite ao usuário filtrar as casas por valor, tipo de cozinha (brasileira, indiana, peruana são opções ) e número de convidados. Entre as refeições disponíveis em dezembro, aparecem pratos baianos, como o arroz de Hauçá –arroz de coco, com camarão-seco, charque e azeite de dendê


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