É aprazível chegar ao Kitanda Brasil, a habitar uma morada de antigamente, de 1929, sentar-se à mesa e comer como se estivesse em casa. E, bem, de certa forma se está em casa —na de Tanea Romão, chef premiada que viveu 16 anos em Minas Gerais.
Ali, sobrevive um precioso clima interiorano. Antes de chegar ao salão com poucas mesas, avista-se de relance o quarto de Tanea e vive-se um ritual de volta ao passado, aos costumes do lar, louças Marinex desencontradas, talheres com cabo de plástico, uma toalhinha de chita, mesas meio mambembes, tudo leve e informal. Atenção, aliás: não tem garçom, quem cozinha serve —o atendimento é atrapalhado, mas carinhoso.
Tanea deixa transparecer o processo por que passa sua carreira —de se voltar mais para os sabores da infância, de cozinhar sem firulas e trazer referências simples, da roça.
Ela faz, pois, um prato por dia. Para um, custa R$ 28, com uma saladinha e sobremesa; para dois, R$ 48; para três, R$ 72. Nota-se a alegria dos que almoçam por ali —alguns, inclusive, pagam por mês um número de refeições. Mas ainda falta potência aos preparos e um tempero menos contido mais intenso, mais marcante, como lhe é peculiar. Tanea faz uso de zimbro, de gengibre, de pimenta-de-macaco —tinha tudo para brilhar, mas os sabores parecem reprimidos.
O feijão podia ser menos ralo, por exemplo; mais equilíbrio na presença de carboidratos. Num só dia, serviu-se salada de batata (cozida excessivamente, meio molenga e sem sal), uma macia e fumegante carne de panela com legumes e batata e, na sobremesa, uma sedutora mandioca cozida (levemente cremosa), besuntada em manteiga quente e açúcar.
Sai-se bem a moqueca de caju, com suave adocicado (a cebola fica no fogo até caramelizar), e um refogadão caprichado batido com leite de coco. Polvilhe a pimenta-de-cheiro servida à parte, ganha graça. Em sua companhia, vai à mesa uma farinha d'água hidratada com a mesma base, sem que perca a crocância.
O cafezinho (coado e servido em copo americano) é um pecado —ultraquente, concentrado e amargo.
Avaliação: regular
R. Catão, 893, Vila Romana, região oeste, tel. 94288-8007. 20 lugares. Ter. a dom.: 12h às 16h.
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