Na última semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que estabelecimentos comerciais poderão ficar abertos até a meia-noite e receber até 80% de sua capacidade.
A mudança, aguardada por um dos setores que mais foram impactados negativamente pela pandemia, gerou sentimentos opostos —muitos endereços da capital começaram a enxergar um cenário positivo economicamente, enquanto outros ainda veem com cautela e pessimismo os altos índices de contágio e mortes por Covid-19.
Facundo Guerra, proprietário do Bar dos Arcos, diz se sentir perdido com a decisão do governo. “Como um fiscal vai conseguir aferir que um bar está com 80% da capacidade? É impossível. Não faz sentido, mas quero crer que essas decisões são tomadas com critérios científicos”, diz.
Mas alguns estabelecimentos que vinham cambaleando desde o início da pandemia comemoram. “Meu faturamento subiu uns 40% desde que pudemos ficar abertos até as 23h”, conta Lilian Varella, proprietária do Drosophyla Bar. Ela diz estar ansiosa para que seu endereço volte a funcionar normalmente, sem qualquer restrição, mas que entende a importância da retomada ser feita a passos lentos.
A mudança anterior nas regras do plano de quarentena estadual ocorreu no dia 9 de julho, quando foi permitido que bares fechassem as portas às 23h e funcionassem com 60% de sua ocupação. Na época, alguns funcionários do setor se mostraram insatisfeitos com a decisão, alegando precisar de mais horas na noite para trabalhar, já que o setor é essencialmente noturno.
Apesar das mortes causadas pela pandemia, eles diziam também que, com um período maior de funcionamento, as casas conseguiriam espaçar o fluxo de atendimento e impedir aglomerações.
Desde domingo, dia 1º, o funcionamento foi estendido em uma hora e a capacidade subiu 20%.
Bruno Bocchese, proprietário do bar Fel, estima que seu faturamento deve aumentar cerca de 20% a partir desta semana. Já Guerra acha que a mudança no caixa do Bar dos Arcos vai ser mínima por causa da crise econômica que atingiu a população nos últimos meses. "As pessoas não têm o que comer, então também não têm dinheiro para gastar em bar", afirma.
A flexibilização foi motivada pelo avanço da vacinação —segundo o governo, mais de 75% dos adultos paulistas já foram vacinados com a primeira dose. Contudo, pouco mais de 25% da população completou o ciclo vacinal, com todas as doses do imunizante.
Apesar das obrigatoriedades de medidas contra a pandemia, como o distanciamento social e o uso de máscaras, ainda há a preocupação com o número de mortes no país e com a variante delta do coronavírus, que vem pressionando governos mundo afora.
A partir de 17 de agosto, os estabelecimentos comerciais de São Paulo terão suas regras novamente afrouxadas e poderão voltar a funcionar com 100% da capacidade máxima permitida.
Bocchese diz que o Fel toma os devidos cuidados, mas que não vê isso sendo feito em todos os estabelecimentos de São Paulo. "A única segurança que existe é o SUS, as vacinas e rezar para o seu Deus. Não existe espaço seguro", diz Guerra, do Bar dos Arcos.
O presidente do conselho estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo, a Abrasel-SP, Percival Maricato, diz que "o país está preparado para a retomada, mas que não se pode descartar totalmente uma recaída e o surgimento de uma nova variante".
Para ele, o setor de bares está confiante com a retomada. Especialistas, no entanto, dizem que o fim das restrições nos estabelecimentos comerciais precisa ser feito com cautela e que a pandemia ainda não está controlada.
Guerra, que precisou fechar o bar Z Carniceria em dezembro, acredita que os bares ainda vão enfrentar diferentes dificuldades nos próximos meses, como o parâmetro de excelência exigido pelo consumidor que não vai a bares desde antes da pandemia. “A gente está saindo de um estado de coma. O prato vai chegar atrasado e talvez o negroni não desperte a memória do drinque que o cliente bebia antes."
O Brasil ainda está com a média móvel de pouco menos de mil mortes diárias por dia. O país chegou a 557.359 óbitos e a 19.953.379 pessoas infectadas desde o início da pandemia. Se puder, evite sair de casa. Se decidir sair mesmo assim, use máscara, higienize as mãos e mantenha o distanciamento.
Bar dos Arcos
Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, República, região central. Instagram @bardosarcos
Drosophyla Bar
R. Nestor Pestana, 163, Consolação, região central, tel. (11) 3120-5525
Fel
Av. Ipiranga, 200, loja 69, República, região central, tel. (11) 3237-2215
Comentários
Ver todos os comentários