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Bares e noite

'Passaporte da vacina' é ignorado por bares e restaurantes de São Paulo

Sem obrigação da prefeitura, casas optam por não exigir comprovante dos clientes

Entrada do Fel, bar que fica nos pés do edifício Copan, no centro de São Paulo, e é uma das poucas casas paulistanas que irá exigir comprovante de vacinação por conta próprio

Entrada do Fel, bar que fica nos pés do edifício Copan, no centro de São Paulo, e é uma das poucas casas paulistanas que irá exigir comprovante de vacinação por conta próprio Coletivo Muto

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São Paulo

A Prefeitura de São Paulo até ensaiou emplacar a obrigatoriedade da vacina da Covid-19 para que as pessoas pudessem frequentar bares, restaurantes e outros estabelecimentos gastronômicos da cidade, mas voltou atrás da ideia de exigir que os clientes desses lugares mostrassem seus comprovantes de imunização na entrada.

Desde quarta-feira, dia 1°, apenas organizadores de eventos com mais de 500 pessoas deverão barrar quem não apresentar o “passaporte da vacina” —como tem sido chamado o comprovante, via aplicativo e-saúde ou cartão de vacinação, de ao menos uma dose do imunizante.

Ao contrário do que foi dito inicialmente pelo prefeito Ricardo Nunes, do MDB, os outros locais estão livres para pedir ou não os comprovantes. A medida é recomendada, mas não é obrigatória.

Livres da obrigação de filtrarem seus clientes de acordo com a picada no braço —ou a ausência dela—, quase a totalidade dos bares e restaurantes procurados pela reportagem decidiu não aderir ao “passaporte” e manter só as exigências da prefeitura. Hoje, é preciso manter distanciamento das mesas, todos devem ficar sentados e usar as máscaras enquanto não estiver comendo nem bebendo.

Alguns lugares afirmam que vão incentivar a vacinação de alguma forma. É o caso do D.O.M, de Alex Atala —que não deu detalhes sobre como será feito esse endosso. Também da Hanami Confeitaria, que dará uma bolacha no formato de jacaré até o fim de outubro para quem comprovar ao menos uma dose tomada.

Dos lugares ouvidos, o único que exigirá o “passaporte” é o Fel, bar nos pés do Copan, no centro da capital. O sócio Bruno Bocchese diz que só vê vantagens em adotar a medida. “Exigir a vacina é uma forma de proteger a equipe e os clientes, além de manter os negacionistas distantes”, afirma.

Entre as baladas, que mantêm pessoas dançando sentadas em mesas na pista e DJs mascarados, a adesão também é baixa —só o Espaço Barra Funda e a Bubu Lounge vão cobrar a carteirinha de vacinação dos festeiros. “Muitas pessoas ainda não estão confortáveis para ir a baladas. Pedir o comprovação de vacinação e seguir os protocolos de higiene vai fazer com que nossos frequentadores voltem aos poucos”, diz Natan Cardoso, produtor da Bubu.

Com isso, São Paulo deixa de seguir os passos de outras cidades do mundo, em países como França, Estados Unidos, Itália, Grécia e Israel, que impuseram os passes ou testes como condição para o acesso a cinemas, bares, museus, pontos turísticos e até hotéis.

Por aqui, mesmo nos eventos com mais de 500 pessoas, em que a exibição do comprovante de vacinação é obrigatória, a fiscalização é de responsabilidade dos próprios locais —e a intenção, segundo a prefeitura, “não é multar, mas estimular a imunização”.

Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a não exigência do imunizante para a gastronomia paulistana foi “uma vitória do bom senso”. “Parecia estranho pedir um passaporte em uma cidade que diz já ter vacinado 100% de adultos”, diz.

Ele enumera situações que, na opinião dele, dificultariam a exigência: turistas não vacinados não poderiam aproveitar a gastronomia de São Paulo, falhas no aplicativo poderiam levar estabelecimentos a serem multados e donos das casas teriam que fazer o papel da polícia, fiscalizando os clientes. “Às vezes fazem regras achando que todo lugar é um Fasano, que todo restaurante tem condições de controlar a entrada”, opina Solmucci.

Segundo o presidente da Abrasel, uma pesquisa recente feita pela associação mostra que 37% das empresas de São Paulo operam com prejuízo e que 54% sobrevivem com contas atrasadas. Ele defende que a exigência da vacinação seria mais um ônus. “Prestamos um serviço melhor cuidando dos protocolos do que indo atrás das poucas pessoas que não tomaram a primeira dose do imunizante”, diz.

Embora bares, restaurantes e clientes torçam o nariz para o “passaporte da vacina”, a advogada e especialista em direito à saúde Fernanda Zucare afirma que não há nada de ilegal na medida nem nos casos de estabelecimentos que exigem o comprovante mesmo sem serem obrigados.

“Ela atende o direito à vida e à saúde pública, está dentro da razoabilidade porque estamos em uma pandemia. Se você não se vacina, pode transmitir a doença para outra pessoa. Entre o individual e o coletivo, sempre prevalece o coletivo”, diz Zucare.

Passaporte da vacina

Como funciona
O ‘passaporte’ é obrigatório para eventos como shows, jogos, feiras e congressos que reúnam mais de 500 pessoas. Outros locais têm autonomia para adotar a medida ou não

Como baixar
Os comprovantes estão no aplicativo e-saúde. Os locais também vão aceitar os comprovantes impressos que foram entregues nos dias da vacina

Quem vai adotar

• Bubu Lounge
R. Mamoré, 305, Bom Retiro. Instagram: @bubulounge

• Espaço Barra Funda
R. Barra Funda, 630, Barra Funda. Instagram: @espacobarrafunda

• Fel
Edifício Copan - av. Ipiranga, 200. Térreo, 69, região central, tel. (11) 3237-2215. Instagram: @fel.sp

Colaboraram Guilherme Luis, Jairo Malta e Vitória Macedo

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