Diretor italiano acerta em 'Sobre Viagens e Amores'

Sobre Viagens e Amores *** ****
Encontro entre jovens italianos e americanos é tema central do filme de Gabriele Muccino - Divulgação

Nos últimos 15 anos, o italiano Gabriele Muccino tem dirigido mais filmes nos EUA do que no seu país natal.

Na Hollywood que o recebeu, lançou "À Procura da Felicidade" (2006) e "Sete Vidas" (2008), ambos com Will Smith, e "Pais e Filhas" (2015) e com Russell Crowe.

Talvez você tenha vaga recordação desses filmes ou nem se lembre deles. Não se preocupe: são produções açucaradas em excesso e, de fato, esquecíveis.

Assim, "Sobre Viagens e Amores" se revela uma boa surpresa para quem acompanha uma carreira até então pautada pela mediocridade. Parece ter feito bem a Muccino o retorno, ainda que parcial, ao país de origem. Seu novo filme é uma conjunta produção de Itália e EUA.

Aliás, a visão que a juventude europeia tem da cultura americana e vice-versa está entre os temas centrais do longa-metragem.

Moradores de Roma, os jovens Marco (Brando Pacitto) e Maria (Matilda Lutz) se detestam, embora mal se conheçam. A desorientação acompanha e perturba Marco, mas ao menos deixa-o aberto aos acasos. Maria, em contraponto, acumula convicções, em geral, conservadoras.

Eles vão passar as férias em San Francisco e, por uma fatalidade, acabam se hospedando na mesma casa. Os anfitriões são um casal gay, formado por Matt (Taylor Frey) e Paul (Joseph Haro).

Ao retratar os quatro jovens, o diretor segue a tradição dos filmes sobre férias de verão, cujo eixo é o rito de transformação em direção à vida adulta. Um clássico do gênero é Houve uma Vez um Verão (1971), dirigido por Robert Mulligan.

A graça de "Sobre Viagens..." está em bagunçar os papéis sociais e sexuais assumidos por cada um deles. Logo se percebe que há mudanças em curso, mas não sabemos onde elas vão culminar.

Esse encontro improvável em San Francisco se tornaria mais instigante não fosse o descompasso entre os dois atores italianos, bem preparados, e os dois americanos, às vezes insípidos.

Além disso, como nos seus filmes rodados nos EUA, Muccino é excessivo no uso da trilha sonora e das imagens de cartão-postal.

Como se vê, persiste o pendor do cineasta em adocicar as diversas camadas do filme, mas o roteiro bem construído acaba por prevalecer no resultado final.

Muccino está longe do grande cinema italiano, mas "Sobre Viagens e Amores" mostra que ele tem mais talento do que seus filmes anteriores nos faziam acreditar.

Avaliação: bom
Veja salas e horários de exibição.

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