A volta do Ca'd'Oro pode ser vista sob ótica saudosista –encontrei velhos comensais maravilhados com os pratos do passado– ou com lentes mais rigorosas de hoje.
A estas pode parecer deslocado o receituário antigo num ambiente modernizado. Mas faz sentido quando os proprietários –tanto a incorporadora do hotel quanto a família original, que hoje toca o restaurante não pretendem restaurar o velho luxo, e sim fazer um hotel prático e um restaurante de bom nível, mas mais acessível.
Os clássicos sobreviveram ao tempo e ao novo meio. O bollito misto tem farta variedade de cortes, do frango sem graça ao saboroso codeguim, com seus devidos molhos, e é servido diretamente no carrinho, pausadamente –cada cliente escolhe o que quer. Nada a ver com almoços executivos; é uma pausa merecida.
Os casoncelli à bergamasca (massa recheada com vitelo, codeguim e amaretti, com manteiga e sálvia) têm boa textura e recheio saboroso. A bresaola caseira nunca foi igual à italiana, mas é uma carne gostosa, de sabor mais suave e textura fresca.
As codornas com pancetta e ervas, assadas e servidas com polenta, na minha memória tinham molho mais delicado e não tão agressivo. E acho o brasato feito com picanha um desperdício: cortes mais firmes e saborosos são mais apropriados ao longo cozimento no vinho (mas o sabor do molho não decepciona).
O molho à carbonara é um tanto ralo; os tagliolini com frutos do mar precisariam de ingredientes menos cozidos e um caldo com mais sabor de pescados. Por outro lado, que tal ter pratos do dia (inclusive à noite) como rabada, dobradinha e língua ao Marsala com purê, feitos com requintes de uma boa cozinha e a preços palatáveis?
Pois no Ca'd'Oro de hoje os pratos ficam na casa dos R$ 70, uma faixa que seria impensável no seu luxuoso antecessor.
Avaliação: bom
R. Augusta, 129, Consolação, região central, tel. 3236-4300. 90 lugares. Seg. a qui.: 12h às 15h e 19h às 23h. Sex. e sáb.: 12h às 15h e 19h às 23h30. Dom.: 12h às 15h30 e 19h às 23h.
Comentários
Ver todos os comentários