Conheça o Wabar, boteco onde brasileiras e coreanos se encontram em clima de paquera

Endereço no Bom Retiro, em SP, se torna reduto do flerte regado a doses de soju e hits do k-pop

Homens e mulheres se reúnem no Wabar, no Bom Retiro, região central de São Paulo

Homens e mulheres se reúnem no Wabar, no Bom Retiro, região central de São Paulo Gabriel Cabral/Folhapress

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São Paulo

Na noite do último sábado, dia 28, garotas entre 18 e 20 e poucos anos andavam para lá e para cá pelos corredores de um barzinho no Bom Retiro, sempre olhando de esguelha para um rapaz alto, com traços asiáticos, sentado em uma das mesas.​

Ele é brasileiro, mas seus pais são coreanos. "Antes eu era o exótico. Hoje, sou o bonito, o gostoso", diz Gabriel Kim, influenciador digital de 28 anos. "Acho isso ótimo", diz ele, que é frequentador assíduo do Wabar, boteco que virou reduto de paquera entre coreanos e brasileiras na capital paulista.

Clientes no Wabar, que atrai brasileiros e coreanos no Bom Retiro
Clientes no Wabar, que atrai brasileiros e coreanos no Bom Retiro - Gabriel Cabral/Folhapress

A cena se repete todas as semanas, mas nem sempre foi assim. Quando surgiu, no fim de 2016, o bar inspirado na Coreia do Sul era frequentado apenas por descendentes e imigrantes. Até que o espaço foi sendo descoberto por brasileiros —sobretudo as brasileiras. "Depois que o BTS veio ao Brasil, começaram a vir muitos jovens", conta Samuel Lee, o proprietário, que disse ter precisado redobrar a atenção para barrar a entrada de menores de idade.

"Durante a pandemia, muitos assistiram aos seriados coreanos e k-dramas e foram procurar lugares para conhecer a culinária —e também os coreanos", diz ele, que imigrou com a família da Coreia do Sul para o Brasil em 1986, aos seis anos de idade.

Hoje a mãe comanda a cozinha e prepara os pratos e petiscos típicos de pojang machas, como são chamadas as barraquinhas de comida de rua no país asiático. Das panelas saem guiozas, frango frito e topokki, um tipo de nhoque com massa de arroz coberto por queijo e molho apimentado.

Escondido por uma portinha preta, ao lado de um restaurante, o Wabar pode facilmente passar despercebido. As portas são abertas a partir das 17h, revelando após as escadas um salão descolado e espaçoso.

Nas paredes, quadros exibem fotos de atores e cantores coreanos, enquanto telões transmitem clipes de k-pop —é comum ter alguém cantando e dançando as coreografias pelos corredores.

O espaço ostenta duas bandeiras, a do Brasil e da Coreia do Sul, com garrafas de bebidas entre elas, como o soju, destilado tradicional coreano, com teor alcoólico que parte de 13% e chega a 17% —e, pelo menos por ali, é o principal responsável por aproximar os dois países.

Geladeiras com garrafas de soju e pôster com ídolo do k-pop
Geladeiras com garrafas de soju e pôster com ídolo do k-pop - Gabriel Cabral/Folhapress

Durante a semana, quem aparece por lá geralmente são famílias. Às sextas e sábados, entram em cena os jovens, que repetem exaustivamente a cena que abre este texto. Nesses dias, o público é composto, majoritariamente, por garotas brasileiras e rapazes coreanos ou de ascendência coreana, todos entre 18 e 30 anos.

Os looks das meninas parecem ter saído direto dos clipes de k-pop, com direito a saias e shorts curtos, cabelos coloridos e maquiagem com delineado de gatinho. Os garotos também abusam da estética, usando franjas longas.

"Tem muita gente que vai com a expectativa de encontrar um futuro candidato para viver um romance de k-drama", conta a influenciadora digital Sabrina Habren, 29, referindo-se às novelas coreanas.

Mas a realidade pode ser bem diferente do que mostram o k-pop e os k-dramas, que retratam sempre homens cavalheiros e bonzinhos. "Aquela ideia de que os asiáticos são puritanos é um mito", continua Habren.

Há toda uma dinâmica para o flerte, ela conta. Meninas passeiam em grupos, enquanto meninos as observam das mesas. Até que eles fazem um cortejo e convidam as moças para beber alguma coisa.

Eles sabem que são populares e aproveitam para se jogar na paquera. "As celebridades coreanas fizeram com que despertasse esse interesse por asiáticos", diz Victor Kim, 27. "Mas eu fico preocupado, porque as pessoas acabam me procurando só pela minha aparência —e não por quem eu sou."

Até cunharam um termo para isso no Brasil: maria kimchi —kimchi é o nome de uma receita típica coreana— ou maria hashi, numa adaptação, em geral depreciativa, do famoso maria chuteira.

É depois das 22h que o lugar ganha ares de balada. Quando a música fica mais alta e as doses de soju são entornadas, todos se misturam e é possível cruzar com brasileiros arriscando palavras em coreano e asiáticos ensaiando sarradas no ar. É quando a pegação começa.

É como se estivéssemos dentro de um k-drama. No mezanino, uma jovem de cabelos coloridos lamenta que o seu paquera, um descendente de coreanos de 18 anos, não lhe dá bola. Esse mesmo garoto é assunto de outro grupo de meninas na fila do banheiro, que tentam chamar a atenção dele, gerando cenas de ciúme.

Quando as luzes são acesas e o bar fecha as portas, oficialmente à 1h, mas quase sempre depois disso, o jeito é continuar o flerte nos karaokês que varam a madrugada pelo bairro, seguindo o costume dos coreanos de soltar a voz depois de beber. Mas essa já é outra conversa.

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