A aprovação da lei antifumo pode afetar diretamente a dinâmica e a arquitetura das casas noturnas de São Paulo (SP). Nelas, assim como em bares e restaurantes, o fumo será proibido em todos os ambientes fechados, incluindo áreas semiabertas providas de algum tipo de cobertura, seja toldo, telhado ou teto de concreto, se sancionada pelo governador José Serra.
Para os proprietários de casas noturnas paulistanas entrevistados pela Folha Online, a nova lei obriga a criar estratégias para manter os clientes fumantes, além de trazer um possível estado de policiamento, acabando literalmente com a festa. Em alguns casos, os proprietários já agendam obras e cogitam livre acesso à rua.
Em clubes pequenos como o Audio Delicatessen, na Vila Madalena (região oeste), a proibição do fumódromo pode ser uma medida drástica. "Não tenho como ampliar meu espaço físico, por isso terei de chegar ao ponto de deixar as pessoas saírem para fumar, disse Marcos Zomignani, proprietário da casa noturna.
"Em um primeiro momento, corro o risco de perder clientes, já que tenho espaço reduzido. Se uma outra casa tem espaço livre, o fumante vai para lá. Quem tem espaço vai se dar bem."
Mãos à obra e ao alto
Porkão, sócio-proprietário do CB, bar roqueiro localizado na Barra Funda (região oeste), cogita retomar a reforma que a casa passou recentemente para a construção de uma área aberta.
"Íamos fazer uma área externa durante a reforma, mas seguramos só para reestrear logo. Queremos fazer um corredor, mas como não sei se poderá ter toldo, tenho que tomar cuidado com o barulho. Porque além de respeitar a lei do cigarro, já tenho que respeitar a do Psiu", disse o proprietário do CB.
Porkão não se diz contrário à lei, mas não concorda com veto aos fumódromos, já que, segundo ele, pelo menos 50% dos frequentadores da casa noturna são fumantes.
Diferente de Zomignani, do Audio Delicatessen, o proprietário do CB e da Casa Belfiori (espaço próximo ao CB) não cogita a possibilidade de liberar a porta para entrada e saída de fumantes. "É impossível ter controle."
E é justamente a falta de organização o maior receio entre os proprietários. Em caso de desrespeito à lei, os frequentadores podem denunciar os fumantes à polícia ou, no caso de a casa ser pega pela fiscalização, os proprietários deverão pagar multas.
"A tendência é de que as pessoas não respeitem e que isso crie um clima de policiamento. É complicado para o proprietário, pois ele terá de fiscalizar e tomar multa", disse Zomignani.
Prevenido
O Hi-Fi, misto de bar e casa noturna em Cidade Monções (região sul), lançou na última sexta-feira (3) um terraço no quarto andar da casa, que, segundo o sócio-proprietário Marcelo Castanheira, 40, foi criado pensando na lei antifumo. Ao acompanhar os trâmites, Castanheira resolveu ampliar uma varanda que havia na casa. Para o sócio, se a lei vigorar, o desafio será fazer o espaço se tornar popular entre os fumantes.
"Teremos de fazer a divulgação e ter maior controle para manter a comunicação entre fumantes e não fumantes. Acreditamos na consciência dos outros", afirmou Castanheira.
Também sócio da Cabaret, no Brooklin (região sul), Castanheira já tem planos de criar um jardim ao ar livre para os fumantes da outra casa, em um terreno ao lado. "Vamos começar a obra a partir desta semana, com acesso a um jardim, decoração e bancos, mesmo se a lei não for sancionada, pois [a restrição ao fumo] é um quadro irreversível", disse, prevenido.
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