Ator Ricardo Tozzi abre a Casa Cascais, complexo com restaurantes portugueses e lojas em SP

Centro comercial na região dos Jardins tem a cozinha do Pátio das Cantigas como destaque

São Paulo

Um antigo casarão da avenida Nove de Julho, bem na divisa entre o Jardim Europa e o Jardim América, na zona oeste de São Paulo, exibe fachada renovada desde o finzinho de setembro. A construção de 1934 agora abriga a Casa Cascais.

A placa na calçada anuncia que o lugar é um mall, o equivalente a um centro comercial em bom português. Por enquanto, reúne dois restaurantes, empório e academia de ginástica, mas um salão de beleza também está previsto para janeiro de 2023.

Fachada da Casa Cascais
Fachada da Casa Cascais, novidade na região da avenida Nove de Julho, em São Paulo - Ricardo D'Angelo/Divulgação

O ator Ricardo Tozzi é quem está à frente do empreendimento com sócios investidores. Ele conta que caiu de amores por Portugal em 2018, quando levou ao país a peça "Os Guardas do Taj", na qual contracenava com Reynaldo Gianecchini. "Me apaixonei pela comida e pelas casas de fado vadio, onde fadistas jovens cantam de improviso", conta.

Na volta a São Paulo, Tozzi alugou o imóvel de 2.000 m² disposto a transformá-lo em um complexo dedicado à cultura portuguesa. A fonte de inspiração, confessa, é a Casa da Guia, localizada em Cascais. "Só que me pegaram de calça curta, porque descobri que o imóvel tem a fachada tombada. Não pude alterar quase nada do projeto." Conservar as linhas originais acabou não sendo um problema —pelo contrário, elas se tornaram o charme do lugar.

Âncora do empreendimento, o restaurante Pátio das Cantigas se esparrama por dois belos salões e um pátio ensolarado sob cobertura retrátil.

Da cozinha, chefiada pela portuguesa Maria Conceição Costa, chamada de Ção, saem pratos tradicionais de execução impecável, a exemplo do arroz de pato servido em panelinha de barro (R$ 98), do bacalhau à lagareiro com batatas ao murro (R$ 129) e dos bolinhos de bacalhau, pedida praticamente obrigatória (R$ 35 com seis unidades).

Ção também apresenta criações próprias, entre elas o folhado de bacalhau com purê de espinafre (R$ 109), e reserva algumas especialidades aos fins de semana. Fazem parte desse menu o cabrito à serrana com batata assada e migas de broa (R$ 120), o leitão da Bairrada (R$ 120), o cozido à portuguesa (R$ 180, para dois) e a chanfana da Beira Baixa (R$ 110), que consiste em carne de bode marinada em vinho tinto, longamente cozida, no forno, em panela de barro.

Elaborada pela sommelière Mariana Cestari, a carta é quase inteiramente portuguesa, com preços entre R$ 31 (taça do Cistus Reserva, tinto ou branco) e R$ 7.800 (garrafa do tinto Barca-Velha).

Doces de ovos, é claro, compõem o cardápio de sobremesas. O macio bolo do pátio à Dom Rodrigo (R$ 28) alterna camadas de pão de ló com ovos moles. Mas também é possível variar com a pera cozida no vinho tinto (R$ 22) ou com o bolo de bolacha (R$ 17), nosso famoso pavê de biscoito com creme de café.

Drinques como o negroni (R$ 39) e o Évora (R$ 41), de gim, xarope de amora, Porto rosa e prosecco, são preparados pelo bartender Dennis Oliveira e vão bem na companhia das entradas regionais —que funcionam como petiscos e são listadas no menu com as respectivas regiões de origem. Típicas do Algarve, as lulinhas à algarvia (R$ 48) são fritas em azeite, com alho e coentro, por exemplo.

Nascida em Porto de Vacas, na Beira Baixa, localizada no sopé da Serra da Estrela, Ção conhece bem uma parte do Brasil. De 2012 a 2019, ela conduziu a Taberna Portuguesa, no Recife, que chegou a ter três unidades. Mas anda estranhando o paladar paulistano.

"Reclamam muito das espinhas do bacalhau, precisamos retirá-las 100% com pinça. Mas a maior dificuldade é mesmo o coentro, que precisei reduzir muito e, às vezes, nem posso usar. Faz muita falta", lamenta.

Quem sai do Pátio das Cantigas em direção aos fundos da casa passa pelo Empório Tia América, onde são vendidos vinhos e outros importados, até chegar ao Café do Santo, o segundo restaurante do complexo.

Prato de frutos do mar do restaurante Casa Cascais
Folhado de bacalhau com purê de espinafre do menu do Pátio das Cantigas, na Casa Cascais - Ricardo D'Angelo/Divulgação

Com ambiente e cozinha informais, mesas ao ar livre, bar e mesa de bilhar, o lugar funciona desde o café da manhã até o jantar. Eventualmente, tem música ao vivo —já teve roda de samba e apresentação da dupla de voz e violão Camomilá.

A música, aliás, é a próxima etapa para o Pátio das Cantigas. Segundo Tozzi, o nome da casa não é por acaso. Sua ideia é receber cantores de fado, mas não como som de fundo.

"Serão apresentações como as que acontecem em Lisboa: o serviço será interrompido para que o público possa ouvir a música, respeitando o fadista", ele diz. "Ainda estou planejando como criar essa cultura por aqui, mas a ideia é começar o mais rápido possível."

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