A bela parrilla argentina nos fundos do boteco pequeno e simples em Perdizes indica algo um tanto óbvio pelo ambiente decorado com a mesma temática: estamos numa casa especializada em carnes preparadas na brasa à moda dos vizinhos. O Chimichurri tem se consolidado como um dos melhores lugares para comer bom churrasco em São Paulo.
Ao contrário dos restaurantes mais tradicionais, entretanto, aqui reina a informalidade que costuma se associar mais a bares, em mesas pequenas e bancos altos pouco confortáveis na parte interna, ou mesas de madeira na área externa. A melhor forma de aproveitar é entrando no clima de boteco e experimentando os mais diferentes cortes do churrasco bem feito sem se preocupar com etiqueta de restaurante chique.
A casa oferece os cortes mais tradicionais do asado argentino, como a entraña, que é o corte macio do diafragma do boi (R$ 99), asado de tira, da costela (R$ 139), bife de vacio, próximo da fraldinha (R$ 69) e arañita, tirada da pélvis do animal (R$ 62). As carnes costumam ter entre 300 e 350 gramas, cada, e são servidas fatiadas, cobertas com o molho chimichurri e acompanhadas de vegetais também preparados na brasa.
O bife ancho (R$ 105) é o carro-chefe e prato mais pedido da casa, indicam os garçons. A carne chega à mesa mal passada, mas sem ser crua, e muito macia. É marcada pelo excelente tempero de chamuscado da brasa, que diferencia ela de churrascos brasileiros feitos com carvão. Além dela, os legumes grelhados chamam a atenção por conseguirem manter textura e ao mesmo tempo estarem assados e com o defumado da parrilla.
A boa surpresa, entretanto, é descobrir que, além de bifes preparados de forma meticulosa, é nas entradas e nos acompanhamentos que o boteco argentino brilha de verdade.
A farra pode começar pelas ótimas empanadas (R$ 14) que são servidas com recheio de carne, de queijo, de pesto e uma opção que muda a cada semana. Preparadas fritas, têm massa tão levinha e seca que chega a lembrar um pastel de feira à brasileira. O recheio é bem cuidado. A de carne tem pedaços cortados na faca e ótimos temperos que dão heterogeneidade a cada mordida. A de queijo com cebola também se destaca.
A morcilla (R$ 49) é um abuso de deliciosa. A linguiça de sangue é equilibrada entre salgada e doce, com tempero de especiarias encantador. É servida ainda com um pedaço de pão e um tomate grelhado.
E a Molleja (R$ 69) é o grande destaque, pois consegue ser melhor do que muitas servidas mesmo em Buenos Aires. Este corte do timo do boi, por ser uma carne com muita gordura, costuma dar trabalho aos churrasqueiros, pois precisa de tempo e dedicação, e é difícil fazer bem feito —ou pode gerar experiências desagradáveis.
No Chimichurri, ela é servida em uma porção grande e com fatias fininhas, com um leve toque torrado. O ponto perfeito, segundo o chef e proprietário argentino Tomás Peñafiel, é quando está perto de queimar. O preparo da casa dá certo, e a molleja fica levemente tostada, crocante por fora, suculenta, macia e muito saborosa, e é bem acompanhada pelo molho de ervas que dá nome à casa e por uma bela fatia de limão siciliano queimado, que dá frescor ao corte.
Com tantas boas opções, a pedida ideal é esquecer a ideia de uma refeição tradicional e se entregar ao clima de boteco, transformando os pratos em petiscos a serem compartilhados.
Para isso, as entradas e acompanhamentos são oferecidos em meia porção, o que permite experimentar mais opções —embora o preço cobrado não seja a metade do original, mas 71% dele.
Como bar, o Chimichurri tem boas opções de bebidas, com variedade de cervejas e bons vinhos argentinos (embora o mais barato saia por R$ 100). Uma boa opção pode ser levar um vinho de casa e pagar a taxa de rolha de R$ 60.
A casa só fica devendo no quesito sobremesas. São apenas quatro opções simples, sendo duas de alfajor (R$ 18, cada), uma mousse (26) e um sorvete (R$ 29). Ficam faltando clássicos argentinos como o flan, as panquecas e o tradicional doce de leite. Mas a verdade é que, em um bar, os doces realmente não costumam ser o centro das atenções.
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