O barulho de trânsito, motores e buzinas em um cruzamento com viaduto em uma movimentada esquina na região central de São Paulo parece uma escolha ideal para replicar o caos urbano como um dos principais estereótipos do Vietnã.
Dentro do restaurante pequeno e simples, a comida evoca outro lado muito conhecido do país asiático, a sua fantástica gastronomia, ajuda a esquecer a bagunça da rua e oferece uma experiência sensorial impressionante.
Até pouco tempo atrás não era tão comum encontrar muitos restaurantes vietnamitas na cidade, mas parece haver cada vez mais, e melhores opções. O Little Saigon faz parte de um movimento que ganhou força no início da década, com ampliação e diversidade da oferta de comidas asiáticas em São Paulo. Ele tem um discurso voltado à defesa das diferenças entre a culinária vietnamita e a de outros países da Ásia, como China e Japão, que tendem a ser mais populares no Brasil.
E esse perfil diferenciado se vê claramente nos pratos descritos em lousas penduradas na parede e no sabor de cada uma das comidas servidas ali.
O primeiro passo é o Goi Cuon (R$ 18), rolinho frio que é um dos pratos mais simbólicos do país no resto do mundo. Chega enrolado em massa de arroz transparente, que deixa ver belos camarões inteiros, porco, alface, pepino, moyashi, hortelã e espaguete de arroz. A combinação funciona bem a cada mordida, permitindo sentir bem os sabores que se complementam de forma leve e marcada pelo frescor. É servido com um ótimo molho adocicado à base de soja com amendoim.
Para quem prefere algo mais "familiar" ao frequentar lugares especializados em culinária asiática, há também uma opção de rolinho frito, o Cha Gio Heo (R$ 36). Recheado com carne de porco, cogumelo seco, cenoura, cebola, alho e macarrão, é bem sequinho e crocante, mas tem recheio suculento e delicioso. Ao servir, o garçom explica que come-se enrolado em uma folha de alface, mergulhando os rolinhos no molho de peixe que acompanha, o que torna a experiência ainda mais curiosa, com um contraste a mais de sabores e texturas.
Entre os principais, o prato mais simbólico da culinária vietamita é o Pho Bo (R$ 63), sopa de carne cozida por dez horas e servida com massa de arroz, carnes, ervas e outros complementos. Chega com caldo bem quente, muito aromático e encorpado, mas de sabor delicado e com ervas que deixam refrescante e complexo. Vem ainda com carne bovina em três cortes: lagarto, alcatra e bolinhos de carne, cada um deles contribui com texturas e sabores diferentes.
Outros dos pratos mais populares da casa são os Mi Xao, pratos de massa refogada com carnes e legumes, versão vietnamita de algo como um yakissoba, que os brasileiros já conhecem bem.
O Mi Xao Dac Biet (R$ 75) é servido com camarão, lula, carne bovina, shimeji e legumes, em uma mistura muito variada e cheia de sabores. Apesar da comparação com os pratos de macarrão frito das culinárias chinesa e japonesa, o tempero é marcadamente diferente. Vem com salsão e ervas que dão frescor e fazem o sabor ir muito além do shoyu, do glutamato monossódico e do óleo de gergelim torrado.
A complexidade e a heterogeneidade de sabores e texturas marcam também as sobremesas. O Chuoi Chung (R$ 18) mistura banana cozida no vapor, leite de coco, sagu, amendoim, canela em pó e gergelim e impressiona pelos contrastes e pela delicadeza. Não chega a ser doce demais, e todos os ingredientes conseguem ser percebidos.
O atendimento do restaurante é atencioso e ajuda a explicar os nomes e preparos até hoje menos conhecidos no Brasil. Os pratos não chegam a ser baratos, mas são grandes e podem facilmente ser divididos, tornando a conta bem mais acessível e permitindo conhecer bem o quanto a comida vietnamita realmente tem personalidade própria.
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