Checho Gonzales fez de uma velha garagem na Barra Funda o salão de seu novo restaurante, Mescla. Também é antiga a cozinha para a qual se volta, cujos preparos são concentrados no fogão —não há forno ou grelha.
Guisados e salteados, essencialmente, são explorados com liberdade por ele. Nascido na Bolívia, hoje declara no nome da nova casa sua principal expressão: uma mistura de referências latino-americanas, que cruzam influências europeias, asiáticas e africanas.
Propõe, em tom provocador, um porquinho empanado, que tem nome de um bicho mas na verdade é outro, um peixe. Idem ao apresentar o coração de lula, um espeto que intercala coração de galinha e lula no qual brinca com texturas similares —são besuntados em um molho de amendoim, cremoso e picante (R$ 27).
Mar e terra se encontram em outros preparos, como o guisado que mistura frutos do mar, grão-de-bico, favas, batata e paio, de sabor rico e acalentador (R$ 58).
Depois de cozido, o peixe do dia —prejereba, filé de pescada amarela, robalo— recebe leite de castanha-de-caju e limão, que realçam acidez equilibrada com o dulçor da abóbora (R$ 60).
Rústica e robusta, a bochecha de porco no vinho tinto desmancha ao toque do garfo depois de descansar em uma marinada potente. Grãos andinos, como favas carnudas e milho, fazem companhia (R$ 52).
A proposta é que os pratos sejam compartilhados, assim como as mesas e o balcão em frente à pequena cozinha, integrada ao salão. Exceção é o Mesclinha, um pê-efe servido às sextas no almoço com lentilha, arroz, salada e um guisado (ou legumes ou peixada), a R$ 28.
Na sobremesa, única, o creme queimado de milho verde remete a um curau caipira, mas com pouquíssimo açúcar (R$ 15).
Checho tem mesmo um fraco pela vida caipira. Mas, ainda que almeje morar num sítio, seu trabalho é particularmente urbano. Basta observar seu arrojo em ocupar territórios citadinos pouco explorados, promover comida de rua e projetos itinerantes e ter dado novos ares ao Mercado de Pinheiros com sua Comedoria Gonzales.
Que siga em frente com essa capacidade de fortalecer o vínculo do consumidor com a cidade, por meio da comida.
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