Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que, entre os hábitos de lazer, ir a restaurantes é o mais frequente entre os brasileiros com 60 anos ou mais. Na região Sudeste, 57% das pessoas da faixa etária costumam comer fora de casa. Já os que frequentam bares são 20,9%. Entre os que têm ensino superior, os habitués de restaurantes são 91,5%, contra 53,7% de bares.
O Guia foi então à pesquisa dos melhores bares e restaurantes de São Paulo segundo o público, também feita pelo Datafolha, e descobriu que tradição é a palavra-chave entre os mais velhos. No recorte dos entrevistados acima de 56 anos, as campeãs de citações são casas familiares com fama já cristalizada.
Esse também é o público que menos frequenta restaurantes japoneses (43%; contra 66% na média total) e o que mais costuma ir aos portugueses (47%; média de 32%).
A VOZ DA EXPERIÊNCIA
Veja uma seleção de dez restaurantes paulistanos cheios de histórias para contar que estão entre os favoritos dos clientes mais experientes de São Paulo.
Alfama dos Marinheiros
O restaurante português, inaugurado em 1969, guarda um clima acolhedor, com paredes em madeira e azulejos e com decoração que faz lembrar o mar, miniaturas de barcos e redes de pescador. O bacalhau é o carro-chefe do cardápio, pedido por 90% dos clientes, segundo José Juscelino da Silva, gerente com 18 anos de casa. Dentre as opções de preparo, a versão à Moda de Vila Real traz o pescado em posta com batatas ao murro, grão-de-bico e pimentão (R$ 378, para três).
R. Pamplona, 1.285, Jardim Paulista, região oeste, tel. 3884-9203. 120 lugares. Seg. a sex.: 12h às 16h e 19h às 23h. Sáb.: 12h às 16h e 19h às 24h. Dom.: 12h às 17h e 19h às 23h.
Almanara
O restaurante, que nasceu no centro de São Paulo, em 1950, hoje tem uma dezena de unidades. Porém, apenas na matriz há, além de opções à la carte, serviço em sistema de rodízio (R$ 78,60). Estão entre as especialidades árabes do cardápio esfirras fechadas e abertas de carne (R$ 6,90), quibe frito (R$ 7,90), cru (R$ 41,80) e cuscuz marroquino (R$ 28,80). O balcão fica bastante movimentado nos dias de semana, no almoço e no fim da tarde, com gente que trabalha na região da República.
R. Basílio da Gama, 70, República, região central, tel. 3257-7580. 112 lugares. Seg. a sáb.: 11h30 às 23h. Dom.: 11h30 às 22h.
Camelo
A pizzaria, que tem cinco unidades na cidade, surgiu como um restaurante árabe em 1957 para, seis anos depois, passar a servir pizzas. Desde aquele mesmo ano trabalhava por lá Antônio Macedo, o pizzaiolo até hoje responsável pelas receitas, famosas pela massa fininha. Entre os sabores, há a Due Funghi, que une shiitake e shimeji refogados e cobertos com mozarela de búfala (R$ 93), e a Camelo, com escarola, aliche, ovos, palmito e bacon (R$ 88). Há ainda porções, como a de carpaccio (R$ 42). R. Pamplona, 1.873, Jardim Paulista, região oeste, tel. 3887-0702.
Consulado Mineiro
O nome do restaurante nasceu do apelido que deram à casa que o dono do negócio, Geraldo Magela, dividia na avenida Paulista com outros nascidos em Minas Gerais. A matriz, na praça Benedito Calixto, fica com as mesas da calçada cheias aos sábados, dia da feira de antiguidades. Um dos pratos mais pedidos pela clientela, formada por famílias, casais e estrangeiros turistando, é o Zona da Mata, com carne de sol desfiada na manteiga, tutu, couve refogada, arroz e mandioca frita (R$ 99). Para acompanhar, há perto de cem rótulos de cachaça, a maioria da região de Salinas (MG).
Pça. Benedito Calixto, 74, Pinheiros, região oeste, tel. 3088-6055. 120 lugares. Ter. a sáb.: 12h às 24h. Dom.: 12h às 23h.
NÃO CONTA PRO MÉDICO
No último sábado (27), o advogado Flávio Calazans, 66, e a ex-bailarina e pedagoga Maricy Calazans, 64, estavam em uma das mesas da calçada do Consulado Mineiro, na praça Benedito Calixto. Ele havia feito uma caminhada de cerca de cinco quilômetros dos Jardins até o restaurante, onde costuma parar para reabastecer.
Os garçons são simpatissíssimos, um melhor que o outro, diz o frequentador. Já para Maricy, era a primeira vez. Como somos velhinhos, ficamos comentando as figuras que passam, brinca. Flávio reluta em contar qual seu prato favorito Não posso contar porque meu médico vai ler, mas ao fim revela: torresmo com carne-seca.
Famiglia Mancini
Com mesas concorridas, a casa, aberta em 1980, é a opção mais tradicional da charmosa rua Avanhandava, ocupada por outros restaurantes do grupo de Walter Mancini. A decoração reforça a vocação de cantina; nas paredes há espelhos, máscaras venezianas, mapas e fotos, além de estátuas e uma fonte. Receitas como o espaguete à carbonara (R$ 108) e o bife à parmigiana (R$ 157) são precedidas pelo bufê de antepastos, com azeitonas, queijos e toda sorte de frios, embutidos e conservas, como o vinagrete de polvo.
R. Avanhandava, 81, Bela Vista, região central, tel. 3256-4320. 150 lugares. Seg. a qua.: 11h30 à 1h. Qui.: 11h30 à 1h30. Sex. e sáb.: 11h30 às 2h30. Dom.: 11h30 às 24h.
COROAS CURIOSOS
Na última sexta-feira (26), um grupo de 11 pessoas esperava por uma mesa no Famiglia Mancini. Eram paulistanos que passeavam com amigos de Belo Horizonte em visita à cidade. Segundo eles, o restaurante faz parte do circuito turístico. Queriam conhecer uma cantina, porém, são abertos a novos sabores. Os coroas estão mudando, garante Alexandre Calijorne, 60, do grupo dos mineiros. Eu, por exemplo, tenho muita curiosidade. Para onde me chamarem eu topo conhecer.
Fasano
A casa, de 1982, é a filha mais velha de uma das mais importantes grifes da alta gastronomia paulistana, que começou sua história em 1902. De lá até o atual endereço, fez sucesso com uma confeitaria e com a casa de espetáculos por onde passaram figuras como Fidel Castro e Nat King Cole. À frente da cozinha, o italiano Luca Gozzani acrescentou toques inventivos às receitas clássicas. O menu Mare (R$ 430), de cinco etapas, inclui carpaccio de vieira com iogurte e arroz selvagem crocante. Mas ainda há espaço para clássicos da casa, caso do ossobuco de vitela com vinho branco e ervas, guarnecido de risoto à milanesa (R$ 177).
R. Vitório Fasano, 88, Cerqueira César, região oeste, tel. 3896-4000. 146 lugares. Seg. a qui.: 19h à 0h30. Sex. e sáb.: 19h à 1h.
A Figueira Rubaiyat
Os clientes se acomodam sob os galhos de uma centenária figueira na casa mais conhecida do grupo fundado em 1957 pelo espanhol Belarmino Iglesias. Ali, pode-se pedir pelo Caixote marinho (R$ 187), com polvo, vieira, camarões e robalo em companhia de batata-doce e risoto de açafrão. As carnes são as estrelas do menu. O baby beef de brangus (R$ 141) chega à mesa com batatas suflées. O couvert (R$ 18) tem o famoso pão de queijo, patês, azeitonas marinadas e pães artesanais.
R. Haddock Lobo, 1.738, Cerqueira César, região oeste, tel. 3087-1399. 350 lugares. Seg. a sex.: 12h às 16h e 19h às 24h. Sáb.: 12h à 0h30. Dom.: 12h às 23h.
Fogo de Chão
Se tem uma coisa da qual o morador de São Paulo gosta é rodízio. Melhor ainda se for de churrasco. Fundada em Porto Alegre, a marca, que já chegou aos Emirados Árabes, tem cinco unidades na capital paulista, onde aportou nos anos 1980. No bufê de saladas, há queijos e itens como salmão defumado e alcachofras. Passando no salão, além das clássicas e concorridas picanha e fraldinha, surgem bife ancho e costeleta de cordeiro. O rodízio custa R$ 138 e não inclui bebidas e sobremesas.
R. Augusta, 2.077, Cerqueira César, região oeste, tel. 3062-2223. 380 lugares. Seg. a sáb.: 12h às 23h30. Dom.: 12h às 22h30.
Margherita
Com as clássicas toalhas de mesa xadrezes, a pizzaria nos Jardins serve, desde 1981, diversos sabores da redonda, como a que dá nome à casa, que leva mozarela, molho de tomate, parmesão e manjericão (R$ 72), e a Portoghesa, uma das mais pedidas, com molho de tomates frescos, presunto magro, ovo cozido e cebolas (R$ 75). Há ainda uma opção sem lactose, a Leggera, com mozarela de queijo de ovelha e molho de tomates frescos (R$ 87). Para a sobremesa, uma das atrações é o sagu de vinho com creme inglês.
Al. Tietê, 255, Cerqueira César, região oeste, tel. 2714-3000. 350 lugares. Seg., ter. e dom.: 18h30 à 0h30. Qua. e qui.: 18h30 à 1h. Sex. e sáb.: 18h30 às 2h.
Terraço Itália
O restaurante ocupa, desde 1967, o topo de um dos prédios mais conhecidos de São Paulo, o Edifício Itália, desenhado por Franz Heep e inaugurado em 1965. O jantar à luz de velas é acompanhado de piano todas as noites e, às sextas, na sala panorama, uma banda executa canções para dançar a dois. Após retomar o fôlego perdido com a vista da metrópole, a clientela prova sugestões do chef Pasquale Mancini, como o ravióli de queijo taleggio com manteiga de trufas (R$ 129) e o filé-mignon ao molho funghi servido com polenta cremosa (R$ 125).
Av. Ipiranga, 344, República, região central, tel. 2189-2929. 400 lugares. Seg. a qui.: 12h às 24h. Sex. e sáb.: 12h à 1h. Dom.: 12h às 23h.
MUITA HISTÓRIA
O clima de romance quase sempre tem um quê de segredo e mistério. É esse o tom assumido por Osmar Jesus da Silva, o maître do Terraço Itália, ao contar histórias de clientes da casa: Não posso citar nomes, porque tem casais que vêm aqui que não são casados. Silva tem 62 anos de idade e 43 de casa, onde começou como cumim. Mas o clima de romance também carrega, quase sempre, uma afetividade familiar. Teve um rapaz que queria ficar noivo aqui, no salão dançante. Ele me procurou querendo reservar a mesma mesa na qual seus pais haviam ficado noivos, conta.
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