Uma magia imediata do novo restaurante peruano Ama.zo, na região central, é nos transportar a uma volta ao passado, a uma cidade ainda interiorana, na qual se conserva certa calmaria.
Instalado no jardim de um casarão de Ramos de Azevedo, de 1912, come-se entre pés de jabuticaba centenários, ao som de jazz, uma alegria, uma raridade —ainda que o serviço esteja atrapalhado.
O cardápio, apoiado nos clássicos da cozinha andina, tem assinatura do peruano Enrique Paredes, do Barra Khuda, de Lima. Saem-se muito bem os ceviches. Para ter uma amostra, boa sugestão é provar o trio (R$ 42).
Fazem companhia ao clássico, de sabor intenso, com equilíbrio, acidez e picância, o de camarão, embalado em uma salsa de ají amarillo, e o de polvo. O molusco, cuja textura estava um primor, foi beneficiado com o molho defumado de rocoto, um fruto arredondado que se assemelha ao pimentão.
Traços mais autorais surgem em preparos como o ceviche quente. Postas de pescada branca, que mereciam um cozimento mais gentil, são marinadas em pimenta mirasol (a ají amarillo depois de seca) e enriquecidas com um caldo cítrico e delicadamente picante (R$ 48). A musse de banana defumada, anunciada no cardápio, resulta ornamental e não participa do conjunto. Desequilibra o prato o excesso de gordura dos patacones, banana-da-terra amassada e frita.
Clássicos como o lomo saltado (R$ 44) também exibem sinais de que a cozinha está em adaptação. Os cubos de filé-mignon, salteados na abaulada panela wok, de origem chinesa, têm cozimento desigual. Alguns resultam mais pálidos, sem a maciez e o sumo dos que preservam aquele rosado sensual. Também lhe falta pujança —mais espesso e potente, o molho no qual carne, tomate e cebola-roxa são embaladas se sairia melhor.
Na sobremesa, o refrescante sorbet de jabuticaba, com delicioso sabor da fruta, foi servido cristalizado em mais de uma ocasião. A simpatia do café como cortesia (um Orfeu bem tirado), equilibra —e o saldo é positivo.
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