O novo Amazônico, que abriu em Moema numa casa ostensiva e cenográfica, promete uma “viagem pelas lendas e rituais da Amazônia”, mas entrega pratos que, embora usem ingredientes particulares da região, fazem referência a clássicos internacionais.
Ora, ora, não se passeia por folclore, por uma cultura popular preservada e transmitida pela tradição oral, por meio de invencionices apresentadas como gravlax da Amazônia, tartare com ervas da floresta ou paella amazônica.
Tampouco se reproduz um ambiente selvagem, como a casa tem a pretensa intenção de fazer, por meio de uma trilha fake de folhas secas e ocas de plástico —um contrassenso.
O garçom faz questão de apresentar o “espaço interativo”, no qual os clientes colocam óculos de realidade virtual para ver “índios de verdade” e provar pratos da “alta gastronomia”.
Também soa em desalinho a música internacional bombando na varanda, na qual chama a atenção uma canoa do avô de Jhosy Bitencourtt, chef paraense e empreendedora, também dona do vizinho Ladrillo Parrilla.
No salão, violões brasileiros são mais coerentes para sonorizar a refeição —mas uma trilha briga com a outra. Depois de tantos estímulos, é quase um alento se concentrar na comida.
O ceviche de robalo preserva o peixe íntegro, e este ganha força com a acidez do tucupi que o envolve —mexilhões carnudos também pertencem a essa entrada, que sai por R$ 45.
O filhote, peixe emblemático da Amazônia, é servido sobre um fogareiro de barro. Roliço e suculento, exibe superfície dourada, levemente tostada, e recebe a companhia de purê de banana (que mais se aproxima de um creme) e de cuscuz (R$ 81). Este é pouco hidratado —a granulada farinha d’água se mantém excessivamente dura e é temperada com pouca ousadia, fica apagado o sabor tão vibrante das ervas da região.
Assado na parrilla, o tambaqui é servido na folha de bananeira com gordurosa mandioca frita e o mesmo cuscuz amazônico (R$ 120, serve até duas pessoas, a depender da fome, mas esse detalhe não é informado pelo garçom).
Confitado e grelhado, o porco não tem salvação: chega frio e ressecado, ainda que com um promissor molho à base de açaí (R$ 78).
Se a cozinha recebesse mais atenção que a decoração —uma Amazônia hollywoodiana—, talvez brilhasse mais.
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