À primeira vista, o que causa mais impacto no Lassù, que abriu há pouco com filas e excitação, é o mesmo para todos. O restaurante ocupa o 28º andar de um prédio em Santana, do qual se pode observar uma São Paulo das alturas.
Depois do choque da paisagem urbana, gera deslumbre o fato de o salão central ter um piso giratório. Ao longo de uma refeição, ele se movimenta lentamente e os lugares mais cobiçados acabam democraticamente revezados.
Tamanho frisson faz crer, por ora, que o cenário para selfies atrai mais que um prato de comida, mas vale atentar-se ao cardápio. Ainda que as receitas tradicionais italianas imperem (espaguete à carbonara; cordeiro assado com polenta; tiramisu), o chef Lucas Campos arrisca intervenções mais arrojadas.
Em alguns casos, ele realça ingredientes brasileiros, como o mel de cacau, pincelado no polvo grelhado, ou o aratu, caranguejo avermelhado de mangue trazido da Bahia, que enriquece um risoto (R$ 66).
Carne de sol, abóbora, manteiga de garrafa e castanha-de-caju se combinam em harmonia num risoto mais sertanejo (R$ 62), um aceno ao vizinho Mocotó —os grãos excederam o cozimento e perderam firmeza, mas o todo resulta deliciosamente cremoso, com sabor equilibrado e acolhedor.
O caju surge em realce na sobremesa que faz referência à baba ao rum —aqui, três bolinhos são embebidos em cachaça; o álcool sobressai e inibe as nuances da massa, da fruta e da espuma de caramelo queimado (R$ 29).
Campos trouxe para o crème brûlée, com cebola caramelizada e endívias, um queijo da serra da Canastra. Deixa transparecer, também, sua inclinação pela cozinha francesa —foi pupilo de Alain Polleto e Pascal Valero. Cuida bem, ainda, da cocção do peixe do dia, uma pescada-amarela embalada em crosta de broa.
No salão, o serviço corre profissional, marca do restaurateur Ricardo Trevisani, cria da escola Fasano, também dono do Ristorantino.
De lá, repete a lasanha que fez fama nas mãos de Salvatore Loi, a intercalar um potente ragu de vitela com salsa de trufa negra, massa, um bechamel firme e mozarela de búfala. No prato, recebe ainda creme de grana padano de um lado e, de outro, um molho de vitela, bem espesso e colagenoso (R$ 89).
O tiramisu atiça, mas fica para a próxima —é enorme, “para todos”, diz o menu, e custa R$ 66.
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