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Restaurantes

'Restaurante não pode, mas ônibus cheio sim', reclama restaurateur contra a quarentena

Hugo Delgado, da Taquería La Sabrosa, ajuda a articular novo protesto do setor nesta quarta (27)

São Paulo

Chefs, donos de restaurantes e funcionários do setor saem das cozinhas e voltam às ruas de São Paulo nesta quarta-feira, dia 27, para mais uma vez protestar contra o endurecimento da quarentena na cidade.

As reivindicações são as mesmas da manifestação que ocorreu na última sexta, dia 22, e questionam as medidas anunciadas na semana passada pelo governador João Doria, do PSDB —principalmente o fechamento de bares e retaurantes aos fins de semana e os horários mais restritos de funcionamento nos demais dias.

"Queremos fazer uma manifestação pacífica, organizada, com máscaras e distanciamento", afirma Hugo Delgado, empresário mexicano à frente do Taquería La Sabrosa, que serve pratos de seu país. "Também ficaremos na calçada, para não atrapalhar os carros", diz. Ele ressalta que o grupo é apartidário e que tem medo de não ser compreendido. "Mas a situação está difícil."

Delgado é um dos nomes que articulam a manifestação marcada para esta manhã na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação. O protesto é organizado pelo movimento Gastronomia Viva, uma espécie de evolução do SOS Bar e Restaurantes, que foi às redes sociais no início da quarentena para alertar sobre um possível colapso na área. Juntam-se ao protesto a Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes) e a ANR (Associação Nacional dos Restaurantes).

Mais tarde, ainda nesta quarta-feira, o Sinthoresp, sindicato dos trabalhadores do setor, comanda outra manifestação, também na avenida Paulista.

A primeira reivindicação dos restaurantes é ter "um lugar à mesa" junto ao governo —ou seja, um canal de diálogo, para não serem pegos de surpresa, como ocorreu depois do anúncio do retorno de São Paulo às fases vermelha e laranja do plano de quarentena estadual.

Nas próximas semanas, a capital passa a ficar na fase vermelha aos sábados, domingos e feriados —ou seja, nos dias 30 e 31 de janeiro e 6 e 7 de fevereiro—, e também entre 20h e 6h nos demais dias. Com isso, o serviço presencial em restaurantes, mas também no comércio e em serviços não essenciais, caso de shoppings e salões de beleza, estão proibidos de funcionar.

Nos demais períodos, a cidade segue as regras da fase laranja, que permite o funcionamento de todos os serviços, com a exceção de bares, mas com mais restrições: capacidade limitada a 40%, clientes obrigatoriamente sentados no caso dos restaurantes e funcionamento de até oito horas consecutivas. Nessa etapa, os bares não poderão funcionar com atendimento presencial e ficarão fechados.

"A gente acredita nas medidas sanitárias e que os protocolos precisam existir. Mas não achamos que as regras que estão sendo estabelecidas agora são as melhores", afirma Delgado. "Por que não pode ter gente no restaurante, que é um espaço de convivência responsável, mas pode ter ônibus e aviões cheios?", questiona.

O restaurateur considera que o setor está pagando pelos excessos cometidos pela população nas festas de fim de ano. "Os salões estavam abertos entre setembro e dezembro, quando a curva de contágio estava caindo", lembra. Com as taxas de infecção por Covid-19 crescendo e a ocupação de leitos em hospitais em alta, porém, infectologistas recomendam que sejam evitadas saídas desnecessárias de casa, sobretudo em locais fechados e com pouca ventilação.

Ao ser questionado sobre o pedido de manter os salões abertos neste momento de aumento no número de casos e da média móvel de mortes, o empresário diz saber que não há garantia de segurança nos empreendimentos. "Somos espaços de trabalho responsável. A gente cria protocolos para ter um ambiente higienizado, diminuir a possibilidade de contatos, ter distanciamento. É diferente de receber um grupo de amigos em casa, das aglomerações nas esquinas, das festas nas praias", diz.

"Se partíssemos do princípio de que está todo mundo fechado em casa, se cuidando, entenderíamos. Mas sabemos que não está", diz.

Delgado pondera que muitos restaurantes de São Paulo estão chegando ao limite financeiro. "Já não temos mais recursos, já nos endividamos, não temos dinheiro para manter nossos negócios abertos", diz. Ele considera que os diferentes programas lançados no último ano ajudaram o setor, mas é preciso fazer mais. "Como empresário, me sinto mais confortável no Brasil. Teve a redução de jornada de trabalho, empréstimo do BNDES, o Desenvolve SP. Mas a pandemia continua."

Sem mostrar dados, ele opina que manter os salões das casas abertos não deve levar a situações extremas como as vistas em Manaus, onde o sistema de saúde colapsou. "O que aconteceu lá é que o governo e as pessoas responsáveis não se articularam adequadamente para garantir o oxigênio dos hospitais. Muito se fala das manifestações do comércio [feitas por empresários em dezembro para pressionar o governador do Amazonas e manter os empreendimentos funcionando]. Mas e as reuniões familiares e as festinhas de Natal?", diz.

"Aquilo foi terrível e, claro, não queremos que se repita em nenhum lugar. Mas, no nosso caso, se você soubesse dos cuidados que estamos tendo e como tentamos balancear o risco da pandemia, o de perder o emprego, o de fechar os negócios… Só queremos chamar a atenção e entender por que culpam os restaurantes. Queremos ser parte da solução, não do problema", afirma.

COMO FICA NA FASE LARANJA

Restaurantes

  • Capacidade de, no máximo, 40%

  • Horário reduzido a oito horas por dia, após as 6h e antes das 20h

  • Consumo local e atendimento exclusivo para clientes sentados

  • Venda de bebidas alcoólicas até as 20h

Bares:

  • Sem atendimento presencial

Eventos e atividades culturais

  • Capacidade de, no máximo, 40%

  • Horário reduzido a oito horas por dia, após as 6h e antes das 20h

  • Obrigação de controle de acesso, hora marcada e assentos marcados

  • Assentos e filas respeitando distanciamento mínimo

  • Proibição de atividades com público em pé


COMO FICA NA FASE VERMELHA

Dias: 30 e 31 de janeiro e 6 e 7 de fevereiro e também entre 20h e 6h nos demais dias

Restaurantes e atividades culturais

  • Atividades presenciais não permitidas aos fins de semana e feriados. Durante a semana, entre as 20h e as 6h do dia seguinte, também não podem funcionar​

Bares

  • Sem atendimento presencial

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