Culinária Paraense faz sucesso com restaurante dentro de lava-rápido na zona leste de SP

Casa oferece açaí salgado, tacacá, maniçoba e outras receitas tradicionais do Norte do país

Everton Pires
São Paulo

Apesar do local se chamar Culinária Paraense e de exibir na fachada uma bandeira vermelha com uma faixa transversal branca e uma estrela azul, o proprietário Renê Gomes, 33, repete com frequência a mesma pergunta a potenciais clientes de seu restaurante: "Você conhece?".

Na sequência, ele explica aos novatos sobre o pratos que serve na casa, a fim de prepará-los para uma viagem gastronômica até a região Norte do país —o destino, é claro, é o Pará.

As receitas tradicionais do estado são a especialidade do endereço, que ocupa uma sala dentro do lava-rápido da família, instalado bem frente à estação Dom Bosco, na Vila Carmosina, zona leste de São Paulo.

No Culinária Paraense são vendidos pratos com tacacá, vatapá, maniçoba e arroz paraense
No Culinária Paraense são vendidos pratos com tacacá, vatapá, maniçoba e arroz paraense - Renê Gomes/Divulgação

Renê nasceu no Pará, mas logo veio para a capital paulista. Morou pelas periferias de ambos locais, em bairros como Cremação, em Belém, e Cidade Tiradentes, São Mateus, Itaquera e Rio Grande da Serra, já no Sudeste.

Ex-publicitário, ele mudou de área em 2016, quando aceitou um convite para gerenciar um bar e pizzaria. Lá, aprendeu a fazer as compras, a contabilidade e toda a administração de um comércio.

Assim, depois que a família adquiriu o imóvel que transformaria em lava-rápido, Renê aproveitou um cômodo que estava livre e o que havia aprendido sobre restaurantes para montar um negócio que tivesse a sua cara. "Não sou nem um pouco paulista. Sou paraense, tá? Só moro em São Paulo", diz.

No começo de 2021, abriu o Culinária Paraense. O empreendimento nasceu com um freezer, uma geladeira e, principalmente, o apoio da família —especialmente o da mãe, Niranil Castro Gomes, 56, que assumiu a cozinha. "Domino bem a culinária raiz", ela diz.

Alguns dos ingredientes do menu não são encontrados com facilidade em São Paulo. Itens como camarão, polpas de frutas e farinha são enviados por familiares que estão no Pará e as encomendas são retiradas no aeroporto de Guarulhos.

É por isso que o comércio opera somente aos finais de semana por enquanto. "É investimento aqui e lá também. Por exemplo, quando o açaí é batido na terra da minha família, na Ilha das Onças [comunidade ribeirinha, a cerca de 4 km de Belém], tem que ser congelado na hora. Conseguimos comprar um freezer para o meu tio. Por isso que chega bom [em São Paulo]", explica Renê.

Devido a tais obstáculos, um restaurante tradicional do Pará é raridade em São Paulo. "Não tem lugares paraenses assim. É difícil de encontrar. Isso é por experiência própria. A gente busca farinha, não tem farinha. Busca açaí, não tem açaí", explicam mãe e filho. ​

Por esse motivo, muitos paraenses acabam buscando o local para matar a saudade de casa. "A maioria [do público] é daqui da região, mas tem pessoas que vêm de Osasco, do Horto Florestal. Já ligaram para mim e perguntaram se tem comida paraense de verdade", ele conta.

O restaurante recebeu a visita de conterrâneos logo na inauguração, atraídos por uma faixa. "Escrevi 'paraense'. Aí coloquei apenas a data de inauguração. No mesmo dia, entrou uma menina aqui e perguntou se tinha tacacá". Depois disso, Renê pintou no muro a bandeira do estado.

E, sim, tem tacacá. Assim como tem maniçoba, açaí, frango no tucupi, camusquim, caruru, arroz paraense e sucos de frutas como buriti, cacau e bacuri para acompanhar.

Quem não está habituado com a culinária do Norte pode se surpreender com alguns sabores. O açaí, por exemplo, é bem diferente do comercializado em São Paulo, que é doce e servido como sorvete.

"[No Pará, a fruta] é tipo um feijão. Não se come feijão com arroz? Lá é açaí com peixe, camarão, ovo, mortadela, com o que você quiser comer", explica Niranil. Para Renê, é preciso esquecer a ideia de que açaí é sobremesa.

Renê, à direita, no restaurante Culinária Paraense
À direita, Renê Gomes, proprietário do restaurante Culinária Paraense - Everton Pires/Agência Mural

Para ajudar aqueles para quem o açaí salgado é uma novidade, Renê detalha as receitas da casa e indica o que seria o mais adequado para o paladar do cliente. "A gente consegue perceber se a pessoa é paraense ou não, mas sempre perguntamos. Se não for, eu tento explicar que o açaí a gente come com farinha, carne-seca."

Hoje, ele não se vê mais sem o Culinária Paraense, onde apresenta ao mundo o orgulho que tem da terra natal.

Para o futuro, ele espera transformar o restaurante em um espaço aos modos do Centro de Tradições Nordestinas, no bairro do Limão, em São Paulo —ou seja, um local onde o público possa experimentar a culinária, a música e o ambiente paraense.

"Quando eu falava que queria tomar um suco de bacuri, ninguém conhecia. Queria comer uma maniçoba, e ninguém sabia o que era. Agora, com o restaurante, as pessoas podem saber."

Culinária Paraense

Agência Mural

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