São Paulo é a maior cidade do Brasil graças a pessoas de fora, estrangeiros e, sobretudo, brasileiros de outros estados. A capital paulista também é conhecida pela sua enorme oferta de restaurantes. Cruze os dois fatos e fica claro que há na metrópole opções de cozinhas dos mais diversos pontos do país.
Se a mistura do arroz com o feijão —não importa de que tipo— parece unir nossas dimensões continentais, há pratos que se mantêm regionais, difíceis de encontrar em qualquer canto, seja pela carência de ingredientes, pela ausência de quem saiba executá-lo, ou pela simples falta de público.
Por aqui, não importa se você fala macaxeira, aipim ou mandioca. Jerimum, abóbora ou moranga. Bergamota, tangerina ou mexerica. Dá para se sentir mais perto de casa dentro dos limites de São Paulo. Comer maniçoba, baião de dois ou um xis gaúcho.
Dá também para conhecer pratos tradicionais de lugares longínquos. Para ir ao Acre, é preciso tomar ao menos dois aviões, mas para ir até a Casa Tucupi, dedicada à comida do estado, basta ir até a Vila Mariana.
Goiás, Pará, Espírito Santo ou Piauí, embarque no nosso roteiro e bom apetite!
Colaborou: Marina Consiglio.
Norte
Amazônia Soul
O restaurante originalmente do Rio de Janeiro acaba de abrir uma filial em São Paulo, onde serve pratos como tacacá e maniçoba —ensopado com carnes de porco e folha de mandioca, mas chama atenção pelos diversos sabores de tapioca. Bem servida, ela pode chegar à mesa recheada com carne de caranguejo, carne seca com queijo de coalho ou vatapá. Entre os sabores doces, há queijo de coalho com doce de cupuaçu. Para se refrescar, há sorvetes da marca Cairu, de Belém (PA), de sabores como o de castanha-do-pará e o de bacuri, fruta amazônica.
R. Áurea, 361, Vila Mariana, região sul, tel. 5083-4046. 45 lugares. Ter. a dom.: 12h às 23h.
Casa Tucupi
Especializado na culinária do estado do Acre, o restaurante funciona em uma rua residencial na Vila Mariana. A casa serve pratos típicos, como o tacacá, que leva tucupi (caldo amarelo extraído da raiz da mandioca), camarão, goma de tapioca e jambu, uma erva amazônica que provoca dormência na boca, além da maniçoba, ali servida com arroz e farofa. Para beber, há sucos de taperebá, fruta também conhecida como cajá, e cupuaçu.
R. Mj. Maragliano, 74, Vila Mariana, tel. 94241-2776. Qui.: 16h30 às 22h. Sáb. e dom.: 12h30 às 20h.
Quintal Paraense
Em uma galeria da rua Augusta repleta de food trucks fica um pequeno contêiner comandado por um trio de paraenses. Lá, oferecem pratos típicos do estado, como a maniçoba. Ela está presente no menu todos os dias, diferente de outras iguarias, como o arroz de pato, que aparecem no cardápio uma vez por semana. Para adoçar na sobremesa, há sorvete em sabores como castanha-do-pará com cupuaçu.
R. Augusta, 1.291, Consolação, tel. 98465-2140. Ter.: 16h às 22h. Qua.: 16h às 23h. Qui. e sex.: 16h às 24h. Sáb.: 12h às 24h. Dom.: 12h às 22h.
Nordeste
Azulejo Pernambucano
Como o nome já diz, o restaurante que ocupa um sobrado em Perdizes é de culinária pernambucana. Alguns pratos do cardápio homenageiam cidades do estado, como o Olinda, que leva camarões ao molho de abóbora, arroz de coco e trio de pimentões confitados. O arrumadinho de carne da casa é acompanhado de feijão-verde. Para adoçar, há clássicos como o bolo de rolo e a cartola (banana frita e queijo manteiga polvilhados com açúcar e canela).
R. Caraíbas, 871, Perdizes, região oeste, tel. 3804-7143. 70 lugares. Qua. a sáb.: 12h às 22h30. Dom.: 12h às 17h.
Casa de Ieda
A baiana Ieda de Matos oferece comida da chapada Diamantina em seu miúdo restaurante. Servidas em marmitas de ágata, receitas como o godó (banana, carne de sol, arroz vermelho e chips de batata-doce) e baião de dois podem ser acompanhadas de sucos de frutas como mangaba, abundante na região da Bahia, e seriguela. Para a sobremesa, pode vir creme de tapioca coberto por furrundu, um doce
de mamão. (veja pág. 78)
R. Ferreira de Araújo, 841, Pinheiros, região oeste, tel. 4323-9158. 18 lugares. Ter. a sex.: 11h30 às 15h. Sáb.: 12h às 16h.
Casa do Norte Cantinho do Martinho
Frequentado por alunos da USP, que fica nas proximidades, e por moradores do Butantã, a casa, com calçada apinhada de gente, não economiza na decoração de artesanatos coloridos. Entre as receitas há baião de dois, buchada, joelho de porco, codorna e mocofava (caldo de mocotó com fava). Para beber, vasta opção de cachaças com nomes, no mínimo, excêntricos. Nos fins de semana, os convivas dançam ao som de shows de forró pé-de-serra.
Av. Corifeu de Azevedo Marques, 1.338, Butantã, região oeste, tel. 3722-1585. 120 lugares. Seg. a sáb.: 12h à 1h.
Fitó
Além do ambiente agradável e do serviço cordial, o restaurante se destaca pelos pratos piauienses simples e saborosos. O receituário com ingredientes típicos começa já nas entradas: entre as opções, há pequenos pastéis recheados com carne de sol e banana-da-terra, bobó de camarão ou queijo de coalho com melaço. Já entre os principais, entre fixos e os que variam conforme o dia da semana, boa pedida é o maria isabel (arroz com carne de de sol da casa em cubos, acompanhado de macaxeira cozida e vinagrete de tomate). Para matar a sede, experimente o refrigerante de cupuaçu.
R. Card. Arcoverde, 2.773, Pinheiros, região oeste, tel. 3032-0963. 90 lugares. Seg.: 12h às 15h. Ter. a sex.: 12h às 15h e 19h às 23h30. Sáb.: 12h30 às 16h30 e 20h às 23h30. Dom.: 12h30 às 17h.
Jesuíno Brilhante
Ao subir as escadarias do pequeno sobrado, a clientela se depara com um ambiente simples, com decoração que remete ao Nordeste, repleta de artesanatos. O cardápio da casa é inspirado na culinária do sertão do Rio Grande do Norte, com muito leite e carne. Entre as opções, estão a carne de sol na nata e a paçoca de carne de sol (moída com cebola roxa, manteiga de garrafa e farinha), que podem ser acompanhadas de feijão-de-corda e queijo de coalho. Para beber, peça o refrigerante de caju.
R. Arruda Alvim, 180, Pinheiros, região oeste, tel. 2649-3612. 32 lugares. Seg. a sex.: 12h às 15h. Sáb.: 12h às 16h. Estac. a partir de R$ 10 (nº 119).
Centro-oeste
Dona Doceira
A doceira Adriana Lira Tarandach recebe em seu espaço clientes que querem experimentar quitutes da culinária de Goiás, sua terra natal. Inspirada em receitas da poeta, doceira e conterrânea Cora Coralin, ela oferece o Café da Tarde Goiano, espécie de menu-degustação em que aparecem a pamonha de sal recheada de linguiça e queijo, bandejas repletas de docinhos como figo recheado com castanhas, limãozinho galego recheado com doce de leite e canela, e o brigadeiro de milho, além de bolos, como o feito com farinha de araruta —extraída da raiz da planta de mesmo nome— e coco.
R. Tabapuã, 838, Itaim Bibi, tel. 2157-6114. Seg. a sex.: 11h às 19h. Sáb.: 11h às 17h.
Sobaria
Com sabor e visual inegavelmente asiáticos, o sobá é uma massa que nasceu em Okinawa, no Japão, e foi levada ao Mato Grosso do Sul por imigrantes daquele país. O restaurante é especializado na receita e a serve com diferentes tipos de proteínas, como frango, camarão, filé-mignon e peixe. Elas são mergulhadas em um caldo quente, acompanhado de macarrão tipo sobá, cebolinha e omelete.
R. Aurea, 343, Vila Mariana, região sul, tel. 5084-8014. 70 lugares. Seg. a qui. e dom.: 11h45 às 23h. Sex. e sáb.: 11h45 às 24h.
Sudeste
Arimbá
Junção das culinárias caipira e tropeira, a cozinha do restaurante comandado pela chef capixaba Angelita Gonzaga prepara receitas como o caldinho de feijão-manteiga das montanhas do Espírito Santo, a rabada, acompanhada de arroz e angu, e o rojão, um espeto de carne suína servido com molho de maracujá, farofa de vinagrete e pimenta-de-cheiro.
R. Min. Ferreira Alves, 464B, Perdizes, região oeste, tel. 3477-7063. 80 lugares. Qua. e qui.: 12h às 17h. Sex. e sáb.: 12h às 23h30. Dom.: 12h às 17h. Estac. a partir de R$ 12 (av. Pompeia, 712).
A Baianeira
A cozinha do sobrado é comandada pela chef mineira Manuelle Ferraz, que prepara receitas do Vale do Jequitinhonha (região de Minas Gerais que faz fronteira com a Bahia). De lá, saem pratos como a galinhada com rúcula, mamão verde e farofa, ou, aos sábados, peixe do dia com purê de coentro, vinagrete de feijão-verde, chips de batata-doce, arroz e farofa. Mas as especialidades do lugar são os pães de queijo, recheados com ingredientes como carne de porco, carne de panela com ovo ou goiaba e doce de leite.
R. Da. Elisa, 117, Barra Funda, tel. 2538-0844. 17 lugares. Ter. a sáb.: 9h às 17h.
Badejo
De culinária capixaba, o restaurante foi inaugurado em 1990 e tem uma ampla seleção de moquecas no cardápio, como a de badejo com ostras, a de lagosta e a da casa, que mistura badejo, lagosta, camarão rosa, camarão rosinha, mexilhão e lula, guarnecida de arroz, pirão e farofa de banana-da-terra. Entre as opções, há ainda peixe na telha e polvo à vinagrete.
Al. dos Jurupis, 813, Indianópolis, tel. 5055-0238. 86 lugares. Ter. a sex.: 12h às 15h e 18h às 22h30. Sáb.: 12h às 23h. Dom.: 12h às 21h30.
Consulado Mineiro
A casa de culinária mineira aposta nas porções fartas. Na matriz, na praça Benedito Calixto, as mesas da calçada ficam cheias aos sábados, dia da feira de antiguidades. Um dos pratos mais pedidos pela clientela, formada por famílias, casais e estrangeiros turistando, é o Zona da Mata, com carne de sol desfiada na manteiga, tutu, couve refogada, arroz e mandioca frita. Outra opção é o mexidão de arroz, com carne de sol, lombo, feijão, couve, ovo, torresmo e banana à milanesa. Para acompanhar, há perto de cem rótulos de cachaça.
Pça. Benedito Calixto, 74, Pinheiros, região oeste, tel. 3064-3882. 120 lugares. Ter. a sáb.: 12h às 24h. Dom.: 12h às 23h. Estac. a partir de R$ 7 (r. Teodoro Sampaio, 1.020 - no almoço).
Garimpos do Interior
Simples, o restaurante serve pratos de fazenda, inspirados nas culinárias de cidades do interior do Sudeste. Entre as opções, há galinha caipira (servida aos domingos), a vaca atolada —um cozido de costela e mandioca— e a Rabada do Vale (rabada cozida com batata-doce, batata inglesa e ora-pro-nóbis, folha rica em proteína, guarnecida de arroz, angu, feijão e farofa). Entre as sobremesas estão quitutes como a cocada cremosa com queijo.
R. Marco Aurélio, 201, Vila Romana, região oeste, tel. 3862-9345. 85 lugares. Ter. a sex.: 12h às 16h. Sáb. e dom.: 12h às 18h.
Maria Farinha Cozinha
Num salão simples perto do largo da Batata, a cozinheira Lisandra Amaral prepara pratos da culinária do interior paulista, com receitas como o arroz de sururu ou o mexido a Camões —arroz, feijão, banana-terra, couve, farinha de milho e paçoca de carne de sol. Para petiscar, a dica é a porção de bolinho caipira, feito à moda de Cachoeira Paulista, com farinha de milho e recheio de carne moída. Para a sobremesa, fique com a torta de cacau e amendoim com caramelo de cupuaçu.
R. Pe. Carvalho, 771, Pinheiros, região oeste, tel. 3031-5496. 42 lugares. Ter. a sex.: 12h às 15h. Sáb.: 12h às 17h.
Sul
Ancho Restaurante e Bar
A casa, que antes se chamava Báh Hamburgueria Gaúcha, mudou de nome e de donos neste mês, mas promete manter um cardápio que destaca as carnes e o tradicional xis gaúcho, um sanduíche feito em enorme pão redondo que pode ter os mais diversos recheios. Para se sentir no Rio Grande do Sul, a pedida é o xis coração de galinha.
Al. Br. de Limeira, 620, Campos Elíseos, tel. 3425-7175. 38 lugares. Seg. a sex.: a partir das 11h. Sáb.: 11h às 17h.
Casa di Paolo
Os rodízios de carne do Sul, chamados de espeto corrido, são famosos, mas o rodízio de galeto, nas galeterias, também é uma tradição gaúcha, de forte influência italiana. Nos restaurantes desta rede, que chegou recentemente a São Paulo, os clientes podem comer massas e pratos feitos com frango à vontade. O destaque é o Galeto al Primo Canto, que, assado na brasa, fica crocante por fora e macio por dentro.
Av. dos Bandeirantes, 1.663, Vila Olímpia, tel. 2478-0990. 230 lugares. Seg. a sex.: 11h30 às 16h e 18h às 23h30. Sáb.: 11h30 às 23h30. Dom.: 11h30 às 22h.
Consulado Gaúcho
Enquanto os paulistanos se esbaldam com uma oferta generosa de hamburguerias, quem mora no Rio Grande do Sul está acostumado com os grandes sanduíches, também servidos em São Paulo nesta casa no Campo Belo. O xis ali é recheado com milho, ervilha, alface, tomate, maionese e queijo, além de uma carne, que pode ser linguiça, costela bovina desfiada ou coração de galinha. O local ainda reúne fãs fiéis à cerveja gaúcha Polar, e vende ingredientes para o preparo de chimarrão.
R. Antônio de Macedo Soares, 1.377, Campo Belo, tel. 5093-7024. Ter. a qui.: 18h às 23h. Sex. a dom.: 12h às 23h.
El Pampero
O pequeno restaurante, inaugurado no começo deste ano, serve carnes como o bife ancho e a linguiça campeira. Eles podem ser acompanhados de arroz de carreteiro e pimentão grelhado com queijo provolone e ovo assado. Também há sanduíches, como o choripán (linguiça, cebola caramelizada e chimichurri) e o Matambre no Pão (capa de costela bovina, ovo, queijo, pancetta e legumes).
R. Tucambira, 90, Pinheiros, região oeste, tel. 3819-0208. 23 lugares. Seg.: 12h às 15h. Ter. e qua.: 12h às 16h e 19h às 22h. Qui. e sex.: 12h às 16h e 19h às 23h. Sáb.: 12h às 23h. Não aceita tíquetes.
Tordesilhas
Há mais de 25 anos, Mara Salles comanda seu premiado restaurante com receitas e ingredientes do país todo. Na entrada, a Comissão de Frente reúne pastel de camarão, marinada de abobrinha, queijo de coalho fresco com mel de rapadura e carne de sol em manteiga de garrafa. Nos principais, destaque para o barreado, prato típico do litoral do Paraná, um cozido de carne feito por horas em panela de barro. Para adoçar, na sobremesa aposte no pavê de chocolate com café e cristais de pimenta-de-cheiro. Há ainda uma seleção de 21 cachaças premiadas, como a Casa Bucco, de Passo Velho (RS) e uma carta dedicada a vinhos nacionais.
Al. Tietê, 489, Cerqueira César, região oeste, tel. 3107-7444. 70 lugares. Ter. a sex.: 18h à 0h30. Sáb.: 12h às 17h e 19h à 0h30. Dom.: 12h às 17h. Não aceita tíquetes. Valet R$ 25.
Aqui tem?
Chefs contam de onde vêm seus ingredientes
“A maior parte do que a gente usa vem do Pará, caso do tucupi e do jambu. Para quem quiser encontrar esses produtos em São Paulo, eu indico a loja É Do Pará (edoparasp.com.br), na Saúde.”
Amanda Vasconcelos, da Casa Tucupi
“Eu trago do Piauí a cajuína e os doces. Uso muito as casas do norte do Brás, na rua Paulo Afonso, para comprar itens como arroz vermelho, os feijões e manteiga de garrafa.”
Cafira Foz, do Fitó
“Eu mesma planto parte dos ingredientes que uso nas minhas receitas, na minha propriedade em Terezópolis de Goiás (GO), como o limão-galego e o milho. Já o pequi e guariroba eu não planto, mas trago de lá.”
Adriana Lira, do Dona Doceira
Aqui não tem?
Do que jornalistas da Folha sentem falta fora de casa?
“Da canjiquinha [cozido de milho triturado com carne de porco]. Também de outros tipos de linguiça que não a calavbresa, do tutu e do queijo com goiabada, mas aquela molinha.”
Daniela Mercier, de Belo Horizonte (MG)
“De maria isabel [arroz com carne-seca] com farofa de banana e de pera de piraputanga [peixe de rio].”
Dhiego Maia, de Guiratinga (MT)
“Sinto falta de feijão-preto e das casas de suco, que aqui são mais lanchonetes.”
Marina Estarque, do Rio de Janeiro (RJ)
“Da galinha cozida com batata no sangue coagulado, mas comida com coentro é a primeira coisa que como quando chego lá.”
Pedro Diniz, do Recife (PE)
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