Um boteco com nome de artista vem atraindo um público novo para um canto até há pouco desocupado da Vila Buarque, no centro de São Paulo. É a história do Van Grogh, que migrou dos lados da Universidade Presbiteriana Mackenzie para uma praça no mesmo bairro e viu sua frequência se renovar.
O trocadilho com o nome do pintor Vincent Van Gogh não é só uma gracinha. Wedson Stavarengo, o dono do bar, gosta tanto de Van Gogh que batizou seu gato com o nome do artista.
Além disso, Stavarengo também é pintor e formado em artes plásticas. Alguns quadros feitos por ele, inclusive, decoram o ambiente interno do estabelecimento e dão cor às paredes, com desenhos de figuras como Frida Kahlo e Marielle Franco. Sua companheira, Roberta Lobo –hoje, também sócia–, até chegou a perguntar se ele estava montando um bar só para colocar seus quadros. "As duas coisas", respondeu ele.
Junto com seus quadros, há desenhos feitos pelo tatuador Matheus Alves nos tijolos brancos da parede com rostos de artistas como Cartola, Criolo e Elza Soares.
A fachada também tem um toque artístico herdado do endereço antigo do boteco, na rua Dr. Cesário Mota Júnior, também na Vila Buarque. Os azulejos com desenhos e poemas feitas por clientes que decoravam o primeiro endereço foram transformados em lambe-lambe para a nova casa, há um ano na praça Alfredo Paulino.
O primeiro Van Grogh abriu em 2017 de olho no público universitário devido à proximidade com a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Lá, o bar acabou famoso por ter o melhor banheiro da região, único e disputado. "A gente sempre quis que o bar tivesse uma boa relação com os clientes", diz Stavarengo.
A clientela ganhou um novo perfil no endereço atual, quando o irmão gêmeo de Wedson, Wilson, entrou na sociedade. Com as novidades, a faixa etária do público subiu para os 30 anos e o bar se vê cada vez mais como um ambiente para "todes", com dois banheiros unissex. "A diversidade para a gente é uma coisa natural", afirma.
O bar diz ainda que preza pela diversidade também no menu. Como sempre pode ter uma pessoa que não curte tomar litrão, o cardápio também lista rótulos de cerveja artesanal, vinhos e drinques com álcool e sem álcool.
Mesmo próximo à Cracolândia, o negócio cria clima descontraído na praça. A disputa é grande para pegar uma das cadeiras de praia coloridas, especialmente em dias de sol. O Van Grogh não é o pioneiro na escolha do assento, mas a escolha foi feita para não interferir tanto no ambiente.
O bar está coladinho ao Minhocão, um dos lugares apelidados de praia dos paulistanos pelo clima que ganha aos finais de semana, dias em que está fechado para carros, e fica cheio de gente que vai lá para caminhar, andar de bicicleta e pegar um sol. Até a praça do Van Grogh tem cara de prainha —de concreto, é verdade. "Tem dias que chove bastante e só falta trazer areia, porque água já tem", diz Wilson.
A praça chegou a ser pintada pelos gêmeos Stavarengo, que também afirmam ir até à prefeitura para cobrar a manutenção do espaço, já integrado ao bar. E o movimento do público trouxe alguma segurança para o entorno. Com tudo isso, o Van Grogh conquistou, também, uma relação amigável com a vizinhança.
É por causa dessa boa relação com os vizinhos que os donos do bar ainda estão estudando como fazer apresentações de música ao vivo, uma demanda da clientela. "É importante ter esse espaço da empatia, de se colocar no lugar do vizinho que precisa também ter o seu espaço", afirma Wilson.
Mesmo sem agenda de shows ainda, o boteco tem uma trilha sonora marcante, só de música brasileira, de clássicos aos novos talentos. O que parece certo para o futuro do bar é a ampliação do horário de atendimento com a ampliação da cozinha.
Há um mês, a casa começou a servir almoços aos finais de semana. Nestes dias, a casa prepara pratos como a feijoada, por R$ 60, ou o talharim com shiitake, por R$ 45. Mas no dia a dia, o destaque ainda são petiscos de boteco, como o sanduíche de carne louca, por R$ 28, ou a poção de calabresa flambada na cachaça, no valor de R$ 34.
Comentários
Ver todos os comentários