Se os dias do Bom Retiro são regidos pelo vaivém do comércio e das vitrines, as noites são tranquilas. Há uma ou outra lanchonete aberta, um restaurante coreano ali, outro paraguaio lá, portas discretas que escondem karaokês. Por isso, o burburinho da rua Silva Pinto destoa.
Espalhado na calçada, um pessoal descolado toma drinques e come petiscos de boteco enquanto conversa ao som de música brasileira no único ponto aberto naquela rua da região central de São Paulo.
É sábado à noite e estamos no Carmem, novo bar que vem engrossar o caldo cultural que marca o bairro, um tradicional reduto de imigrantes judeus e coreanos.
"O bairro tem toda essa miscelânea cultural, mas ainda não tinha um bar mais moderninho", diz Helder Ferreira, morador do Bom Retiro e sócio da casa junto ao fotógrafo Rafael Paixão. "Sempre soube que teria que ser um bar de drinques gostosos, a preços acessíveis", afirma.
Ferreira também diz ter a preocupação de atrair mais o público gay ao Bom Retiro. "A gente existe aqui no bairro, mas não tem nada para a gente por aqui", diz ele, que é gay. Mas a casa é aberta a todos —ainda que o espaço se venda como a "bandeira gay do Bom Retiro". "Só quero que todos se sintam bem aqui."
Embora o nome Carmem remeta à Espanha, Ferreira conta que é o nome de sua mãe, mineira e, segundo ele, "cozinheira de mão cheia". Mesmo assim, eles usam essa referência acidental para fazer um aceno ao Mediterrâneo no menu. "Não queríamos que fosse nada temático."
Criado por Pedro Albbez, da Void, misto de loja e bar hipster com unidade em Pinheiros, o cardápio de comes é curto e traz itens como o vinagrete do mar (R$ 35) e o escabeche de sardinhas (R$ 25). De massa sequinha e alongada, o pastel de queijo meia cura usa kimchi, a acelga fermentada coreana, da loja em frente ao bar. Custa R$ 25 com três unidades. Já a porção de croqueta de mortadela vem com molho de mostarda feito ali e sai por R$ 28.
Mas o lance mesmo é ir lá para beber. A carta destaca drinques com preços entre R$ 28 e R$ 38. Há ainda uma seção com coquetéis brasileiros —caipirinha, bombeirinho e rabo de galo, cada um por R$ 28. Aos abstêmios, há seção de receitas sem álcool.
Entre as criações da chefe de bar Francini Reiter está o Carmine, com uísque Jameson, xarope de framboesa, limão e Luxardo Marasquino (R$ 32). Ferreira diz que o nome do drinque é o mesmo da praça que há no fim da rua do bar —outras receitas autorais também fazem referência ao Bom Retiro.
"A gente quer ser um bar para o bairro", diz, ressaltando as relações que procura manter com a vizinhança. Mesmo assim, ele espera que a abertura traga um público novo para a região. "Agora existe um bar para as gays beberem no Bom Retiro."
Comentários
Ver todos os comentários