A pandemia colocou muita coisa de cabeça para baixo —na área da comida, um dos efeitos imediatos foi que muita gente foi parar no fogão, o que revelou, a parte deles, um insuspeitado prazer de lapidar a própria refeição.
Quanto aos restaurantes, porém, a mudança foi brutal, e para eles é difícil encontrar qualquer rasgo positivo na situação em curso.
Para os clientes, o ato de comer fora e compartilhar a arte de profissionais e seu ambiente de convívio público ficou confinado à mesma sala de sempre, com o expediente da entrega de comida em casa, o delivery.
Este sistema nasceu da conveniência, alheia à exigência gastronômica. Mas hoje não existe escolha, e para ao menos tatear a nostalgia dos restaurantes favoritos, resta ao público a muleta do delivery —à qual, na verdade, neste novo panorama, muita gente agora se entrega com prazer.
A impunidade de comer e ir embora já não existe para a maioria. A comida impecável, em belos arranjos, emanando vapores e aromas, não é igual à que saía direto do fogão profissional para a mesa.
Mas pela ânsia de recordar aquelas emoções, vemos um crescendo de entregadores singrando as ruas, e restaurantes refinando suas entregas, embalagens, incluindo até mensagens simpáticas e minuciosas instruções de uso.
E o público, já cansado de dois meses de lides na cozinha, entrega-se a uma verdadeira babel culinária.
A comida caseira, do cotidiano, tem uma certa neutralidade, de sabores familiares que intercalam os de restaurantes variados que não são visitados todo dia. Como o pão que comemos entre os vinhos para limpar o paladar numa degustação.
Mas nesta era de cabeça para baixo, o delivery faz a comida do mundo invadir nossa mesa. Não é só mais pizza: é tudo ao mesmo tempo agora, ao sabor dos impulsos nem sempre harmônicos dos moradores confinados na mesma casa.
Se você não imaginava ver a comida do Fasano pousar na sua modesta louça, agora basta um clique para ter à frente um prato de penne bem al dente com bacalhau de primeira, ou um clássico como o tournedos à Rossini —filé guarnecido de caro foie gras.
Quer menos pompa, mas ainda com a sofisticação de um hotel cinco estrelas? Faça um piquenique em casa auspiciado pelo Emiliano —os acepipes vêm com guardanapos de pano, vinho importado, sanduíches e frios, pães e frutas.
Na cacofonia do delivery, você pode almoçar no Japão, com um tirashizushi (arroz de sushi coberto de impecáveis peixes crus), ou um sukiyaki com ovo perfeito, do Aizomê; e jantar do lado oposto do planeta —por exemplo, um farto bacalhau do Rancho Português, arrematado com pastel de natas.
Para compensar o açúcar da sobremesa, o almoço do dia seguinte pode se inclinar para a picância e acidez do asiático Tan Tan, que ainda por cima traz diversão: para um prato como o Tantanmen (macarrão com caldo e carne de porco), os ingredientes vêm separados, com minuciosas instruções de como aquecer e montar.
Sábado à noite requer a romântica cozinha francesa? O Le Jazz te envia o clássico boeuf bourguignon (de bochecha de boi, boa surpresa) preparado com vinho tinto e servido com purê de batatas. No dia seguinte, o domingo é de churrasco, e ele pode vir da Argentina, com bife ancho da Corrientes 348, ou com carne brasileira maturada a seco, como o New York strip com osso e tudo, pedido no Cór.
A volta ao mundo pode passar pelo Caribe, com a jambalaya (prato de arroz da cozinha créolle) repleto de produtos orgânicos do Le Manjue; ou aportar na Bahia, com os ravióli de tapioca e queijo Canastra do Capim Santo.
O samba do crioulo doido pode ter no outro almoço a cozinha multicultural do Sal (sanduíche de barriga de porco, ragu de javali com nhoque de mandioquinha); ou um respiro trivial, com o bife à milanesa com salada de batata do Ritz.
E para fechar, que tal o restaurante com a cozinha cosmopolita que tem a cara de São Paulo, o Spot (com seus clássicos penne oriental e steak béarnaise); depois jantar um banquete amazônico, com a suculenta banda de tambaqui lambida pela brasa silvestre do Banzeiro? Mesmo aprisionados entre quatro paredes, porque não sonhar com todos os quadrantes, inclusive a ferida, mas ainda frondosa, floresta?
Confira como pedir nos restaurantes citados:
Aizomê ★★★
Pedidos pelo deliverydireto.com.br/aizome; aplicativo Aizomê, tel. 2222-1176 (bentôs) e iFood. Al. Fernão Cardim, 39, Jardim Paulista, região oeste. Seg. a sex: 11h às 14h30 e 18h às 21h30. Sáb.: 11h às 15h e 18h às 21h30.
Banzeiro ★★★★
Pedidos via WhatsApp (11) 93235-7003 e iFood. Delivery ou retirada: ter. a sáb.: 12h às 22h30. Dom.: 12h às 16h. R. Tabapuã, 830, Itaim Bibi, região sul.
Capim Santo ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 3089-9500 e via WhatsApp (11) 98189-0082 ou iFood. Seg. a dom.: 11h às 15h e 18h às 22h. Al. Min. Rocha Azevedo, 471, Jardim Paulista, região oeste.
Cór ★★★
Pedidos pelo tel. 3726-2908 ou via WhatsApp 94447-1333 e iFood. Delivery ou retirada: seg.: 11h às 16h. Ter. a sex.: 11h às 22h45. Sáb.: 11h às 23h. Dom.: 11h às 22h30. Pça. São Marcos, 825, Alto de Pinheiros, região oeste.
Corrientes 348 ★★
Pedidos pelo corrientes348.com.br ou via Rappi. Delivery ou retirada: seg. a sáb.: 11h30 às 22h30. Dom.: 11h30 às 18h. R. Com. Miguel Calfat, 348, Vila Nova Conceição, região sul.
Emiliano ★★★
Pedidos pelo tel. 3728-2020; via WhatsApp 94798-3572 ou Rappi. Delivery: seg. a dom.: 12h às 22h. Hotel Emiliano - R. Oscar Freire, 384, Jardim Paulista, região oeste.
Fasano ★★★★★
Pedidos por tel. 3896-4148 e via iFood ou deliverydireto.com.br/gerogrupofasano. R. Haddock Lobo, 1.629, Cerqueira César, região oeste. Seg. a dom.: 11h às 22h.
Le Jazz ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 3062-9797; via WhatsApp (11) 95311-5884 e iFood. Retirada: r. Dr. Melo Alves, 734, Cerqueira César, região oeste. Seg. a qui. e dom.: 12h às 24h. Sex. e sáb.: 12h à 1h. E mais três endereços.
Le Manjue ★★★
Pedidos via iFood. R. Domingos Fernandes, 608, Vila Nova Conceição, região sul. Seg.: 12h às 16h. Ter. a qui.: 12h às 16h e 19h às 22h. Sex. e sáb.: 12h às 16h e 19h às 23h. Dom.: 12h às 17h.
Rancho Português
Pedidos pelo tel. (11) 2639-2077 e via iFood ou Rappi. Av. dos Bandeirantes, 1.051, Vila Olímpia, região sul. Delivery ou retirada: Seg. a sáb.: 9h às 22h. Dom.: 9h às 18h.
Ritz ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 3079-3661, (11) 3088-6808 e via iFood ou restauranteritz.com.br/delivery. Al. Franca, 1.088, Jardim Paulista, região oeste. Seg. a sex.: 10h30 às 15h e 17h30 às 22h30. Sáb. e dom.: 11h30 às 22h30.
Sal Gastronomia ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 3151-3085 e via iFood ou Rappi. R. Minas Gerais, 352, Higienópolis, região central. Seg.: 11h30 às 15h. Ter. a sáb.: 11h30 às 16h e 18h às 22h. Dom.: 11h30 às 16h.
Spot ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 3284-7500 e via iFood. Al. Min. Rocha Azevedo, 72, Bela Vista, região central. Seg. a sex.: 11h30 às 14h30 e 19h às 22h30. Sáb. e dom.: 11h30 às 16h e 19h às 22h30.
Tan Tan ★★★
Pedidos pelo tel. (11) 2373-3587 e via Rappi. R. Fradique Coutinho, 153, Pinheiros, região oeste. Delivery ou retirada: ter. a dom.: 19h às 22h30.
23h00
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