Descrição de chapéu Crítica
Restaurantes

Bel Coelho serve pratos sofisticados com bom custo-benefício no novo restaurante Cuia

Dentro de livraria no Copan, casa dá status de especiarias a ingredientes brasileiros pouco lembrados

Cuia

O Cuia Café é um exemplo de como é possível servir uma comida sofisticada e inventiva num ambiente simples e despojado, sem pompa.

Atual empreitada da chef Bel Coelho, que tinha o restaurante Clandestino, abatido pela pandemia, o Cuia tem charmes adicionais —fica integrado sem divisórias à livraria Megafauna, no Copan, com clima de café e onde se pode sentar apenas para folhear o livro recém-comprado, mastigando um sanduíche ou um bolo. De quebra, está no cada vez mais festejado centro de São Paulo, no famoso edifício de Oscar Niemeyer.

Atrativos, portanto, não faltam. Mas, voltando à comida, não são poucos os lugares da cidade onde se pode comer bem em ambientes simples e sem gastar muito. O que destaca o Cuia é que sua comida vai além do prosaico cardápio trivial. As formulações da chef, que não são tantas, lembram mais a de restaurantes ambiciosos e caros. Não é tão barato quanto um suculento pê-efe, é claro, mas sofisticados pratos principais entre R$ 39 e R$ 71 tampouco são caros para os dias de hoje.

Ao mesmo tempo, o menu tem algo tão reconfortante quanto provocativo, ao trazer para uma atmosfera do cotidiano ingredientes que são frutos da terra brasileira, mas que, por serem pouco conhecidos, ganham ar de preciosas especiarias.

Bacuri, cumaru, aridã, mel de jataí, tucupi e queijo da Canastra compõem um cardápio que não é de pratos típicos regionais, mas pelo contrário —algumas das receitas de Bel Coelho incorporam elementos de fora do Brasil.

Espuma de chocolate do menu do Cuia, novo restaurante da chef Bel Coelho, no Copan
Espuma de chocolate do menu do Cuia, novo restaurante da chef Bel Coelho, no Copan - Rubens Kato/Divulgação

Direto ao ponto: para aguçar o paladar, pasteizinhos de queijo Mandala, feito no interior de São Paulo, com cebola caramelizada, acompanhada de um molho que equilibra picância ao doce da jabuticaba (R$ 33). Há também as saladas, como a de folhas orgânicas, farinha d’água crocante, avocado ainda bem firme e vinagrete de mel de abelhas nativas jataí, refrescante (R$ 22).

Uma seção oferece cuias com conteúdos apropriados para um café da manhã, como creme de aveia orgânica fresco, frutas e granola, que sai por R$ 23. Pode ser ainda a entrada de uma refeição maior, caso do ovo perfeito com cuscuz de milho, espuma de queijo Mandala e chips de batata-doce, que é leve mas enche o paladar (R$ 34).

O peixe do dia —que, numa de minhas visitas, era pescada-cambucu, delicadamente úmido— nos remete aos sabores do norte, embora seja do mar, e é acompanhado de salada de feijão-manteiguinha, farinha d’água e molho de tucupi (R$ 62). Irrepreensível.

O que deixou a desejar foi uma sugestão do dia, a costelinha de porco. Ela prometia tanto, tendo sido marinada com uma alquimia de shoyu, mel e gengibre, mas os sabores anunciados não estavam ali. Valeu mais pela singela guarnição: canjiquinha com cogumelos salteados e acelga chinesa (R$ 56).

As sobremesas são poucas e delicadas, como a espuma morna de chocolate 70%, doce de bacuri (sempre uma iguaria), creme de cumaru e farofa de castanha-do-pará (R$ 29), cheia de sabores sutis, mas que espicaçam paladares mais desinformados. Outra, de registro mais familiar, mas igualmente diáfana, é a goiabada mole com leve creme de requeijão e cream-cheese, salpicada de farofa de castanha-do-pará (R$ 29).

Convém lembrar que o entorno do Cuia Café tem respaldo escolhido a dedo por Bel Coelho —cafés da Isso É Café; drinques criados por bartenders de prestígio, como Jean Ponce e Paulo Leite; e vinhos poucos, mas espertos, escolhidos por Gabriela Monteleone. Além de livros, livros por todos os lados.

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