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Hannover serve fondue em castelinho que é híbrido de Beto Carrero com Paris 6

Restaurante inaugura unidade em SP que aposta no excesso para atrair princesas e 'princesos'

Ergueu-se, no topo da colina mais alta das Perdizes, majestoso castelo.

O antigo endereço de uma agência bancária na rua Cardoso de Almeida ganhou revestimento de granito fajuto, uma torre e uma coleção de arcos, com colorida iluminação de lâmpadas LED. O que poderia esconder tão fantasiosa fachada? Um parque de diversões? Uma masmorra de prazeres inconfessáveis?

Ambiente da unidade de Perdizes do restaurante Hannover, especializado em fondues
Fachada da unidade de Perdizes do restaurante Hannover, especializado em fondues - Divulgação

Um pouco disso tudo: é o restaurante de fondue Hannover, que nasceu em Moema nos anos 1980 com ares de chalé alpino e despirocou na estética do excesso de lá para cá, período em que se expandiu para o Tatuapé.

A recém-inaugurada unidade de Perdizes, segundo o site do restaurante, se inspira no castelo de Neuschwanstein, na Alemanha —este, por sua vez, foi a inspiração do castelo da Bela Adormecida, na Disneylândia da Califórnia, nos Estados Unidos. Miraram na Disney e acertaram em cheio num híbrido de Beto Carrero com Paris 6.

O ambiente interno segue na temática de princesas e "princesos". O salão é muito espaçoso, mas sem janelas aparentes. Nas paredes, cortinas de veludo grená. No vestíbulo próximo à entrada, um papel de parede que emula lombadas de livros, a biblioteca da Rapunzel.

As mesas mais nobres ficam junto às paredes, com assentos acolchoados inteiriços para duas pessoas, todos virados na mesma direção e enfileirados, como num trem-fantasma. O centro do ambiente tem mesas mais comuns, para acomodar grupos.

Há um trono —sim, um trono— num ponto no qual todas as mesas podem ver, e a casa empresta uma coroa dourada para quem quiser eternizar em fotografia a noite medieval.

Tem gente que leva o date para o castelinho Hannover, o que é até é incentivado. Parece-me um programa menos inadequado de se fazer na companhia de uma criança, que vai curtir essas paradas de conto de fadas. Por isso arrastei o meu assistente e filho Pedro, de nove anos.

Pelo menos duas outras mesas estavam com um carrinho de bebê encostado ao lado. Famílias com adolescentes também ocupavam o salão. Mas havia também os pombinhos apaixonados.

Cheguei às 19h30 de uma quarta-feira esperando me deparar com o restaurante deserto. Encontrei clientes em outras seis ou sete mesas. Uma hora depois, ao sair, cerca de 70% do salão estava ocupado. O bairro de Perdizes, outrora rebelde e alternativo, rendeu-se ao fondue da Cinderela que habita um castelo a apenas duas quadras da PUC.

Ao fondue? Calma. O site do Hannover se refere no gênero feminino à panelinha fumegante que chega num fogareiro à mesa. "A fondue." É assim em francês, o idioma original da comida. Só que "creme" também é uma palavra feminina em francês, mas ninguém fala "a creme" no Brasil. Segue sendo "o fondue", e os pedantes que lutem de espada no castelinho.

Fondue do Hannover, restaurante em SP especializado na receita
Fondue salgado do Hannover - @hannoverfondue/Reprodução

O fondue é tudo o que existe no cardápio do Hannover. Ele vem nas versões de queijo, de carne de boi, de frango, de lombo de porco, de chocolate, de doce de leite, além de um fondue doce, branco, com dois centímetros de leite em pó por cima.

O prato é servido em algumas modalidades de rodízio com reposição —caso o cliente aguente, infinitas. O completão custa R$ 168 por pessoa. Quem tem entre nove e 12 anos paga metade desse valor. Eis outra vantagem de uma companhia infantil. A desvantagem é que ela nunca dividirá a conta com você.

Pedi a chamada sequência clássica, que custa R$ 136, com fondue de queijo e as panelinhas cheias de doce.

Indiscreto que sou, observei o grupo de uma mesa ao lado se refestelar nos de carne. Neste, um disco giratório, ao redor da panela de óleo, traz potinhos com os molhos e acompanhamentos: curry, chutney de banana e até farofa, com números de identificação —a legenda está no cardápio que o cliente acessa no celular, por um código QR.

O gentil garçom Paulo trouxe os acompanhamentos do fondue de queijo. Além do tradicional pão amanhecido (é para ser assim, senão ele se desmancha no queijo derretido), vêm linguicinhas defumadas, fatias de goiabada e legumes cozidos: batata, cenoura e brócolis, o favorito do Pedro.

De acordo com Paulo, os queijos usados no fondue são gruyére, ementhal e muçarela. A textura é um tanto granulosa, talhada. O queijo não forma fios elásticos –o que denota uma proporção de amido além da desejável. O sabor é mais salgado do que deveria e não remete aos produtos dos Alpes suíços.

Pedrão se interessou mais pelo brócolis do que pelo fondue, e ficamos entretidos com a programação musical.

Um violinista passava de mesa em mesa tocando clássicos do mela-cueca, com acompanhamento mecânico. Teve "Take on Me", do A-Ha, "Have You Ever Seen the Rain", do Creedence, e "Raindrops Keep Falling on My Head", de Burt Bacharach. O couvert artístico é de R$ 23 por pessoa.

Quando o instrumentista mandou "Perhaps Love", de John Denver e Placido Domingo, Pedro perguntou na maior inocência: "Por que estão tocando música de Natal?". Eu quase me engasguei com o queijo.

Ambiente da unidade de Perdizes do restaurante Hannover, especializado em fondues
Área interna da unidade de Perdizes do restaurante Hannover - Divulgação

A fisionomia do menino se alterou quando o Paulo trouxe as três panelinhas de fondue doce. Elas vieram acompanhadas das frutas de praxe (uva verde, morango, banana e abacaxi), brownie, marshmallows e churros. Pedrão se acabou na sobremesa, enquanto eu temia que talvez ele não dormisse aquela noite.

Depois de duas águas minerais para lavar o doce, pagamos a conta e nos despedimos dos Shreks e Fionas do castelinho. Voltei para casa a pé, com meu dragãozinho voando ladeira abaixo a Cardoso, na brisa do açúcar.

Hannover - Unidade Perdizes

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