Uma porteira e um fogão a lenha logo atrás, na pequena cozinha à vista do público curioso, já fazem do Capiau um botequim diferente dos outros no Rio. Sua proposta é a de servir comida caipira e, para isso, Raphael Vidal, o dono do lugar, trouxe da serra da Mantiqueira o chef torresmeiro Diego Melão.
A dupla à frente do negócio dá legitimidade ao Capiau: definitivamente, não estamos em um cosplay de restaurante raiz. Vidal é um estudioso da gastronomia popular brasileira, responsável por casas de comida simples e honesta como o Bafo da Prainha e a Casa Porto, essenciais para a revitalização do largo de São Francisco da Prainha. Melão, cozinheiro criado na roça, domina a técnica da culinária caipira.
O botequim, no Beco das Sardinhas, no centro do Rio, tem em seu cardápio comidas que pareciam restritas aos livros de história ou a quem vive no interior profundo do país —raros lugares onde a air fryer e o forno de micro-ondas ainda não têm vez.
Onde mais é possível encontrar as carnes de lata, confitadas na banha e armazenadas num latão antes de voltarem para o tacho fumegante? Com essa técnica dos tempos pré-geladeira são preparados cortes de porco e boi, como a língua acebolada servida no sanduíche no pão de fubá (R$ 32) ou no taco de pão de queijo (R$ 39).
Ainda na ala dos lanches de carnes de lata, há opções de bochechas de porco, linguiça, pernil e copa lombo. Todos vêm com salsa verde (um gostoso molho à base de tomate verde e pimenta-de-cheiro) e o premiado queijo parmesão mineiro d’Alagoa ralado na hora.
Seria ótimo ter começado a refeição com o torresmo (R$ 28 meia porção; R$ 55 a inteira) do mestre torresmeiro. Mas estava em falta. Também não tinha a sardinha na lenha (R$ 12) nem o pé de porco caramelizado (R$ 42). Das quatro opções de tira-gostos do menu, a única disponível era a prosaica batata frita (R$ 35).
Não era a minha intenção conhecer a casa para comer batata frita, então pedi o sanduíche de pernil e copa-lombo. Outro prato indisponível. O Capiau, onde os insumos vêm de pequenos produtores, é um lugar onde o bom e velho "tem, mas acabou" é ouvido com frequência.
Resiliente, provei duas versões das bochechas. Nos sanduíches, vieram perfeitas, com sabor pronunciado após a lenta cocção e um pão de fubá fofinho sem ser molenga. A versão no taco de pão de queijo come-se com as mãos depois de espremer uma fatia de limão galego (a roça em forma de fruta) sobre a carne.
Os principais são servidos à la carte ou em pratos feitos que variam de acordo com o dia —na ocasião, frango caipira cozido com arroz, feijão-manteiga temperado com maxixe e cenoura, além de angu (R$ 42). A escolha recaiu sobre a linguiça, também conservada na lata, com os mesmos acompanhamentos. Boa pedida, que ficaria melhor se o arroz e o feijão não estivessem mornos. O feijão, aliás, veio sem maxixe e cenoura porque… essa versão tinha acabado.
O pudim da mesa ao lado pareceu apetitoso e foi a opção de sobremesa. Sem furinhos e com calda que leva um toque de limão e laranja (R$ 15), é uma boa pedida, com as frutas trazendo um toque cítrico ao doce, que, esse sim, pelo que soube, não costuma faltar.
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