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LosDos Cantina leva a viagem inventiva pela cozinha raiz do México

Casa na Vila Buarque, em SP, mostra como pesquisa de ingredientes transforma a experiência

LosDos Cantina

Esqueça o que você acha que sabe sobre comida mexicana. E releve a chatice da modinha dos pratos compartilhados que infla a conta e joga na mão do cliente a responsabilidade de montar uma refeição com começo, meio e fim. O LosDos Cantina, na Vila Buarque, leva a uma viagem pelo México e mostra como pesquisa e estudo de ingredientes mudam paradigmas e transformam a experiência.

Os preparos transitam entre culinária raiz, influências asiáticas e toques de ingredientes brasileiros. O resultado é muito diferente e muito bom. Naquela tarde de sábado, em que clientes topavam comer nas mesinhas da calçada a despeito do frio, a impressão é de que mesmo os mais resistentes a novos sabores logo se rendem ao que é servido.

Pratos servidos no restaurante Los Dos Cantina, na Vila Buarque
Pratos servidos no restaurante mexicano LosDos Cantina, na Vila Buarque - Laís Acsa/Divulgação

Ali também opera o sistema de pratos para compartilhar que ganhou as mesas da cidade. Como ele pressupõe mais pedidos, já que as porções são menores, acaba por multiplicar chance de errar —o que causa certa ansiedade a quem tem um orçamento reduzido (quase todo mundo).

A casa mostra, porém, que essa opção nem sempre é um fardo: ali, o desafio se transforma em uma deliciosa degustação. E, mesmo depois de a fome passar, dá vontade de seguir provando as criações de Caio Alciati e João Gertel. Só o problema de inflar a conta que, no entanto, se mantém.

O primeiro pedido foi a quesadilla (R$ 33, duas unidades). A massa fina e crocante abre alas para um recheio cremoso e suculento. O kosho de pimenta-biquinho rende toque levemente cítrico.

O prato seguinte mostrou que a experiência seria fora da curva. Carnitas de pato (R$ 80) com mole poblano —um denso molho mexicano à base de chocolate, pimenta-seca e especiarias— é daquelas receitas que fazem esquecer as boas maneiras à mesa.

Quando você vê, está passando o dedo no prato. Pena que venham apenas quatro tortillas que não dão conta de acompanhar até o fim do prato. Pedimos mais (R$ 13 a porção). Com a demora, foi preciso lembrar duas vezes o garçom. Quando finalmente chegaram, o prato já estava frio.

Na sequência, lula grelhada (R$ 72). Servida com mole blanco, salsa macha e tortilhas. Macias e quentinhas, elas são a base perfeita para receber um pouco de tudo o que o prato oferece antes de ir à boca. Mas, novamente, vieram apenas duas para cada um. E, novamente, não foram suficientes. O molho espesso ganha um agradável toque adocicado. A salsa macha, picante, faz o contraponto. Dá vontade de provar cada preparo individualmente. Depois, tudo junto e misturado.

A essa altura, já seria possível passar para a sobremesa. Mas a curiosidade por novos sabores falou mais alto. Perguntada sobre uma porção que não demorasse, mas entregasse complexidade de sabores, a atendente sugeriu o tomate momotaro (R$ 35). Servido com salsa negra e gema curada, vem sob uma tostada de milho. Uma grata brincadeira de texturas, em um prato cheio de frescor.

De sobremesa, o escolhido foi o arroz doce de milho (R$ 32). Ele chega despretensioso, mas a combinação com creme batido e compota de cambuci surpreende. É levíssimo, com dulçor e acidez na medida certa para encerrar uma refeição memorável.

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