São Paulo tem a particularidade de esconder alguns achados —a exemplo do Thai e-San, um restaurante tailandês, tocado por uma cozinheira vinda desse país asiático, com poucos meses de operação na Liberdade.
Ele habita uma área meio arisca, com simplicidade: porta de vidro, salão pequenininho, televisão ligada. Clipes e novelas tailandesas mais um zum-zum-zum melódico dessa língua asiática ajudam a compor uma aura que se aproxima de um retrato daquela cultura em estado bruto.
A comida transporta às ruas da Tailândia, movimentadas desde o amanhecer por famílias a vender suas receitas. Pois ali, à mesa, segue-se o ritual comum na Ásia. Os pratos são colocados ao centro e compartilhados. Come-se com o auxílio de colher e das mãos.
Distantes do nosso repertório, são receitas que têm a vibrante capacidade de conjugar salgado, doce, picante, quente, frio, e revelar, portanto, a genuína riqueza dessa cultura alimentar.
É ultrapicante —e provoca as papilas— a salada de mamão verde em tiras finas, com cenoura, molho de peixe, suco de limão e amendoim torrado, cujo fundo adocicado vem do açúcar de palma.
Pode-se pedir aquele arroz grudento (quando tem, pois exige um preparo alongado) para bolear com as mãos e chuchar no rico molho da salada, que se acumula ao fundo do prato, e do qual não se deve perder uma só gota. Fica úmido e abranda a pimenta, uma beleza.
Os elementos se repetem em outros preparos, como na acolhedora sopa de camarão e shimeji, com molho de peixe e leite de coco, incrementada com potente pimenta-dedo-de-moça. Capim-limão e coentro lhe dão um frescor marcante e particular —a versão com frango é igualmente calorosa.
Sai-se muito bem o aromático curry verde, feito a partir de ingredientes frescos amassadas no pilão que pode ter carne, frango ou camarão de base.
Com sorte, ou sob encomenda, dá para provar o popular bolinho frito de peixe, recorrente nas ruas. Parte-se de uma pasta de peixe enriquecida com ovos e curry vermelho e resulta mais suave.
Permita-me o imperativo. Atravesse a portinha de vidro.
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