Saiba o que é a 'carne vegetal', que virou moda e quer seduzir os flexitarianos

Produtos atraem quem quer diminuir o consumo animal sem abandonar o churrasco

Ilustração lúdica traz um porco vestido como chef de cozinha, com dólmã e avental, enquanto mulher e vaca conversam à mesa

Catarina Pignato

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São Paulo

“Em até seis horas a gente consegue produzir um frango”, diz o empresário Fábio Zukerman. A frase parece coisa de ficção científica, com carros voadores e teletransporte, mas ela foi dita na São Paulo de 2021, onde ganham cada vez mais espaço alimentos que têm cara, cheiro, gosto e até textura de carne, mas que são, na verdade, produzidos a partir de vegetais.

O alimento a que Zukerman se refere não é uma galinha. Ele está à frente do paulistano Grupo Planta, formado por negócios veganos, com boa parte da produção dedicada às “carnes vegetais” —ou “plant-based”, como diz o jargão do pessoal da área.

O que diferencia essa nova geração de produtos é justamente a tecnologia —e uma boa dose de marketing. Alimentos vegetais análogos aos de origem animal existem há anos, como as “carnes” de soja e de jaca e os hambúrgueres de leguminosas. Mas só agora foi possível desenvolver alternativas à base de plantas que parecem carne.

O “frango” de Zukerman é, na verdade, derivado da proteína texturizada da ervilha e preparado com temperos e técnicas para chegar a um resultado semelhante à carne do animal. “É um frango sem nenhum tipo de antibiótico, agrotóxico, sofrimento.”

Relativamente novo, o mercado de produtos à base de plantas tem tido crescimento galopante no Brasil. A estreia por aqui ocorreu há dois anos, quando a Fazenda Futuro lançou o Futuro Burger. Desde então, a foodtech incluiu criações como “linguiça”, “almôndega”, “carne moída” e “frango” ao portfólio, além de ter mais de 10 mil pontos de venda em 23 países —os Estados Unidos serão o próximo a entrar na lista.

O Grupo Planta teve 120% de crescimento no último ano, com planos de expansão para outros estados. Outra startup brasileira do ramo, a The New Butchers viu o faturamento aumentar em 300% no primeiro trimestre de 2021, em comparação ao ano passado.

Grandes marcas também têm investido no setor. Sadia, Seara e Marfrig também têm linhas de produtos à base de plantas. Em abril, a JBS, maior frigorífico e segunda maior indústria de alimentos do mundo, anunciou a compra da Vivera, terceira maior produtora de “plant-based” na Europa. Nenhum dos gigantes, porém, deixou de trabalhar com animais.

Apesar de se simular a carne bovina, o Futuro Burger é feito com ervilha, soja e beterraba, cuja função é proporcionar uma coloração avermelhada à receita, como sangue. Tudo em nome da experiência.

Carro-chefe da Fazenda Futuro, o alimento já passou por duas atualizações —a cada edição, aparece com menos gordura, sódio e colesterol, além de oferecer 11 g de proteína a cada porção de 80 g. A título de comparação, um hambúrguer bovino industrializado com o mesmo peso tem 16 g de proteína.

Esse viés saudável, contudo, já foi questionada por pessoas como a chef Paola Carosella.

“Se quer diminuir o consumo de carne, o universo vegetal é gigantesco”, disse ela nas redes sociais em setembro, classificando o produto como oportunista. “Ultraprocessados não são mais saudáveis.”

Afinal, a quem um produto vegetal com gosto de bife quer conquistar? O próprio mercado responde: o flexitariano.

Esse é o novo nome da indústria para o onívoro, ou seja, aquele que come alimentos de origem animal e vegetal —mas, antenado e preocupado com a saúde e as causas ambientais, o flexitariano está disposto a abrir mão cada vez mais da proteína animal.

“Ele entende que a redução é necessária, mas não sabe por onde começar”, afirma Mariana Tunis, diretora de marketing da Fazenda Futuro. “A gente traz um produto para essa audiência.”

Segundo Michel Alcoforado, antropólogo e pesquisador do consumo, a “carne vegetal” dificilmente vai substituir o produto animal à mesa do brasileiro. “Se o principal atributo do produto é uma causa, seu valor está além do produto em si”, ele diz. “Causa não movimenta consumo de massa. As pessoas deveriam comprar porque acham gostoso.”

Além disso, Alcoforado acredita que impor uma comparação direta com a carne afasta quem não está comendo uma proteína vegetal por fins políticos. “Nós consumimos o falafel porque gostamos, não porque é uma ‘almôndega de grão-de-bico’”, argumenta.

O antropólogo lembra que a alimentação tem uma das estruturas mais lentas de transformação na cultura. “Quando falamos de comida, estamos falando da nossa identidade”, afirma. Segundo ele, falta ainda à “carne vegetal” um posicionamento cultural. “Você não recebe a sua avó em casa para comerem juntos um hambúrguer do futuro.”

Marcas e produtos plant-based

Fazenda Futuro
Hambúrguer, "carne moída", almôndega, linguiça e "frango"; em breve, lança o Futuro Burger defumado e "bacon"
fazendafuturo.io


Grupo Planta
"Pancetta", cafta, linguiça, hambúrguer "bovino" e de "cordeiro", polpettone, entre outros; tem o delivery Green Kitchen no iFood
instagram.com/greenkitchenbr


The New Butchers
Hambúrgueres no sabor "boi" e "frango", "filé de frango" e "filé de salmão"
instagram.com/thenewbutchers


Superbom
"Frango", "steak", linguiça, almôndega e salsicha
superbom.com.br


Amazonika Mundi
Bolinho de "siri", hambúrguer, almôndega
amazonikamundi.com.br

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