O Cepa é um restaurante para quem leva comida a sério e aprecia uma culinária autoral que desafia expectativas. Depois de transformar o Tatuapé em um destino gourmand, a casa se mudou para Pinheiros, onde agora entrega uma gastronomia que parece um show de jazz, desconstruindo composições clássicas para criar algo novo, imprevisível e complexo, com potencial de encantar quem está disposto a conhecer mais.
O cardápio é como uma jam session de sabores. Cada prato é apresentado como uma nota em uma composição descontraída e intricada, onde ingredientes inesperados se encontram e brincam com o paladar.
É o caso do crudo de curraleiro com anchova cantábrica e brioche (R$ 58). O pequeno prato é um deleite que se devora em uma mordida, mas que deixa uma marca profunda. A combinação de carne crua e peixe curado com o brioche torrado chega a lembrar um hambúrguer, cria uma erupção de umami que preenche o paladar.
Essa abordagem criativa também aparece no pastel de queijo comté (R$ 29), cuja massa crocante envolve um recheio cremoso que remete à icônica sopa de cebola francesa. Aqui, a familiaridade do pastel brasileiro é transformada, enganando o comensal que espera um recheio simples, mas recebe uma experiência inesperada e deliciosamente reconfortante. É como uma nota dissonante que, apesar de parecer fora do lugar, torna a melodia mais rica.
Outro exemplo da ousadia do Cepa é o pescado do dia, cru e servido com azeite e creme de wasabi (R$ 129). A simplicidade do prato, cuja imagem tem sido amplamente compartilhada nas redes sociais, impressiona pela precisão. A textura firme e fresca do atum, junto ao sabor pungente do wasabi e a suavidade do azeite, cria uma harmonia que evoca a culinária oriental, mas com uma assinatura própria, um toque novo em algo tão familiar.
A lula na brasa com feijão branco, bagna cauda e óleo de chorizo é outro prato que exemplifica a destreza criativa do restaurante (R$ 134). O molusco macio e levemente defumado encontra um inesperado companheiro no feijão branco, que aqui parece fazer as vezes de uma massa, mantendo sua integridade sem perder a maciez. O prato desafia as expectativas e entrega uma experiência sensorial formidável.
Essa capacidade de surpreender e encantar está presente também na dobradinha, transformada em ragu e servida com rigatoni al dente. O prato é de um equilíbrio inusitado: a panceta dá sabor e complementa a intensidade do bucho, enquanto o queijo e a menta trazem umami e leveza. A combinação é ousada, mas funciona de forma harmônica.
Com muita criatividade, o Cepa oferece uma experiência para quem está disposto a abrir mão do conforto do óbvio e embarcar em uma jornada gastronômica que desafia as convenções, como um bom jazz.
E como na cena musical atual, o acesso é disputado e tem seu preço - não é nada barato. As reservas de mesas são disputadas pela internet com semanas de antecedência e exigem um adiantamento de R$ 400. E uma refeição para dois pode facilmente passar dos R$ 500. Ainda assim, não deixa de ser uma excelente opção para momentos especiais.
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