Opinião: Comida do futuro deve olhar mais para fazendas e menos para astronautas

São Paulo

Oxalá a comida do futuro fosse, em parte, uma volta ao passado. Ao passado da nouvelle cuisine de Paul Bocuse (1926-2018), por exemplo, na qual eram valorizados os ingredientes frescos, sazonais e os preparos descomplicados. Uma volta à cozinha de Alice Waters, a americana musa do movimento slow  food, que ainda hoje busca coisas simples para cozinhar —alfaces, vagens, pão.

Oxalá a cozinha do futuro fosse, quem sabe, a cozinha do presente de Rita Lobo, autora de seis livros de culinária e criadora do site e da editora Panelinha. Essa "comida de verdade", do dia a dia, saudável, feita com base em ingredientes in natura e minimamente processados. "Evite os alimentos ultraprocessados", Rita repete à exaustão —uma beleza de ensinamento a ser repetido.

Ou ainda a cozinha do presente de chefs como Gabriela Barretto (Chou e Futuro Refeitório), Ivan Ralston (Tuju) e José Barattino (Eataly), também atentos ao aproveitamento máximo dos ingredientes e à intensa presença dos vegetais. De certa forma, pode haver aqui um paralelo com o terceiro prato, de Dan  Barber, chef que mantém um de seus restaurantes em uma fazenda no interior de Nova York. "Em lugar de uma enorme porção de proteína, imaginei um bife de cenoura dominando o prato, com um molho à base de lascas de carne de segunda assada".

Arroz preto com coco, abóbora e sementes é opção no Futuro Refeitório
Arroz preto com coco, abóbora e sementes é opção no Futuro Refeitório - Gui Galembeck/Divulgação

Que tal pensar a comida do futuro sempre presa a um dos dogmas centrais do escritor Michael Pollan? "Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida."

Que, no futuro, pois, possamos ficar distantes daquilo que é reconhecido como comida do futuro pelos criadores do Soylent  —aquele pó que reúne nutrientes fundamentais para a sobrevivência humana e que promete substituir as refeições, em San Francisco, e nos aproximar, em larga escala, de um dos mandamentos do manifesto lançado em São Paulo recentemente por ativistas da alimentação, de que comida não é tão somente um conjunto de nutrientes ligados à subsistência.

Que possamos, no futuro, voltar à mesa com mais frequência e mais tempo. E também à cozinha.

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