Não ligo para futebol e, sempre que posso (quase sempre posso), fujo dos sanduíches pré-fabricados de fast-food. Desconfio que, por isso mesmo, fui escalado para escrever sobre a seleção de hambúrgueres temáticos do McDonald’s para a Copa do Mundo do Qatar.
A missão era mais complexa do que ir a uma bodega qualquer e avaliar a comida. Eu precisava provar oito sanduíches diferentes, e apenas um deles está disponível diariamente: o McBrasil.
Os outros sete países aparecem apenas um dia por semana, sempre nesta ordem de segunda-feira a domingo: Qatar, México, França, Alemanha, Espanha, Argentina e Estados Unidos.
Como não estava disposto a repetir o experimento de autodestruição que resultou no documentário "Supersize Me: a Dieta do Palhaço", pedi três semanas para poder trabalhar com algum intervalo na ingestão de junk food.
Antes do embate físico, decidi estudar o inimigo pela descrição dos sanduíches no site do McDonald’s.
Primeira impressão: gente, que caro! Sério que eles acham razoável pagar R$ 38,90 no delivery por um "méqui"? O valor supera o do cheeseburger no Z Deli (R$ 36), no Buzina (R$ 28) e no Chimi Parrilla (R$ 36), três dos melhores sandubas de São Paulo.
Daí para uma análise, digamos, conceitual do cardápio futebolístico. Qual o critério, além da participação na Copa 2022 (portanto sem McItália), para a escolha das nações?
Se a régua for a gastronomia, dava para fazer umas maluquices com Japão (algo inspirado no katsu sando, de porco empanado, talvez?) ou Portugal (bacalhau ou alheira?). Se for o desempenho nas Copas pregressas, México e Estados Unidos não perfazem a condição mínima: ter vencido pelo menos um Mundial. Qatar não conta, é o país-sede.
Diga-se de passagem, não faz muito sentido que se crie uma receita específica para os Estados Unidos, dado que o McDonald’s é a coisa mais americana do universo. Curioso, mas não surpreendente, que o McEUA seja o melhor dos sanduíches temáticos —logo chegaremos nessa parte.
As receitas do festival da Copa usam poucos elementos alheios à despensa cotidiana do McDonald’s. A personalidade de cada sanduíche é definida, em geral, pelo molho —algo com base de maionese, com exceção do McEUA (barbecue) e do McAlemanha (mostarda).
No McBrasil, entretanto, o elemento identitário é um bloco de queijo empanado e frito. Uma carga cavalar de gordura, que não entrega sabor na mesma dose.
O sanduíche brasuca tem incríveis 1.156 kcal. Os restantes ficam entre 629 kcal (México) e 989 kcal (Espanha e Qatar).
O McArgentina, pedido no mesmo sábado do sanduíche brasileiro, sai-se um pouco melhor. Sem o tolete de muçarela frita, o bacon se destaca. A maionese pretensamente temperada com chimichurri traz um sabor interessante de ervas, que vai se tornando enjoativo à medida que as mordidas se sucedem.
Efeito semelhante tem o molho do McCatar, servido às segundas e sazonado com hortelã para criar uma impressão sensorial vagamente árabe. A cebola crocante agrada, mas o conjunto, com um tomatinho solitário, não tem muita graça.
No McFrança, das quartas-feiras, a tática é atacar com uma dupla de queijos: molho sabor emmenthal e queijo processado sabor brie. O resultado se aproxima de um Polenguinho, o que talvez agrade muita gente (ainda mais na companhia de bacon e cebola frita).
O McEspanha de toda sexta-feira tem, como fator "olé!", uma fatia de copa —sacou a sacada?— defumada. Não me parece o bastante para fazer as papilas gustativas dançarem a Macarena.
Também carece de personalidade o McAlemanha, oferta das quintas-feiras. Recorre-se à mostarda e a um salame com borda de pimenta preta para abordar uma questão que seria facilmente resolvida com qualquer salsicha –será que o manual do McDonald’s proíbe hot-dog? O salame, entretanto, é gostosinho.
Em todos os sanduíches, a nota alta vai para o pão, mais fresco e bem-feito do que a maioria das hamburguerias ditas artesanais.
O ponto baixo fica para o hambúrguer em si, que é o cerne do negócio da rede. Carne insossa e, por motivos de segurança alimentar, cozida até ficar cinzenta. Quanto mais "gordo" o hambúrguer, pior. Por essa razão, eu sempre dei preferência aos sanduíches de frango.
São duas as seleções com frango na copa do Ronald McDonald: México e Estados Unidos. A carne é um pedaço de peito real oficial, sem gororobas processadas à la nuggets. O mesmo frango da linha Chicken Crispy –até pedi um sanduíche desses para me certificar.
Na opção mexicana, o tal molho de jalapeño parece ser a mesma maionese de hortelã do McCatar, mas com um quê de picante.
O McEUA combina o frango bem fritinho com bacon, queijo, barbecue e os picles que dão um toque bem-vindo de acidez e frescor. É um sanduíche que eu pediria mais vezes e que poderia fazer sucesso no cardápio regular do McDonald’s, fora de festivais temáticos.
Por fim, meu ranking da "Copa méqui" é este, em ordem decrescente: EUA campeões, seguido de Argentina, Alemanha, México, França e Espanha. Dura disputa pela lanterna entre Qatar e Brasil, mas a canarinho fica em último pelo exagero do queijo frito.
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