Assim que o cliente entra no café, atendentes vestidas de domésticas chamam o visitante de mestre e fazem dancinhas ao entregar os pratos, enquanto abusam dos trejeitos de animes japoneses e desfilam com aventais coloridos e vestidos rodados. Assim são os maid cafés, importados do Japão e que começam a chegar ao bairro da Liberdade, em São Paulo.
Essas casas podem parecer estranhas para quem entra por lá pela primeira vez, mas costumam chamar a atenção nas redes sociais.
Os maid cafés surgiram no Japão no início dos anos 2000, inspirados em mangás e animes —é daí que vêm o jeito com o qual as atendentes tratam os clientes e também a origem de suas vestimentas, que fazem referência a mordomos e empregadas de mansões vitorianas. Aliás, o termo "maid" vem justamente da palavra "empregada" em inglês.
Apesar de serem populares num nicho de otakus, como são chamados os fãs de cultura pop japonesa, esses cafés se tornaram atrações turísticas em Tóquio e se espalharam por diversos países. Em São Paulo, dois novos maid cafés abriram as portas recentemente no centro da cidade.
Um deles é o Chest of Wonders, inaugurado em agosto, com fachada cor-de-rosa e atendentes que usam orelhas de gatinhos. Assim que alguém entra na loja, a pessoa logo é chamada de mestre pelas atendentes. Apesar de os maid cafés terem surgido somente com mulheres trabalhando, já é comum que homens também se fantasiem para servir seus mestres por lá. Mas os garçons têm outro nome, são os butlers —ou mordomos, em português
A coisa começa a ficar mais exótica quando se descobre que, além das comidas, os tais mestres podem escolher também a personalidade de quem vai atendê-los. Ao todo, são 12 tipos de comportamento, todos comuns em personagens de animes.
A personalidade mais tradicional é a "deredere", a mais fofa e amorosa. Mas dá para escolher também a "tsundere", que é grossa, mas no fundo gosta do mestre. Ou a "dandere", introvertida e tímida. Já os butlers costumam ser príncipes refinados, mas que podem tratar bem ou mal quem chega ao café.
Antes de ter seu espaço físico, o Chest of Wonders levava há oito anos a experiência dos maid cafés a eventos de cultura pop japonesa. "Mas as receitas eram diferentes", diz Karina Cavalcante, uma das sócias.
Os destaques do menu agora são os frapês decorados de unicórnio e sereia, no valor de R$ 22. Os com formas de estrela e de morango saem a R$ 20. Para comer, a casa oferece bolos, como o red velvet, de R$ 17, além de salgados, como a harusamaid, típica salada japonesa, feita com macarrão de arroz (R$ 22).
Mas a comida pouco importa, porque é na hora de servir que a mágica acontece. A maid ou o butler entrega o pedido, mas não só. Eles fazem desenhos de ursinho com calda ou ketchup no prato e pronunciam algumas onomatopeias em japonês, seguidas de gestos de gatinho e de coração. Ao fim, dizem para a comida: "Por favor, fique mais gostoso".
Até mesmo aqueles que parecem não se encaixar no cenário são levados pelo teatro inspirado em animes. "Quando a gente começa a falar com essas pessoas, elas geralmente começam a sorrir", afirma Lumi Kumagai, outra das donas.
Mas quem acha esses momentos constrangedores e nada fofos pode pedir um café sem a experiência. "O objetivo é levar conforto para as pessoas", acrescenta Kumagai.
Ela reforça, contudo, que o estabelecimento tenta se afastar da ideia de "empregada sexy" e busca não estimular o fetiche dos clientes. "A gente não quer trazer nenhuma conotação sexual. A ideia é ser um lugar seguro e fofo."
Por isso, há algumas regras. Uma delas diz que maids, butlers e mestres não podem ter contatos físicos. Outra proíbe que o cliente pergunte dados pessoais dos profissionais.
Já no DokiDoki, maid café inaugurado antes, em fevereiro, também na Liberdade, só há um tipo de personalidade —a "deredere", a mais tradicional e fofa. Suellyne Tsunoda conta que teve a ideia de inaugurar o espaço junto a seu marido após os dois voltarem de uma temporada no Japão, em agosto do ano passado.
"No Brasil, as pessoas conhecem a cultura japonesa, mas geralmente é uma mais antiga, com tambores e músicas folclóricas. É legal, mas tem muita coisa nova aparecendo por lá", afirma ela.
O DokiDoki tem um salão com pouca decoração e grande espaço entre mesas de madeira cobertas por um tecido cor-de-rosa. A parede ostenta pinturas em tons pastéis, como se uma cobertura escorresse dela. Há apenas um balcão na entrada, com as maids sempre recepcionando o público.
Enquanto no Chest of Wonders a experiência —ou o storytelling, para usar um termo da moda— diz que atendentes são gatos que acordam e se transformam em humanos para servir seus mestres, no DokiDoki as maids dizem ter vindo do mundo dos sonhos.
Ali, quem quiser mais atenção dos funcionários ou desejar que eles se sentem à mesa, por exemplo, precisa pagar a mais por isso. Há pacotes de 15 ou 30 minutos de atendimento VIP, que custam R$ 10 e R$ 20, respectivamente.
O cardápio, é claro, também é inspirado no Japão. O omuraisu, omelete recheado com arroz frito e frango, custa R$ 30, enquanto o karê, de R$ 35, ganha versão cor-de-rosa com pedaços de frango. Tudo é decorado com arroz em formato de panda e os corações de sempre.
Afinal, a ideia é tentar atrair o público pelo olhar e pelo cuidado. Ou melhor —atrair os mestres.
Chest of Wonders
R. Galvão Bueno, 580, Liberdade, região central, chestmaids.cafe. Reservas aos fins de semana
DokiDoki
R. Galvão Bueno, 351, segundo andar, Liberdade, região central, @dokimaidcafe
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