No Dia do Livro, conheça três restaurantes e cafés em SP inspirados na literatura

De Clarice Lispector a Shakespeare, locais fazem referências a escritores na decoração e no menu

São Paulo

Macondo é o nome de um povoado fictício, lugar mítico isolado do mundo, castigado por catástrofes e pestes, onde se passa a história de "Cem Anos de Solidão", clássico de Gabriel García Márquez. É também o nome do restaurante do colombiano Jair Abril Rojas em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, batizado em homenagem à obra do vencedor do prêmio Nobel.

O endereço é um dos locais na capital paulista que se inspiram no mundo da literatura e que são uma opção para conhecer no Dia Mundial do Livro, comemorado neste sábado, dia 23. As referências à obra e ao país de origem do escritor e do chef surgem ainda em detalhes na decoração.

Detalhe da fachada do restaurante Macondo Raízes Colombianas, em Pinheiros
Detalhe da fachada do restaurante Macondo Raízes Colombianas, em Pinheiros - Adriano Vizoni/Achados Elo

A fachada logo chama a atenção: pintada de amarelo, é enfeitada por grandes pássaros coloridos —aves cujos cantos orientaram a chegada de um grupo de ciganos ao vilarejo do livro. Gravados nas paredes do restaurante estão trechos da obra, um símbolo do realismo mágico, e fotos com paisagens da Colômbia.

Cada parede conta uma história, diz o proprietário. Uma delas é decorada com gaiolas, flores e borboletas. Outra é preenchida por imagens de grãos de café e de fazendas cafeeiras, fazendo ligação com uma passagem do livro, e uma terceira ilustra as palenqueras, mulheres que carregam frutas em um cesto na cabeça —já retratadas por García Márquez.

Não se pode esquecer da comida, é claro. No restaurante, é possível provar receitas típicas colombianas, como arepas, patacones, empanadas, suco de lulo, uma fruta típica daquele país, e a bandeja paisa, uma espécie de prato-feito que combina nove itens.

As homenagens a escritores também aparecem no Macabéa, café na região central da cidade. A começar pelo nome do local: Macabéa é a protagonista de "A Hora Estrela", último livro de Clarice Lispector, publicado em 1977, uma jovem alagoana pobre que tenta a sorte no Rio de Janeiro.

Os visitantes atentos podem observar, espalhados pelo salão, trechos de uma carta de Caio Fernando Abreu e colagens com fotos de vários autores da literatura brasileira, como Cecília Meireles, Jorge Amado, Milton Hatoum e Daniel Galera, além de escritores estrangeiros, como José Saramago e Charles Bukowski.

Mas a literatura não está só na decoração: uma estante expõe aproximadamente 300 livros que podem ser emprestados por qualquer cliente: basta escolher um título, deixar outro no lugar e, depois de ler, pegá-lo de volta. Na espécie de biblioteca colaborativa estão autores diversos, entre eles, é claro, Clarice Lispector.

A escritora brasileira que nasceu na Ucrânia foi a principal inspiração para o local, conta Ricardo Silva, um dos sócios. "Gosto muito da obra da Clarice. Eu trabalhei no mercado editorial, então já tive essa ligação forte com a literatura. Quando decidi abrir o café, uma das primeiras ideias que me veio à cabeça era ter uma estante de livros, antes mesmo da máquina de tirar café", diz. "É um espaço de fomentação de leitura."

O nome da personagem de "A Hora da Estrela" batiza ainda uma das bebidas do cardápio, que leva no preparo rapadura, doce que saciava a fome de Macabéa. Custa R$ 14 e combina cumaru, leite e expresso —na versão fria, é feito com cold brew e a calda doce fica no fundo do copo, para ser misturada.

Grandes autores batizam também os drinques do Mena Gastrobar, restaurante e bar no Tatuapé, na zona leste da capital, comandado pela chef Jessica Teixeira, outra apaixonada pela literatura. Os coquetéis são assinados pela bartender Stephanie Marinkovic, do Espaço 13.

Na hora de desenvolver as bebidas, Marinkovic buscou um destilado do país de origem de cada escritor. No caso do drinque Oscar Wilde, autor do clássico "O Retrato de Dorian Gray", a bartender usou o uísque Jameson, criado na Irlanda. Ele é combinado a um xarope de especiarias, gengibre, noz-moscada e picles de rabanete. Por cima, vão gotinhas de azeite —custa R$ 27,30.

A goiana Cora Coralina é representada pela cachaça, em um coquetel preparado com uma pitada floral de xarope de sabugueiro, concentrado de limão com gengibre e cumaru. O toque final fica por conta da caneca de barro onde a receita é servida. A bebida sai por R$ 25,30.

Outras sugestões dedicam o nome a William Shakespeare e à catarinense Sarah Westphal. Na carta, a descrição dos drinques vem acompanhada de trechos de livros. Quem pede um Cora Coralina, por exemplo, pode dar uns goles e ficar refletindo sobre o verso que diz: "Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores".

Macabéa Café
R. Jesuíno Pascoal, 36, Vila Buarque, região central, WhatsApp (11) 96323-6753, Instagram @macabeacafe


Macondo Raízes Colombianas
R. Cardeal Arcoverde, 1.361, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 98616-4184, Instagram @macondo_raizes_colombianas


Mena Gastrobar
Pça. Ituzaingo, 42, Vila Regente Feijó, região leste, tel. (11) 2672-2011 e WhatsApp (11) 94707-4381, Instagram @menagastrobar

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