Bexiga tem de padarias centenárias a bares com estúdio de tatuagem em circuito gastronômico

O reduto de imigrantes em São Paulo mistura endereços tradicionais e casas descoladas

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São Paulo

Ela é conhecida por abrigar cantinas tradicionais e a paróquia do bairro, mas a rua Treze de Maio também guarda, no número 174, um bar onde é possível beber bons drinques em meio a quinquilharias e objetos antigos. Mais adiante, na mesma via, uma casa com estética moderninha recebe clientes dispostos a beber e, quem sabe, tatuar o corpo.

Quem andar mais alguns metros pode provar uma tradicional pizza napolitana com receita importada da Itália há seis décadas. Ou, mais adiante, jantar em um restaurante de cozinha contemporânea com assinatura de chef.

Estamos no Bexiga, um pedaço da zona central de São Paulo, reduto de teatros, padarias centenárias e samba de rua, que abrigou descendentes de africanos, imigrantes italianos e nordestinos ao longo de sua formação. Essa diversidade cultural é refletida no circuito gastronômico da região, que reúne sabores de diferentes cantos e na qual endereços tradicionais convivem com casas mais jovens.

O bairro foi escolhido para abrigar a nova encarnação do Caos Bar e Antiguidades, espaço que abriu no Baixo Augusta e que depois migrou para a região Santa Cecília.

Em julho de 2020, Roberto Lacerda comprou o Caos de seu antigo dono. A casa até chegou a reabrir no endereço da Santa Cecília, mas a pandemia atrapalhou os planos e as portas foram fechadas de novo. Insatisfeito com a localização, o sócio-proprietário procurou por um novo local. "Fui parar no meu bairro mais querido", diz.

Ele, que anda pelo Bexiga desde que era adolescente, nos anos 1980, diz que a quantidade de bares e de pessoas que frequentam o local diminuiu, mas que a energia ainda é a mesma de décadas atrás.

Apesar da pandemia, bares e restaurantes sobreviveram na região, que também assistiu ao retorno de endereços. É o caso do Clã Destino Bar, que existia ali desde 2016 e fechou as portas em dezembro de 2019, poucos meses antes da Covid-19 começar a se espalhar pelas ruas da capital.

O espaço, querido entre os moradores, deixou saudades. Foram os antigos clientes do bar que avisaram a Kleber Christian, conhecido como Presunto, e William Alexandre, seu irmão, que o imóvel em que funcionava estava sendo alugado novamente.

Com isso, eles decidiram trazer o Clã Destino de volta à vida em outubro. "É um lugar mágico", diz Presunto sobre o Bexiga. O nome do bar, um trocadilho com a palavra clandestino, conta ele, foi criado para ser o destino do encontro de diferentes tribos da cidade.

Na esquina da rua Manoel Dutra fica um cantinho do Nordeste. O Rancho Nordestino, que surgiu nos anos 1980, é comandado por Raimundo Nonato, que começou como cliente e virou dono do local.

Seu Raimundo trouxe do Ceará a paixão pela cachaça e decidiu oferecer uma variedade da bebida aos conterrâneos que moravam na área. Hoje, serve cerca de 50 tipos de pinga —ele diz que já provou todas. No cardápio, estão receitas típicas, como baião de dois e paçoca de carne de sol, os carros-chefe.

Uma das principais influências da gastronomia do Bexiga é a italiana. Em funcionamento desde 1896, a padaria Italianinha foi fundada por Filippo Ponzio, que veio do sul daquele país e trouxe na bagagem receitas de pães de fermentação natural que atravessam gerações.

Hoje comandada pela família Franciulli, a casa centenária mantém as tradições e oferece pratos, doces e produtos típicos italianos. O destaque é o pão recheado com linguiça calabresa.

Outra receita tradicional que circula pelo bairro é a pizza marguerita do Speranza. A redonda napolitana é moda na cidade atualmente, mas já faz seis décadas que o casal Francesco e Speranza Tarallo trouxe da Itália esse estilo de fazer pizza, com massa aberta na mão e assada no forno a lenha em alta temperatura.

Por lá, a marguerita é raiz: com bordas generosas e tostadas, cobertura de molho de tomate artesanal, muçarela e manjericão, e não cede a alterações dos clientes —ai de quem pedir uma com dois sabores. A grande sai por R$ 86.

Na mesma Treze de Maio, opera um espaço que combina bons drinques e tatuagens. Com decoração descolada, o Espaço 13 surgiu em 2014, mais como um bar de chope e cerveja artesanal. Foi com a entrada de Stephanie Marinkovic, hoje sócia, que o local começou a oferecer os drinques que fazem sua fama.

Homem passa em frente a um sobrado de tijolinhos
Fachada do Espaço 13, no Bexiga, misto de bar de coquetelaria e estúdio de tatuagem - Keiny Andrade/Folhapress

No número 250 da rua Santa Madalena funciona um bar de acento latino, o Sol y Sombra, que abriu há apenas dois anos. Cachaça de jambu, pisco, arepa e bondiola são alguns dos itens do cardápio que, segundo o proprietário Lucas Pereyra, fazem do local um espaço para experimentar sabores da América Latina.​

Próximo dali, o Jamile oferece uma cozinha contemporânea de pratos autorais do chef Henrique Fogaça. Do bar, saem drinques preparados pelo premiado bartender Ale D'Agostino.

O Bexiga foi o endereço escolhido pelo jurado do Masterchef para abrigar seu restaurante que ocupa, desde 2015, um prédio reformado de três andares. A decoração moderna contrasta com as casinhas antigas da região. Do terraço, é possível observar o bairro, que continua a se transformar sem perder a pluralidade.

Onde comer e beber no Bexiga

Caos Bar e Antiguidades
R. 13 de Maio, 174, Bexiga, tel. (11) 94019-0994

Clã Destino Bar
R. Maria José, 423, Bexiga, tel. (11) 98887-5133. Delivery via telefone

Espaço 13
R. 13 de Maio, 798, Bexiga. Instagram @e.treze

Jamile
R. 13 de Maio, 647, Bexiga, tel. (11) 2985-3005. Delivery via iFood e Rappi

Padaria Italianinha
R. Rui Barbosa, 121, Bexiga, tel. (11) 3141-4166 e (11) 3289-2838

Rancho Nordestino
R. Manoel Dutra, 489, Bexiga, tel. (11) 3106-7257. Delivery via iFood, James Delivery, Rappi, Uber Eats e telefone

Sol y Sombra
R. Santa Madalena, 250, Bexiga. Instagram @solysombrabar

​Speranza
R. 13 de Maio, 1.004, Bexiga, tel. (11) 3288-3512. Delivery via iFood, Rappi, Uber Eats e telefone

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