Já gastei horas buscando restaurantes para não usar aplicativos de delivery

Apps proporcionam facilidade, mas são injustos na relação entre restaurantes, entregadores e clientes

São Paulo

Antes da pandemia, eu quase nunca comia em casa. Tenho horror a fazer compras no mercado, não levo jeito para pensar diferentes cardápios diários e considerava o tempo para cozinhar muito curto entre trabalhar e dormir. Por isso, além do café da manhã, apenas pequenos lanches e aventuras doceiras —adoro testar receitas de bolos e tortas— eram feitos na cozinha do exíguo apartamento onde moro sozinha.

Mas aí veio a pandemia, e fui impedida de comer nos pê-efes da rua da Folha ou de experimentar as novidades nos salões dos restaurantes. O jeito foi me vestir tal qual uma astronauta e enfrentar, de 20 em 20 dias, a ida ao supermercado com uma lista planejada por horas e disposição física para carregar mochila cheia e sacolas pesadas.

Aos 15 meses de pandemia, sou incapaz de me sentar fora de casa e tirar a máscara para comer, embora as regras da cidade permitam isso. Também não uso aplicativos de delivery, por ser contra a lógica das relações que eles estabelecem com restaurantes, entregadores e clientes.

O que me resta, quando canso de minha comida, é procurar restaurantes que tenham serviço de entrega própria.

Mesmo numa cidade enorme como São Paulo e morando no centro, a coisa não é simples. Tento me lembrar de restaurantes dos quais gosto, busco seus perfis nas redes sociais, e ali me informo sobre como operam suas entregas. Quando não os encontro, busco pelos telefones.

Se estou de folga, prefiro me paramentar para o fim do mundo e ir eu mesma buscar a comida em algum restaurante nas cercanias dos Campos Elíseos, onde moro. Também passei a agendar entregas com pessoas que cozinham “para fora” na pandemia, como a Priscila Jung (@priscila.jung no Instagram), que oferece semanalmente pratos da culinária coreana, e o Arce Correia (@saborearceoficial), que tem cardápio de tradições brasileiras para os fins de semana.

Um dos restaurantes que mais frequentava na época do trabalho presencial, o Aldino’s, entrega seu farto virado à paulista ou sua deliciosa feijoada pelos arredores. A tradicional casa armênia Effendi também tem um entregador que leva suas esfihas por toda a capital. O renomado japonês Aizomê me permitiu noites de extravagância comendo no sofá os pratos de um dos mais respeitados endereços da cidade.

Mas já gastei horas de uma noite de sexta-feira fazendo ligações em busca de um hambúrguer que viesse até aqui sem aplicativos. Já vasculhei dezenas de sites e perfis atrás de um ceviche. Já programei todo um fim de semana pensando em ir a pé apanhar um cachorro-quente perto da praça da República depois de não encontrar o sanduíche em minhas buscas nas redes.

No meu aniversário, consegui um bolo delicioso e lindamente decorado, muitos níveis acima dos que eu conseguiria preparar, que chegou intacto do Tatuapé graças ao chef-pâtissier Cesar Yukio, da confeitaria Hanami.

Nesses casos, as entregas saem mais caras do que a média das taxas oferecidas pelos aplicativos? Sim, muitas das vezes. Mas, falando sem intermediários com os restaurantes, evito que sejam cobradas deles comissões que podem chegar a mais de 20% da compra e espero estar ajudando a reforçar vínculos entre entregadores e restaurantes.

CASAS CITADAS

Aizomê
Tel. (11) 2222-1176

Aldino’s
Tel. (11) 3331-5804

Effendi
Tel. (11) 3228-0295

Hanami
Tel. (11) 2675-9300

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